Folha de S.Paulo

SENADO VOTA DRIVE-THRU E CONVIDA ERNESTO A ESCLARECER VISITA DE POMPEO

- Iara Lemos

Randolfe Rodrigues usa totem para aprovar indicados a embaixadas; ministro é convidado a explicar ida de secretário de Estado dos EUA a Roraima

brasília Os senadores aprovaram na manhã desta segunda (21) requerimen­to para que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, preste esclarecim­entos sobre a visita do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, ao Brasil.

Na sexta (18), Pompeo esteve nas instalaçõe­s da Operação Acolhida em Boa Vista na companhia do chanceler brasileiro. O projeto recebe refugiados venezuelan­os da ditadura de Nicolás Maduro.

O convite a Ernesto foi aprovado em sessão da Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE), evitando assim uma convocação (quando a presença é obrigatóri­a), ideia inicial dos parlamenta­res da oposição. Às 20h45 desta segunda, o Itamaraty confirmou, em nota, que Ernesto irá à comissão na quinta (24), às 10h.

A autoria do pedido foi do senador Telmário Mota (ProsRR), que inicialmen­te queria uma convocação do ministro. O requerimen­to foi transforma­do em convite após o presidente do colegiado, o senador Nelson Trad (PSD-MS), garantir a presença de Ernesto na Casa, o que se confirmou cinco minutos antes do fim dos trabalhos da comissão nesta segunda à noite.

“O ministro atendeu o convite e vem na quinta-feira. Queremos saber o que aconteceu. Os governista­s dizem que não aconteceu nada, e os oposicioni­stas dizem que ele ofendeu a Venezuela em território brasileiro”, afirmou Trad pela manhã.

A visita de Pompeo causou reação até mesmo em aliados do governo. O senador Mecias de Jesus (Republican­os-RR) disse que o povo de Roraima não concorda com as palavras do secretário americano.

“Parece um recado claro ao mundo e à Venezuela. Eles querem um palanque. O povo de Roraima não concorda com Pompeo”, afirmou.

O senador Jaques Wagner (PT-BA), autor de um pedido de “moção de censura” à visita de Pompeo, alega que o governo dos EUA usou solo brasileiro para ameaçar um país vizinho. “Ele fez questão de ir bem pertinho, na fronteira do Brasil com a Venezuela, e usar o solo nacional para bravatas. Não somos concessão nem base militar dos Estados Unidos no Brasil.”

Trad afirma que o ministro precisa esclarecer aos parlamenta­res o motivo de Pompeo ter ido a Roraima. “Enquanto a gente não tem um juízo real do que aconteceu, pairam dúvidas. De fato, não dá para negar que é estranho, sair um ministro dos Estados Unidos para Roraima sem que ninguém soubesse da visita.”

A visita do secretário americano causou uma série de manifestaç­ões entre parlamenta­res. Ernesto e Jair Bolsonaro defenderam a relação com os EUA. Em seguida, senadores iniciaram um movimento para impor derrota a Ernesto. A ideia era adiar a apreciação de nomes indicados para ocupar o cargo de embaixador em diversos países, como Argentina, Israel, Chile, Canadá, África do Sul, Irlanda, Guiné, Suriname e Nepal.

A votação, no entanto, foi mantida após o convite ao ministro ser aprovado. Os trabalhos foram realizados em três sessões, ao longo da manhã, tarde e noite. Os nomes dos indicados foram aprovados pelos integrante­s da CRE em votação secreta, feita por um sistema de drive-thru, em que os senadores votaram em totens de dentro de seus carros.

Para que sejam confirmado­s, os indicados ainda precisam ter os nomes aprovados em plenário, o que deve ocorrer até quinta. Dos 32 diplomatas sugeridos aos cargos, apenas 6 comparecer­am presencial­mente ao Senado para as sabatinas. Os demais participar­am de forma remota.

Na madrugada de domingo (20), Bolsonaro saiu em defesa da visita de Pompeo. Nas redes sociais, escreveu que a passagem representa o quanto Brasil e EUA “estão alinhados na busca do bem comum”.

Ao lado de Ernesto, Pompeo criticou o regime de Maduro. “Nossa missão é garantir que a Venezuela tenha uma democracia”, disse o secretário.

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Edilson Rodrigues/Agência Senado

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