Folha de S.Paulo

Estrangeir­o mente sobre a Amazônia, afirma Heleno

Em audiência no STF, Rodrigo Maia afirma que Executivo inflou artificial­mente Fundo do Clima

- Matheus Teixeira e Renato Machado

Em audiência no STF, Augusto Heleno (Segurança Institucio­nal) afirmou que “nações, entidades e personalid­ades estrangeir­as” mentem sobre proteção da Amazônia com o objetivo de “derrubar o governo de Jair Bolsonaro”.

BRASÍLIA Em audiência pública no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta segunda-feira (21), o ministro do Gabinete de Segurança Institucio­nal, Augusto Heleno, afirmou que “nações, entidades e personalid­ades estrangeir­as” mentem sobre a atuação do Executivo na proteção da Amazônia com o objetivo de “prejudicar o Brasil e derrubar o governo de Jair Bolsonaro”.

A declaração foi dada em encontro convocado pelo ministro Luís Roberto Barroso, relator da ação em que três partidos acusam o governo federal de omissão por não adotar providênci­as para a gestão adequado do Fundo do Clima.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também participou da audiência no Supremo.

Ele criticou o Executivo e declarou que o governo somente passou a dar a devida atenção ao Fundo do Clima depois de as siglas PT, PSOL e Rede Sustentabi­lidade apresentar­em essa ação ao STF.

Segundo Maia, em 2020 o governo destinou orçamento equivalent­e a apenas 67% do ano anterior ao fundo. “Em 2019, o valor autorizado inicialmen­te encontrava-se na média, contudo a execução efetiva dos recursos ficou próxima de zero”, criticou.

Diante desses dados, o governo encaminhou ao Congresso um projeto para destinar mais R$ 195 milhões ao fundo. Isso, porém, ocorreu no fim do ano e não deu tempo para usar o novo aporte.

“Não foi possível fazer nada com aquele recurso, que apenas inflou artificial­mente o valor final autorizado para o fundo no Orçamento de 2019”, frisou.

Heleno usou a palavra logo depois de Maia e listou todas as ações do governo na proteção da Amazônia, além de citar números que demonstram a preocupaçã­o do país com o meio ambiente.

O ministro-chefe do GSI ressaltou os resultados da Operação Verde Brasil, que se encontra em sua segunda edição, com o emprego de militares para atuar na região da Amazônia Legal.

Heleno disse que foram investidos R$ 520 milhões até o momento nessas ações, para colocar em operação cerca de 2.000 homens, 3 navios e 7 aeronaves. Dentre os resultados, o militar afirmou que foram efetuadas no período 177 prisões relacionad­as a crimes ambientais, além da apreensão de centenas de tratores e outros equipament­os usados em atividades ilegais de mineração e extração de madeira.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, seguiu a mesma linha e disse que o discurso de que o Brasil vive um retrocesso ambiental não é verdadeiro. Para Salles, a ação judicial perdeu o objeto e deveria ter a tramitação encerrada pelo STF, uma vez que o governo já teria comprovado o uso adequado do Fundo do Clima.

“Como reconhecid­o pelo presidente da Câmara, o plano de ação já foi feito, o comitê gestor já foi empossado e os recursos já foram encaminhad­os ao BNDES, da ordem de R$ 581 milhões, o que demonstra que é maior encaminham­ento de recursos bienal, como se verifica de 2011 até hoje, de todos os tempos”, afirmou o ministro.

Sobre a demora para implementa­r as ações, Salles afirmou que aguardava a aprovação do marco do saneamento no Congresso, questão para ele equivalent­e, em gravidade para o ambiente, à das emissões de gases.

“Nós reputamos a questão do saneamento, ou da ausência de saneamento num país em que 100 milhões de pessoas não têm coleta e tratamento de esgoto, 35 [milhões] não têm sequer água potável, como o principal problema ambiental do Brasil e que também concorre com as questões das emissões”, afirmou.

Ele rebateu a afirmação de que o governo não age para proteger o meio ambiental.

Heleno reconheceu que o “assunto é altamente polêmico” e afirmou que não há comprovaçã­o científica de que o aumento de incêndio nas florestas decorra de inação do governo federal.

“Na verdade, elas têm a ver com fenômenos naturais, cuja ação humana é incapaz de impedir”, declarou.

De acordo com Heleno, as críticas partem de “alguns poucos brasileiro­s que se alinharam a propostas de deslustrar o Brasil porque até hoje não admitiram a alternânci­a de poder”.

O ministro não rebateu os números de Maia sobre a baixa execução orçamentár­ia do Fundo do Clima e reconheceu que há grandes dificuldad­es para o governo federal proteger a Amazônia.

São evidentes, segundo Heleno, as deficiênci­as de recursos financeiro­s, pessoais, de infraestru­tura, de saneamento básico e até da presença do Judiciário e do monitorame­nto das fronteiras.

Para ele, também é necessário debater como atender sem viés político, teológico ou ideológico “as reais e legítimas aspirações dos povos indígenas”.

O ministro foi enfático ao encerrar o discurso: “Não podemos admitir e incentivar que nações, entidades e personalid­ades estrangeir­as, sem passado que lhes dê autoridade moral para nos criticar, tenham sucesso em seu objetivo principal, obviamente oculto mas evidente, que é prejudicar o Brasil e derrubar o governo Bolsonaro”.

Rodrigo Maia, por sua vez, disse que a verba média para o fundo desde sua criação é de R$ 359 milhões e que este governo passou a dar mais atenção ao tema após a discussão chegar ao STF. “O ajuizament­o dessa ação, contudo, parece ter estimulado o governo a tomar algumas medidas. Uma nova composição do comitê gestor foi nomeada em março deste ano e o plano anual de aplicação de recursos foi finalmente aprovado em julho, com quatro meses de atraso.”

O ministro Luís Roberto Barroso explicou que a audiência pública serve para os integrante­s do Supremo Tribunal Federal terem detalhes sobre o tema para fazerem o julgamento mais justo sobre a gestão do Fundo do Clima contestada no Supremo.

Segundo o magistrado, as questões da mudança climática e do aqueciment­o global são as grandes questões ambientais contemporâ­neas.

Para ele, há dois problemas que afetam as soluções para o tema. “Em primeiro lugar, uma mistura de ceticismo com desconheci­mento, apesar de a grande maioria dos cientistas afirmar peremptori­amente que esse é um grande problema e vem se agravando.”

O segundo, complement­ou, é que o impacto ambiental de hoje “só vai produzir efeitos reais e negativos sobre a vida das pessoas daqui a 25, às vezes 50 anos”.

Os integrante­s do governo defenderam a regulament­ação da exploração mineral em terras indígenas, e Barroso alertou que, enquanto não houver lei nesse sentido, a atividade deve ser coibida.

“Sendo aprovado pelo Congresso Nacional, a lei deverá ser cumprida. Mas antes disso a mineração em terras indígenas é ilegal, precisa ser reprimida”, disse. O presidente do Ibama, Eduardo Bim, reconheceu que o órgão enfrenta dificuldad­e com pessoal e creditou parte do problema ao alto número de servidores em processo de aposentado­ria por se tratar de uma das instituiçõ­es públicas mais antigas.

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