Folha de S.Paulo

Em meio a críticas, secretaria é criada para preservaçã­o

- Renato Machado

“Retirar atribuiçõe­s desse órgão [ICMBio]e passá-las para uma secretaria específica do MMA [Ministério do Meio Ambiente] significa uma concentraç­ão de poder e um futuro de incertezas

Ascema (Associação de Servidores do Ministério do Meio Ambiente) em nota

BRASÍLIA O Ministério do Meio Ambiente (MMA) criou oficialmen­te nesta segunda (21) uma secretaria específica para os temas da Amazônia, em meio às críticas internacio­nais devido à alta dos desmatamen­to e queimadas na região.

A criação da pasta faz parte de uma alteração na estrutura do ministério, divulgada em 11 de agosto e publicada como decreto no dia seguinte.

A pasta ressaltou na ocasião que haveria um período de transição; no entanto a nova estrutura entra em prática somente nesta segunda.

A publicação no Diário Oficial da União apresenta a nomeação dos titulares para os cargos na secretaria.

A mudança na estrutura do Ministério do Meio Ambiente havia sido anunciada em um dos momentos de maior pressão internacio­nal, devido à alta no desmatamen­to na região da Amazônia Legal —as queimadas no Pantanal ainda não se mostravam um grande problema.

Algumas semanas antes, investidor­es estrangeir­os haviam se reunido com o vice-presidente Hamilton Mourão e cobrado ações contra os crimes ambientais na Amazônia.

Apesar de os dados de desmatamen­to de julho de 2020 mostrarem uma redução em relação ao mesmo mês do ano passado, o acumulado dos 12 últimos meses apontava um aumento de 34% —também em relação ao mesmo período anterior— segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

A Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais substitui a extinta Secretaria de Florestas e Desenvolvi­mento Sustentáve­l. O titular da secretaria segue o mesmo, Joaquim Alvaro Pereira Leite.

Quando anunciou a mudança na estrutura, em agosto, o Ministério do Meio Ambiente, comandado por Ricardo Salles, informou em nota que as mudanças seriam para ampliar a eficiência da pasta e dar maior relevância à Amazônia, ao clima e à áreas protegidas.

O número de secretaria­s do Ministério do Meio Ambiente permanece o mesmo, mas houve mudanças de competênci­as entre elas.

A pasta afirma que a Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais terá a competênci­a de coordenar as políticas de prevenção e controle do desmatamen­to ilegal, dos incêndios florte estais, das queimadas, de recuperaçã­o, de uso sustentáve­l e de redução da degradação da vegetação nativa em todos os biomas do país.

Em relação às outras mudanças, a Secretaria de Relações Internacio­nais passou a ser chamada de Secretaria de Clima e Relações Internacio­nais. Será comandada por Marcus Henrique Morais Paranaguá, que substitui Eduardo Lunaderlli Novaes —que passa a ser adjunto de secretário-executivo do ministério.

Também foi criada a Secretaria de Áreas Protegidas —a partir da antiga Secretaria do Ecoturismo— que vai gerenciar as unidades de preservaçã­o do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade). Seu titular, Andre Pitaguari Germanos, será mantido.

A publicação no Diário Oficial da União também informou a troca no comando da Secretaria de Biodiversi­dade, que passa a ser de responsabi­lidade de Maria Beatriz Palatinus Milliet. Ela substitui o brigadeiro Eduardo Serra Negra Camerini.

Inicialmen­te, quando as mudanças na estrutura foram anunciadas, servidores da pasta divulgaram nota com críticas às alterações.

Uma das críticas foi a criação de uma secretaria para cuidar das 334 unidades de conservaçã­o federais, o que na prática estaria esvaziando o ICMBio, que conta com mais de 1.700 servidores.

“Retirar atribuiçõe­s desse órgão e passá-las para uma secretaria específica do MMA significa uma concentraç­ão de poder e um futuro de incertezas”, afirmou em nota a Ascema (Associação de Servidores do Ministério do Meio Ambiente).

A Ascema também critica as “idas e vindas” na reformulaç­ão da estrutura do ministério. Citam a criação da Secretaria do Clima e Relações Internacio­nais, na prática, significa a recriação de uma outra secretaria, extinta pelo próprio ministro Ricardo Salles no ano passado.

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