Folha de S.Paulo

Brasileiro vence o IgNobel com pesquisa sobre beijo e desigualda­de

- Reinaldo José Lopes

SÃO CARLOS (SP) Conhecido por premiar os estudos que “primeiro fazem rir e depois levam a pensar”, o IgNobel, ou Nobel da pesquisa improvável, decidiu destacar o trabalho de um cientista brasileiro que se inspira em Darwin para entender a química dos relacionam­entos.

Marco Antonio Corrêa Varella, 38, cursou biologia na Unesp de Jaboticaba­l (SP) e fez mestrado e doutorado na USP, faturou o IgNobel de Economia de 2020. Ele e seus colegas demonstrar­am que, em países com maior desigualda­de de renda, os casais costumam trocar mais beijos na boca entre si, enquanto os países mais igualitári­os têm comportame­nto menos romântico. A análise, feita a partir de dados de 13 países de seis continente­s, saiu na revista especializ­ada Scientific Reports.

A psicologia evolucioni­sta tem como objetivo entender a mente e o comportame­nto humanos com base em motivações que teriam sido forjadas ao longo da evolução da Homo sapiens. Entender como e por que as pessoas escolhem seus parceiros é um tema central da área.

“A frequência do beijo parece ser um elemento importante para fortalecer o elo do casal em ambientes de muita desigualda­de, onde você pode estar muito bem na fita ou muito mal na fita, digamos, e pode surgir a tentação de abandonar o relacionam­ento em favor de uma opção melhor”, explica o pesquisado­r.

Junto com outros colegas do exterior, Varella também ganhou neste ano o prêmio Margo Wilson, oferecido pela Sociedade do Comportame­nto Humano e Evolução. No estudo, a equipe criou um índice para mapear os fatores que levam à formação de casais cujos membros normalment­e se parecem entre si (a semelhança, tanto física quanto mental e cultural, é o mais comum entre casais).

Brasileiro­s já tinham ganhado edições anteriores do prêmio em 2008 e 2017, em áreas como arqueologi­a e zoologia. Neste ano, houve ainda o destaque negativo para o Brasil na categoria Educação Médica. O presidente Jair Bolsonaro, junto com o americano Donald Trump e outros chefes de Estado que minimizara­m a pandemia, foram premiados por “ensinar ao mundo que políticos podem ter mais efeito sobre a vida e a morte do que cientistas e médicos”.

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