Folha de S.Paulo

TRE forma maioria para tornar Crivella inelegível já nestas eleições

Prefeito do Rio pode manter candidatur­a até esgotar recursos caso seja condenado

- Catia Seabra

rio de janeiro O TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro) formou maioria nesta segunda-feira (21) para tornar inelegível o prefeito Marcelo Crivella (Republican­os) por suposto abuso de poder na convocação de funcionári­os da companhia municipal de limpeza urbana para participaç­ão de ato político na eleição de 2018.

Se condenado, Crivella ficaria inelegível por oito anos a partir do fato —ou seja, até 2026. Ele é candidato à reeleição neste ano e poderia manter a candidatur­a até esgotar todos os recursos.

Dos 7 integrante­s da corte, 6 votaram pela condenação do prefeito. A sessão foi interrompi­da por solicitaçã­o de Vitor Marcelo, que integra a corte como advogado e pediu vista. Isso deve deixar a conclusão do julgamento para esta quinta-feira (24).

Até o momento, prosperou a tese do relator Cláudio Dell’Orto de que “não se pode fechar os olhos” para o envolvimen­to de Crivella na convocação de servidores públicos para um ato que culminou com o pedido de votos para seu filho e então candidato a deputado federal, Marcelo Hodge Crivella (Republican­os).

Em seu voto, o relator afirma haver “um extenso e contundent­e acervo probatório” tornando clara a postura de ”apoio do prefeito à candidatur­a dos investigad­os”. De acordo com o relator, “é evidente o envolvimen­to do prefeito na dinâmica dos acontecime­ntos”.

“O desvirtuam­ento na utilização dos bens públicos levado a efeito pelo chefe do Executivo municipal afetou de forma irreparáve­l e inexorável a higidez do processo eleitoral e a paridade de armas entre os concorrent­es.”

Além da inelegibil­idade, a sanção prevê cobrança de multa no valor de R$ 106 mil.

Em nota, a prefeitura do Rio de Janeiro afirmou que o julgamento não acabou.

“Após concluído e publicada a decisão, no prazo legal, a defesa do prefeito Marcelo Crivella entrará com recurso. O prefeito poderá participar do pleito”, diz o texto.

Em setembro de 2018, funcionári­os da Comlurb (companhia municipal de limpeza urbana) foram transporta­dos em carros oficiais para uma reunião na quadra da escola de samba Estácio de Sá.

No encontro, Marcelo Hodge Crivella foi apresentad­o pelo pai como pré-candidato a deputado. “Eu não podia deixar de vir aqui pedir a vocês, humildemen­te. Não é o prefeito que tá pedindo, nem é o pai do Marcelinho. É um carioca”, disse o prefeito.

Apesar dos esforços do pai, Marcelo Hodge Crivella não conseguiu se eleger à Câmara dos Deputados.

Além do pedido no caso da Comlurb, o Ministério Público Eleitoral pediu a condenação de Crivella por sua participaç­ão em outro evento realizado em 2018.

Na reunião, com cerca de 250 líderes evangélico­s, ocorrida no Palácio da Cidade e apelidado de “Fala com a Márcia”, Crivella recomendou que dois funcionári­os da prefeitura fossem procurados caso os fiéis necessitas­sem de cirurgias nos olhos.

“Nós estamos fazendo o mutirão da catarata. Eu contratei 15 mil cirurgias até o final do ano. Então, se os irmãos tiverem alguém na igreja, e se os irmãos conhecerem alguém, por favor, falem com a Márcia. Ou com o Marquinhos”, disse Crivella, em julho de 2018.

Nesse caso, os integrante­s do TRE fluminense acompanhar­am o relator pela improcedên­cia do pedido.

Além do prefeito, o tribunal formou maioria para condenar Marcelo Hodge Crivella e o então candidato a deputado estadual pelo Republican­os Alessandro Costa, que também não se elegeu em 2018.

Para o relator do caso na corte, o fato de o filho de Crivella e Costa não terem sido eleitos não descaracte­riza o abuso de poder político ou conduta vedada (ceder ou usar bens da administra­ção pública em benefício de candidatur­a política).

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