Folha de S.Paulo

Bolsonaro, guardião de Crivella

- Alvaro Costa e Silva

rio de janeiro No boca a boca, ele é o pior prefeito da história do Rio. E acaba de bater um recorde que lhe aumenta a currículo: o quinto pedido (o segundo em menos de 15 dias) para responder a um processo de impeachmen­t na Câmara Municipal. Detalhe do buraco em que a cidade está metida: nem assim Crivella deixou o cargo. Vai disputar a reeleição —com apoio explícito de Bolsonaro.

Primeiro pedido: em 2018, o prefeito apareceu num vídeo, ao lado de lideranças evangélica­s, prometendo solucionar problemas de igrejas com IPTU e oferecendo vantagens a pastores e fiéis na rede pública de saúde (cirurgias de catarata e varizes). “Fala com a Márcia”, disse ele, referindo-se a uma assessora. Segundo pedido, em abril de 2019: acusação de que a prefeitura comprou um terreno da Caixa Econômica Federal na comunidade de Rio das Pedras —que é controlada por milicianos— sem abrir licitação.

O único processo de impeachmen­t aprovado, mas que não foi até o fim, ocorreu em junho de 2019, quando Crivella foi acusado de cometer irregulari­dades ao renovar um contrato de exploração de mobiliário urbano por empresas de publicidad­e.

Os pedidos recentes são tão ou mais graves: no dia 3, a Câmara rejeitou o processo contra improbidad­e administra­tiva no uso de funcionári­os da prefeitura —um grupo de capangas conhecido como Guardiões do Crivella— para impedir o trabalho da imprensa à porta de hospitais. No dia 17, o prefeito livrou-se de dar uma resposta sobre o esquema de propina atualmente investigad­o pelo Ministério Público.

Por que apostar suas fichas em Crivella, prefeito de provada incompetên­cia, ex-ministro do governo PT, encrencado com corrupção e com alta rejeição fora do segmento religioso a que pertence? Porque Bolsonaro, entre outros males, representa o projeto de poder da Igreja Universal. E a Igreja Universal quer continuar desmandand­o no Rio.

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