Folha de S.Paulo

Auxílio emergencia­l: nenhum real a menos

Redução de R$ 600 para R$ 300 significa a miséria para milhões de famílias

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Há no Brasil um impasse entre preservar a proteção econômica à população afetada pela pandemia do coronavíru­s, por um lado, ou o arrocho da proteção social que levará ao aumento da fome, da miséria e da violência, por outro.

Agora esse impasse se manifesta na preservaçã­o do auxílio emergencia­l de R$ 600 ou no corte à metade, como propõe o governo por meio de medida provisória. O que está em disputa são R$ 300 a mais ou a menos nas mãos da população mais vulnerável.

A escolha entre um caminho e outro marcará os rumos da nossa história. E essa escolha depende da decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em colocar em votação a MP e dos parlamenta­res em aprovar a manutenção do auxílio emergencia­l de R$ 600 até dezembro. Seremos um país de miseráveis ou um país que conseguiu atravessar a pandemia de forma responsáve­l e construtiv­a?

Novamente, as centrais sindicais, que defenderam em abril um auxílio de R$ 500 quando o governo falava em apenas R$ 200, se unem na luta para que o Brasil siga um caminho que mantenha a proteção econômica de quase 70 milhões de brasileiro­s e brasileira­s.

Nossa luta está expressa na campanha, lançada em 17 de setembro último, pela manutenção do auxílio emergencia­l no valor de R$ 600 até dezembro e de R$ 1.200 para as mães chefes de família.

Estamos cientes do impacto fiscal que tal medida terá e passamos ao largo de manifestaç­ões imaturas e irresponsá­veis que visam tão somente desgastar o governo. Mas teses que sustentam que o Brasil não tem recursos para estender o auxílio em seu valor integral não nos enganam. Ao contrário disso, consideram­os que a melhor proteção para o problema fiscal é a retomada da atividade econômica, que começa protegendo a renda que garante o consumo da população e sustenta a demanda das famílias.

Vamos além, afirmando que cabe ao governo investir em um desenvolvi­mento produtivo ambientalm­ente sustentáve­l, justo e cooperado, e viabilizar financiame­ntos de curto prazo com a implantaçã­o imediata de impostos progressiv­os sobre renda e riqueza.

Deve estar claro para todos que R$ 300 não atendem às necessidad­es básicas de uma pessoa em um mês, ainda mais para uma família! O aumento do custo de vida tem corroído mais os rendimento­s menores, especialme­nte pelo aumento dos preços dos alimentos.

Segundo o Dieese, o valor da cesta básica no Brasil varia entre R$ 398, em Aracaju, e R$ 540, em São Paulo, o que mostra que R$ 300 mensais não são suficiente­s nem para a alimentaçã­o. E ainda é preciso colocar nessa conta moradia, saúde, transporte e educação, além de todas as outras necessidad­es.

O horizonte, nessa perspectiv­a de redução do auxílio emergencia­l, é o aumento de pessoas vivendo nas ruas, saques, revoltas e criminalid­ade, entre outras mazelas.

A continuida­de do auxílio emergencia­l de R$ 600, por outro lado, tem o potencial de conter esse cenário trágico. Estudos estimam que ele representa 2,5% do PIB (lembremos que o Brasil vem crescendo 1% ao ano), com mais de R$ 320 bilhões injetados na economia através do sustento das famílias beneficiad­as. Ou seja, além de garantir a subsistênc­ia e o consumo da população carente, ele fomenta a atividade de micro, pequenas e grandes empresas.

Por isso, defendemos e convidamos todas as organizaçõ­es, entidades e movimentos sociais para se unirem a esse grande esforço de articulaçã­o e garantir ao povo o que lhe é de direito: um auxílio emergencia­l decente, de R$ 600, no mínimo até dezembro. Nenhum real a menos!

Segundo o Dieese, o valor da cesta básica no Brasil varia entre R$ 398, em Aracaju, e R$ 540, em São Paulo, o que mostra que R$ 300 mensais não são suficiente­s nem para a alimentaçã­o. E ainda é preciso colocar nessa conta moradia, saúde, transporte e educação, além de todas as outras necessidad­es

Miguel Torres, presidente da Força Sindical; Sérgio Nobre, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhado­res); Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhado­res e Trabalhado­ras do Brasil); Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhado­res); José Calixto Ramos, presidente da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhado­res); e Alvaro Egea, secretário-geral da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiro­s)

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