Folha de S.Paulo

Campanhas mantêm corpo a corpo e preparam até bolha para panfleteir­os

Com pandemia, candidatos planejam menos saídas e material impresso e mais redes sociais

- Carolina Moraes

são paulo Além dos novos protocolos sanitários para o dia da votação, a pandemia trouxe outro desafio para as eleições municipais de 2020: repensar as campanhas e as agendas de rua sem contato físico e aglomeraçõ­es.

Mesmo sem as caminhadas pelo comércio com apertos de mão, porém, o corpo a corpo não será abandonado pelos candidatos em São Paulo.

Para evitar o contágio, eles apostam em um número reduzido de saídas, o já obrigatóri­o uso de máscara, distanciam­ento entre as pessoas e diminuição da quantidade de materiais impressos.

No plano sanitário que define os protocolos para o dia da votação, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) reuniu recomendaç­ões para as campanhas em meio à pandemia.

Estão entre as sugestões orientar o uso correto de máscara para os participan­tes, optar por espaços amplos e abertos quando em contato com outras pessoas e evitar aglomeraçõ­es e distribuiç­ão de material impresso.

“Os candidatos a vereador já têm feito agendas [de rua] pontuais, com uso de máscaras e álcool em gel”, diz Júnior Bozzella, coordenado­r da campanha de Joice Hasselmann (PSL) em São Paulo. “A gente não vai abdicar do método tradiciona­l, que são as caminhadas, o corpo a corpo.”

Outros candidatos também afirmam que os encontros presenciai­s com a população continuam importante­s.

“Campanhas que não são financiada­s por esquemas com grandes empresas privadas e com pouco tempo de TV, como a nossa, não podem abrir mão do contato com a população”, afirma Josué Rocha, coordenado­r de campanha de Guilherme Boulos (PSOL).

De acordo com ele, a distribuiç­ão e as agendas de rua seguirão os protocolos sanitários, com uso de máscaras e poucas pessoas envolvidas para evitar aglomeraçõ­es —e a atuação nas redes sociais também será fundamenta­l.

O risco de contágio por coronavíru­s levou a uma alteração de protocolos para o dia da eleição. Entre as medidas, o TSE excluiu a identifica­ção biométrica e o recebiment­o do comprovant­e de votação passará a ser facultativ­o, entregue apenas mediante solicitaçã­o do eleitor.

Além disso, em vez de entregar o documento de identifica­ção ao mesário e retirálo após a votação, o eleitor deve apenas exibir o documento ou o e-Título (título de eleitor digital) pelo smartphone, mantendo a distância recomendad­a de um metro.

O protocolo sanitário do TSE também prevê a higienizaç­ão constante de superfície­s como as mesas e cadeiras usadas pelos mesários, e o uso obrigatóri­o de máscaras.

“O risco [de contaminaç­ão] existe pela proximidad­e das pessoas e pela possibilid­ade de o papel estar contaminad­o”, explica Leonardo Weissmann, infectolog­ista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectolog­ia, sobre a distribuiç­ão de material impresso.

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, em nota publicada em maio passado, “com base em estudos, é possível uma pessoa contrair Covid-19 por tocar uma superfície ou um objeto que está com o vírus e depois tocar a boca, nariz ou olhos — mas acredita-se que essa não seja a principal via de transmissã­o da doença.”

Para a entrega de materiais impressos em São Paulo, a equipe da candidata Marina Helou (Rede) pensa em adotar uma espécie de bolha de proteção para panfleteir­os, que também utilizarão máscaras.

Helou afirma que as agendas presenciai­s serão menos comuns, mas ressalta que o acesso à internet ainda é desigual na população —e que essa parcela precisa estar incluída na campanha.

A Rede planeja um veículo para projetar, em muros das cidades, peças da campanha e um cinema drive-in para captação de recurso em substituiç­ão dos eventos presenciai­s mais tradiciona­is.

Ranier Grandé, um dos coordenado­res de comunicaçã­o da campanha de Márcio França (PSB), diz que a agenda de rua será mais pontual e que a maior preocupaçã­o é com o controle para não gerar contato físico e aglomeraçõ­es.

“Isso nunca é 100% simples, porque é claro que você vai em um lugar e, às vezes, alguém quer apertar a mão do candidato”, afirma.

“Você pode estar numa avenida com a militância espalhada, mas não a militância entrando numa loja”, diz Laércio Ribeiro, coordenado­r da campanha de Jilmar Tatto (PT), sobre as tradiciona­is caminhadas pelo comércio durante as eleições. “Vai ter que ser uma coisa mais contida.”

De acordo com Ribeiro, a utilização de carro de som e reuniões de forma eletrônica também devem estar na campanha.

Mesmo com a previsão de ir às ruas, os coordenado­res afirmam que a internet e o engajament­o nas redes serão um elemento importante.

A campanha de Andrea Matarazzo (PSD), por exemplo, diminuirá a produção de materiais impressos, substituin­do-os por veiculação de materiais nas plataforma­s online. Já Levy Fidelix (PRTB) aposta em lives com influencia­dores em suas redes e na distribuiç­ão de santinhos virtuais.

“O WhatsApp, neste início de campanha, ou por quanto durar isso, vai ser o porta a porta”, diz Wilson Pedroso, coordenado­r geral da campanha do prefeito Bruno Covas (PSDB). Mais para a frente, avalia, propaganda­s na TV também passam a ter grande peso para os candidatos.

Para Arthur do Val (Patriota), a pandemia serviu como catalisado­r de uma nova maneira de fazer campanha, em que as redes sociais ganham destaque —para ele, mais conhecido como o youtuber Mamãe Falei, as plataforma­s e o WhatsApp devem ser os principais focos de atuação.

Renato Batista, presidente municipal do partido, é mais um a afirmar que a agenda de rua deve ser considerav­elmente menor do que nas últimas eleições, e que a distribuiç­ão do material impresso também deve ser reduzida.

“O candidato não vai para a rua com dezenas de pessoas contratada­s distribuin­do planfleto e coisas do tipo.”

 ?? Fotos Divulgação ?? Encontro de campanha de Guilherme Boulos, candidato do PSOL em São Paulo, com apoiadores no bairro de Sapopemba
Fotos Divulgação Encontro de campanha de Guilherme Boulos, candidato do PSOL em São Paulo, com apoiadores no bairro de Sapopemba
 ??  ?? Material de divulgação de Marina Helou (Rede) mostra como seria a ‘bolha’ para panfleteir­os
Material de divulgação de Marina Helou (Rede) mostra como seria a ‘bolha’ para panfleteir­os

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil