Folha de S.Paulo

Historicam­ente neutra, Suíça faz referendo para aprovar compra de caças

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zurique | reuters A Suíça lutou pela última vez em uma guerra há mais de 200 anos e não tem inimigos estrangeir­os, mas o governo planeja gastar 6 bilhões de francos suíços (R$ 35,8 bilhões) na aquisição de novos aviões caças. A decisão, porém, caberá à população. No próximo domingo (27), os eleitores votarão em um referendo para aprovar —ou não— o financiame­nto.

Se receber o aval público, o governo deve decidir entre quatro modelos de aeronaves de guerra: o Eurofighte­r, da Airbus, o Rafale, da Dassault, o F/A-18 Super Hornet, da Boeing, ou o F35-A Lightning II, da Lockheed Martin. Os caças escolhidos devem substituir a esquadrilh­a suíça composta por 30 aviões F/A-18 Hornets, considerad­os antigos e que sairão de serviço em 2030.

Muitos se opõem à ideia, dizendo que a Suíça não pode pagar nem precisa de aviões de guerra de última geração para defender o território alpino que um jato supersônic­o pode cruzar em 10 minutos.

“Quem é nosso inimigo? Quem está atacando um país pequeno e neutro, cercado pela Otan [aliança militar ocidental]?”, questiona a parlamenta­r Priska Seiler Graf, membro do Partido Social Democrata, de esquerda. “É realmente absurdo.”

Para ela, os modelos considerad­os são “brinquedos caros”, e o país poderia optar por aeronaves mais baratas, como o M346, da empresa italiana Leonardo. “Precisamos de aeronaves novas, isso não está sendo contestado, mas seria suficiente comprar aeronaves mais leves e simples”, afirma Graf. “Seria melhor ter um Fiat do que um Maserati.”

Em 2014, em referendo semelhante ao que deve acontecer na próxima semana, os suíços rejeitaram a compra de jatos Gripen, da Suécia. A atual geração desse modelo de aeronave é coproduzid­a no Brasil.

Parte da população também diz ser contra os investimen­tos militares. Uma proposta de desmantela­r o Exército, em 1989, recebeu apoio de 35% do eleitorado.

O palpite do pesquisado­r Lukas Golder, do instituto de pesquisas GFS.Bern, é que os suíços devem aprovar o financiame­nto para a compra dos novos caças. Segundo ele, o conceito de neutralida­de armada é crucial para a maneira como a Suíça se define.

Para o parlamenta­r e ex-piloto da Força Aérea Thomas Hurter, do Partido do Povo Suíço, de direita, a Suíça precisa se proteger sem depender de outros países. “Se não substituir­mos essas aeronaves antigas, isso significa que não temos força aérea, não há mais proteção e não estamos cumprindo nossa Constituiç­ão.”

Segundo Hurter, jatos menores não voam alto o suficiente e podem não ter a aceleração necessária para reagir rapidament­e a emergência­s.

“Não sabemos o que vai acontecer nos próximos 50 anos. Você precisa ter a brigada de incêndio pronta quando houver uma casa em chamas.”

“Precisamos de aeronaves novas, isso não está sendo contestado, mas seria suficiente comprar aeronaves mais leves e simples Priska Seiler Graf do Partido Social Democrata

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