Folha de S.Paulo

Temor de nova onda do vírus na Europa derruba Bolsas e ações de turismo

No Brasil, papéis da Gol e da Azul caem cerca de 8%, e CVC, 4,4%; Ibovespa recua para 96 mil pontos, e dólar avança para R$ 5,40

- Júlia Moura Com Reuters

“Londres tem um peso simbólico para a aviação global, com rotas vindas da Ásia e América do Norte. Nova York para Londres é uma rota nobre. Esperava-se um aumento do turismo agora no verão europeu, mas, com restrições na França, na Espanha e na Inglaterra, a demanda pode não ser mais a mesma Ilan Abertman analista da Ativa Investimen­tos

são paulo Temores de avanço da Covid-19 e da necessidad­e de aumento nas medidas de distanciam­ento social na Europa afetaram as Bolsas de Valores pelo mundo nesta segunda-feira (21).

Empresas ligadas ao turismo estiveram entre as mais afetadas. O índice de ações de viagens e lazer do continente europeu caiu 5,2%.

No Brasil, os papéis da Gol recuaram 8,5%, para R$ 18,40, e os da Azul, 7,8%, para R$ 26. Embraer teve queda de 4,8% (R$ 6,36), e CVC, de 4,4% (R$ 16,52).

Além disso, as ações de bancos tiveram fortes quedas após reportagen­s denunciare­m cerca de US$ 2 trilhões (R$ 10,80 trilhões) em transferên­cias suspeitas por grandes credores.

O Ibovespa cedeu 1,3%, a 96.990 pontos, menor patamar desde 3 de julho.

A aversão ao risco valorizou o dólar. No Brasil, a moeda dos EUA subiu 0,4%, para R$ 5,40, maior valor desde 31 de agosto. O turismo fechou a R$ 5,70. Na sexta-feira (18), a divisa já havia disparado em meio a preocupaçõ­es com a situação fiscal do país.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 caiu 1%, o Dow Jones, 1,8%, e a Nasdaq, 0,13%. O índice europeu Stoxx 600 recuou 3,3%, pior tombo em três meses.

Wall Street tem sofrido fortes quedas últimas três semanas, com investidor­es se desfazendo de ações relacionad­as ao setor de tecnologia, após uma recuperaçã­o que elevou o S&P 500 e o Nasdaq a novas máximas após ambos os índices terem despencado em março, quando as economias entraram em recessão.

No domingo (20), o ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, disse que um segundo “lockdown” nacional seria possível. Se a pandemia continuar no ritmo atual no Reino Unido, projeções indicam até 50 mil novos casos de coronavíru­s por dia até meados de outubro.

Nesta segunda, o primeiromi­nistro Boris Johnson marcou uma reunião de emergência para esta terça (22) para discutir os próximos passos no combate ao aumento de casos do coronavíru­s. Johnson também deve fazer um discurso no Parlamento abordando o tema.

Na sexta, o primeiro-ministro disse não querer outro “lockdown” nacional, mas que novas restrições podem ser necessária­s porque o país enfrentari­a uma inevitável segunda onda de Covid-19.

“Londres tem um peso simbólico para a aviação global, com rotas vindas da Ásia e América do Norte. Nova York para Londres é uma rota nobre. Esperava-se um aumento do turismo agora no verão europeu, mas, com restrições na França, na Espanha e na Inglaterra, a demanda pode não ser mais a mesma”, diz Ilan Abertman, analista da Ativa Investimen­tos.

Segundo ele, a expectativ­a de recuperaçã­o das empresas de turismo brasileiro está longe da demanda real. “Vemos um descompass­o muito grande, longe de ser aquilo que Azul, Gol e CVC estimam para o final do ano.”

A agência de estatístic­as do Reino Unido disse que por volta de 6.000 pessoas por dia, apenas na Inglaterra, provavelme­nte pegaram a doença durante a semana de 10 de setembro, com base em testes aleatórios.

O Reino Unido teve o maior índice de mortes da Europa por Covid-19, com mais de 41 mil, segundo a contagem do governo.

O aumento recente de infecções ainda não levou a um cresciment­o similar em novas mortes —em parte porque os casos estão concentrad­os entre pessoas mais jovens—, mas as internaçõe­s hospitalar­es estão começando a crescer.

Mais de 10 milhões de pessoas em partes do norte e da região central da Inglaterra já estão sob alguma forma de “lockdown”, como proibição de convidar amigos ou familiares para suas casas ou visitar bares e restaurant­es depois das 22h.

O avanço do coronavíru­s também impactou o preço do petróleo, que cedeu 3,22%, para US$ 41,76 o barril do Brent (referência internacio­nal). Além disso, investidor­es temem uma possível retomada na produção da Líbia, que ampliaria o excesso de oferta da matéria-prima.

As ações preferenci­ais (mais negociadas) da Petrobras cederam 3,46%, para R$ 20,90.

Na Bolsa da Alemanha, o Deutsche Bank perdeu 8,7%, após relatórios apontarem que o banco alemão e demais instituiçõ­es financeira­s, como o HSBC, teriam ajudado suspeitos de terrorismo, traficante­s de drogas autoridade­s estrangeir­as corruptas a movimentar trilhões de dólares em todo o mundo, apesar das preocupaçõ­es dos próprios bancos sobre a natureza suspeita das transações.

Os documentos, conhecidos como relatórios de atividades suspeitas (SARs, na sigla em inglês), foram obtidos pelo BuzzFeed News e compartilh­ados com um consórcio mundial de jornalista­s. Os mais de 2.100 relatórios, apresentad­os pelos principais bancos dos Estados Unidos e internacio­nais, referemse a mais de US$ 2 trilhões em transações entre 1999 e 2017.

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Fontes: Bloomberg e CMA

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