Fazendeiros defendem gado como ‘bombeiro’ do Pantanal
cuiabá Os incêndios florestais que atingem Mato Grosso têm gerado sérios prejuízos ao setor produtivo, como na pecuária e no agronegócio. Apesar de a abertura de pastos ser um dos principais objetivos das queimadas, fazendeiros defendem o gado como forma de preservar o Pantanal.
Cristóvão Afonso da Silva, que tem uma propriedade em Poconé, teve 75% de sua fazenda de 15 mil hectares atingida pelo fogo. “Conseguimos fazer o remanejo dos gados. Porém, o pior vem agora porque não tem o que eles comerem, apenas cinzas”, diz o pecuarista.
Para Silva, o modelo de preservação do Pantanal precisa ser mudado urgentemente. Ele critica a atual legislação e reclama da atuação de ONGs, a quem culpa pela “má preservação” da região.
“Antigamente o pantaneiro, o produtor, podia usar o gado para a limpeza. Hoje fica essa matéria orgânica livre, sem limpeza. Temos que mudar as leis. Durante 300 anos o Pantanal era bem conservado. Hoje, é isso que vivenciamos sempre”, afirma.
Setembro de 2020 deve bater o recorde histórico de queimadas no Pantanal, segundo o Programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A alta ocorre no período de estiagem, agravada por uma temporada precedente de poucas chuvas. Aos fatores ambientais somam-se suspeitas de ação humana.
Produtores dos municípios de Poconé, Cáceres, Barão de Melgaço, Santo Antonio do
Leverger e Nossa Senhora do Livramento relatam que tiveram parte de suas terras atingidas pelos incêndios.
O fazendeiro Leopoldo Mário, que teve 50% de sua fazenda de 10 mil hectares destruída, relata a perda de gado em decorrência das queimadas. “Perdi alguns porque não deu tempo de transportar tudo. Perdemos bezerros também. É muito triste tudo isso.”
Ele reclama da opinião pública, que, em sua avaliação, vê os produtores como autores dos incêndios. “Quando
se fala que tem voluntários no Pantanal combatendo o fogo, é preciso deixar claro que 90% são os próprios fazendeiros que estão na linha de frente dessa luta”, defende.
Mário é um dos líderes dos pecuaristas, que se mobilizaram para apresentar reivindicações para políticos e autoridades. Ele diz que a pauta em construção pelo setor poderá garantir a preservação do Pantanal para as próximas gerações.
“É preciso garantir o repovoamento do gado no Pantanal.
Não podemos esquecer que foi aqui o berço da pecuária no estado”, diz. Segundo ele, o gado seria o “bombeiro do pantanal” porque os rebanhos poderiam fazer a limpeza da região. “Foi um equívoco que fizeram ao tirar o boi e o pantaneiro daqui”, diz.
Mário defende a volta da queimada controlada para diminuir a incidência de incêndios e a substituição de parte da pastagem nativa por pastagem de braquiária (capim com base na produtividade).