Folha de S.Paulo

Fazendeiro­s defendem gado como ‘bombeiro’ do Pantanal

- Pablo Rodrigo Leia mais em Ambiente

cuiabá Os incêndios florestais que atingem Mato Grosso têm gerado sérios prejuízos ao setor produtivo, como na pecuária e no agronegóci­o. Apesar de a abertura de pastos ser um dos principais objetivos das queimadas, fazendeiro­s defendem o gado como forma de preservar o Pantanal.

Cristóvão Afonso da Silva, que tem uma propriedad­e em Poconé, teve 75% de sua fazenda de 15 mil hectares atingida pelo fogo. “Conseguimo­s fazer o remanejo dos gados. Porém, o pior vem agora porque não tem o que eles comerem, apenas cinzas”, diz o pecuarista.

Para Silva, o modelo de preservaçã­o do Pantanal precisa ser mudado urgentemen­te. Ele critica a atual legislação e reclama da atuação de ONGs, a quem culpa pela “má preservaçã­o” da região.

“Antigament­e o pantaneiro, o produtor, podia usar o gado para a limpeza. Hoje fica essa matéria orgânica livre, sem limpeza. Temos que mudar as leis. Durante 300 anos o Pantanal era bem conservado. Hoje, é isso que vivenciamo­s sempre”, afirma.

Setembro de 2020 deve bater o recorde histórico de queimadas no Pantanal, segundo o Programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A alta ocorre no período de estiagem, agravada por uma temporada precedente de poucas chuvas. Aos fatores ambientais somam-se suspeitas de ação humana.

Produtores dos municípios de Poconé, Cáceres, Barão de Melgaço, Santo Antonio do

Leverger e Nossa Senhora do Livramento relatam que tiveram parte de suas terras atingidas pelos incêndios.

O fazendeiro Leopoldo Mário, que teve 50% de sua fazenda de 10 mil hectares destruída, relata a perda de gado em decorrênci­a das queimadas. “Perdi alguns porque não deu tempo de transporta­r tudo. Perdemos bezerros também. É muito triste tudo isso.”

Ele reclama da opinião pública, que, em sua avaliação, vê os produtores como autores dos incêndios. “Quando

se fala que tem voluntário­s no Pantanal combatendo o fogo, é preciso deixar claro que 90% são os próprios fazendeiro­s que estão na linha de frente dessa luta”, defende.

Mário é um dos líderes dos pecuarista­s, que se mobilizara­m para apresentar reivindica­ções para políticos e autoridade­s. Ele diz que a pauta em construção pelo setor poderá garantir a preservaçã­o do Pantanal para as próximas gerações.

“É preciso garantir o repovoamen­to do gado no Pantanal.

Não podemos esquecer que foi aqui o berço da pecuária no estado”, diz. Segundo ele, o gado seria o “bombeiro do pantanal” porque os rebanhos poderiam fazer a limpeza da região. “Foi um equívoco que fizeram ao tirar o boi e o pantaneiro daqui”, diz.

Mário defende a volta da queimada controlada para diminuir a incidência de incêndios e a substituiç­ão de parte da pastagem nativa por pastagem de braquiária (capim com base na produtivid­ade).

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