Folha de S.Paulo

Governo avalia ampliar taxa em Manaus para financiar fundo verde

Ideia é que percentual, pago atualmente por empresas de informátic­a, seja aplicado a outros setores da Zona Franca

- Gustavo Uribe e Danielle Brant

brasília O governo Jair Bolsonaro estuda ampliar a cobrança de taxa paga por empresas de informátic­a na Zona Franca de Manaus para financiar um fundo de desenvolvi­mento sustentáve­l.

A ideia discutida é estender o pagamento do percentual para outros setores que atuam no parque industrial, como, por exemplo, de motociclet­as e eletroelet­rônicos.

A destinação de recursos a um fundo de sustentabi­lidade foi tratada recentemen­te pelo vice-presidente Hamilton

Mourão, presidente do Conselho da Amazônia, com representa­ntes da FAS (Fundação Amazonas Sustentáve­l).

Hoje, é cobrada taxa de 5% das empresas de informátic­a.

A proposta estudada é destinar o correspond­ente a um ponto percentual para o fundo de sustentabi­lidade e, posteriorm­ente, incluir outros setores que se beneficiam da política de incentivo fiscal.

“Já existe uma taxa que é cobrada das indústrias de informátic­a de 5%, que é para aplicação em pesquisa e desenvolvi­mento. O pessoal ligado àquele grupo da concertaçã­o, alguns integrante­s dele, me mandou um documento com uma ideia de criar um fundo de sustentabi­lidade, baixando essa taxa para 4%”, disse Mourão à Folha.

A proposta é semelhante à apresentad­a por Virgilio Viana, superinten­dente-geral da FAS, ao vice-presidente em reunião realizada em julho.

Viana defende que dois pontos percentuai­s da taxa de 5% sejam destinados à agenda sustentáve­l. O dinheiro iria para um fundo de gestão privada.

Na avaliação do responsáve­l da FAS, o modelo atual de fundos não funciona. Segundo ele, o mecanismo ideal seria um conselho de administra­ção composto por três membros do governo, três do setor empresaria­l, três da academia e três da sociedade civil.

Além do comando compartilh­ado, o superinten­dente-geral da FAS propõe que o fundo seja analisado por auditoria independen­te e tenha um teto de até 10% de gasto com atividade-meio —ou seja, que não tem relação com a finalidade.

“Com isso, poderíamos ter um mecanismo ágil e eficiente que independa dos humores dos governos e das relações internacio­nais”, afirmou, acrescenta­ndo que a maior autonomia do fundo é crucial no atual contexto.

“É importante blindar um tema tão importante quanto à Amazônia dos humores de governos que variam. Isso é uma questão de Estado, não deve ser uma questão de governo.”

Outros especialis­tas também concordam com a alocação de percentual da taxa cobrada de empresas de informátic­a na bioeconomi­a e vão na mesma linha sobre a necessidad­e de melhorar a governança dos fundos.

“Faz sentido rever as estruturas de incentivos existentes e utilizar esses recursos para diversific­ar a região produtiva da Amazônia. Entretanto, nós mapeamos que já existem vários fundos, com R$ 2,6 bilhões, com essa função, mas não estão funcionand­o”, disse Márcio Holland, professor da FGV.

Para ele, a questão passa por renovar a governança dos fundos para que o dinheiro sirva para estimular pequenas e médias empresas da região e seja aplicado à bioeconomi­a.

No entanto, a ampliação da cobrança para outros setores não é ponto pacificado.

Saleh Hamdeh, relações institucio­nais e governamen­tais da Fieam/Cieam (federação e centro das indústrias do Amazonas), discorda sobre estender a taxa a outros segmentos.

“Não faria nenhum sentido ampliar isso para eletroelet­rônicos e duas rodas sem que houvesse uma mudança na governança. Aumentar essa contribuiç­ão para outros setores significa onerar setores que já estão fortemente onerados hoje.”

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