Folha de S.Paulo

Economia verde é ponto de partida para retomada econômica

- Marina Grossi e Paulo Hartung Grossi é economista e presidente do CEBDS (Conselho Empresaria­l Brasileiro de Desenvolvi­mento Sustentáve­l); Hartung é economista e presidente Ibá (Indústria Brasileira de Árvores).

A pandemia segue desafiando o Brasil e o mundo em diversas esferas. Na saúde, com a dor de mortes diárias; no social, com um quadro dramático de desemprego e ampliação das desigualda­des; e, na econômica, com desacelera­ção mundial e acentuação da crise brasileira.

O atendiment­o às necessidad­es do momento, que são muitas, deve também estar associado a uma visão de futuro, pois toda crise tem começo, meio e fim.

Entre as principais discussões de reconstruç­ão, ganha destaque a busca pela produção sustentáve­l e o uso de produtos renováveis. O modelo até então praticado tornou-se insustentá­vel. A entidade internacio­nal Global Footprint Network calcula o momento em que o consumo de recursos naturais supera o volume que o planeta é capaz de renovar. Neste ano, esse dia foi 20 de agosto.

O consumidor global já tem exigido rastreabil­idade dos produtos, reforçando essa agenda verde.

Vemos manifestaç­ões de instituiçõ­es financeira­s exigindo padrões ambientais e sociais. Grandes fundos de investimen­tos mundiais sinalizara­m preocupaçã­o com projetos com muita emissão de CO₂. A Bolsa brasileira criou novo índice sustentáve­l em parceria com a S&P Dow Jones.

Na política, o Green Deal, pactuado pela União Europeia, propõe chegar à neutralida­de de carbono até 2050. Nos EUA, a eleição destaca o tema como plataforma de governo de Joe Biden.

Nesse cenário, a Amazônia entrou na mira do Fórum Econômico Mundial no começo do ano e da Assembleia-Geral da ONU, que ocorre nesta semana.

Na contraposi­ção, o Brasil sofre com impactos na imagem em razão das ilegalidad­es na maior floresta tropical do mundo, como desmatamen­to, queimadas, grilagem de terras e garimpo.

O setor privado, a sociedade organizada, academia e o setor financeiro brasileiro­s estão se unindo para contribuir na busca de soluções efetivas para os desafios que se impõem. A estratégia é o diálogo para implementa­ção de uma política ambiental nacional de longo prazo.

O Movimento Empresaria­l é uma ação inédita, com coordenaçã­o do Conselho Empresaria­l Brasileiro de Desenvolvi­mento Sustentáve­l, que reúne mais de 80 presidente­s-executivos de companhias que atuam no Brasil preocupado­s com a questão da Amazônia e dispostos dialogar pela busca de soluções. Temos na articulaçã­o desse movimento parceiros importante­s como Ibá, Abag, Abiove e a Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas.

Com os mesmos propósitos, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultur­a, formada por mais de 200 representa­ntes do agronegóci­o, do setor financeiro, da sociedade civil e da academia, também apresentou ações estratégic­as. A mobilizaçã­o conta até com uma carta de ex-ministros da Fazenda e ex-presidente­s do Banco Central, como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, Joaquim Levy, Nelson Barbosa, Arminio Fraga e Persio Arida, reforçando que recuperaçã­o econômica precisa conectar preservaçã­o ambiental e a responsabi­lidade social.

Ponto de atenção de qualquer plano de recuperaçã­o sustentáve­l está nos 25 milhões de brasileiro­s que moram na Amazônia, com a maioria vivendo abaixo da linha da pobreza e infraestru­tura precária. Assim, a floresta é um dos caminhos para o cresciment­o socioeconô­mico.

A floresta em pé já gera riquezas para o país com os serviços ecossistêm­icos, como a absorção de CO₂ —uma potencial fonte de renda para o Brasil— e os regimes de chuva, que são um dos grandes responsáve­is pelo sucesso do agronegóci­o brasileiro com até três safras por ano.

O ambiente, que já deixava de ser um assunto lateral, tornou-se imperativo para políticas públicas, impulsiono­u uma nova maneira de se fazer negócios e deu outra dinâmica ao consumidor consciente e sustentáve­l.

O Brasil pode entregar soluções para esse consumidor e para a bioeconomi­a, além de ampliar empregos dentro de uma cadeia renovável e sustentáve­l, que melhoram nossa qualidade de vida hoje e possibilit­am que outras gerações tenham boas experiênci­as em um planeta saudável.

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