Em drive-in, Gaviões da Fiel escolhe samba-enredo de 2021
Versão oficial vai unir duas composições, será apresentada nesta semana
BARUERI (SP) O Carnaval 2021 permanece sem data oficial em São Paulo em decorrência da pandemia. A Prefeitura e a Liga das Escolas de Samba vêm avaliando possibilidades de um novo formato ou até mesmo o cancelamento do evento, caso ainda não haja vacinação para a população.
Mesmo com a indefinição, as escolas de samba estão se organizando. A Gaviões da Fiel definiu seu enredo, que se chamará “Basta!” e vai tratar sobre a luta contra o racismo, fascismo e opressões.
Na última sexta (18), a escola fez a escolha do samba que o representará e, em decisão inédita, optou por duas composições que, reunidas, conformarão a versão oficial do samba-enredo, que será anunciada ainda nesta semana.
Para o presidente da agremiação, Rodrigo Gonzalez, o Digão, o enredo escolhido revela a importância de levar para a avenida um tema histórico e que, diz ele, representará os 30 milhões de corintianos espalhados pelo país.
Paulo Barros, que será novamente o carnavalesco responsável pela escola, afirmou que, além de ser um tema político-social, “é também uma bandeira pelo amor e pela igualdade de direitos, um canto contra a opressão, a desigualdade, a miséria e a violência”.
Em anos anteriores, nesta época a escola estaria com a quadra lotada para os ensaios da bateria e das alas e com o barracão na Fábrica do Samba funcionando diariamente para a construção de carros alegóricos e fantasias.
Com as medidas de isolamento necessárias, não foi possível realizar as prévias presencialmente. Pensando em fazer evento que pudesse contar com a participação de sua torcida e de maneira segura, a diretoria optou por fazer a grande final num drive-in, com transmissão ao vivo pelo canal da escola no YouTube.
Sabrina Marques e Cleiton Libarino estavam em um dos carros. “Viemos pelo Corinthians, eu não tinha participado de nenhum evento desse tipo ainda. Mas acompanhamos a torcida szempre, vamos todos os anos à quadra e, com esse enredo do ‘Basta!’, achamos que era importante apoiar a escola”, relatou a torcedora.
A noite começou com o show de Marquinhos Sensação, o Imperador do Samba.
O cantor aqueceu o público que depois assistiu à apresentação da bateria e a interpretação dos sambas-enredo clássicos da Gaviões da Fiel.
Ciro Castilho, mestre de bateria da escola há três anos, disse que está na expectativa da definição da data, mas ressaltou que aguarda a vacina para que a festa aconteça de forma segura.
As passistas da ala-show também estavam presentes e encantaram com suas fantasias e disposição para o samba, mesmo depois de meses paradas sem ensaios.
Bárbara Cardoso é enfermeira e trabalha na linha de frente no combate ao coronavírus. “Fiz plantão de 12 horas, dormi só 3 e vim para cá. É difícil, mas isso aqui é a minha vida. Se fosse um ano normal, nós estaríamos tendo aulas e ensaios semanalmente, com um cronograma de exercícios físicos pesados. Mas, agora, é a primeira vez que estamos nos reunindo”, contou ela.
Todo o esforço, pela torcida e escola, também é vivenciado por Alessandra Pereira, que tem 14 anos de Gaviões da Fiel. “A escola é nosso lazer, mas, para além disso, é a nossa casa. Eu passo mais tempo com as meninas e a bateria do que com minha família.”
Outro destaque da noite foi o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Wagner de Araújo e Gabriela Mondjian. A porta-bandeira, filiada à torcida desde o seu terceiro dia de vida, reforçou a importância da escolha do enredo “Basta!”. “Tem tudo a ver com a história que a gente carrega, por aquilo que a gente luta, pelos nossos ideais”.
O encerramento da noite foi com a interpretação dos três sambas-enredo finalistas e o anúncio do vencedor.
Acabaram escolhidos o samba 12 (de autoria de Grandão, Sukata, Jairo Roizen, Morganti, Guinê, Xérem, Claudio Gladiador, Ribeirinho, Claudinho e Meiners), e o samba 15 (de Luciano Costa, Felipe Yaw, Marcelo Adnet, Fadico, Júnior Fionda, Lequinho, Fábio Palácio, o Mentirinha, Leonel Querino, Altemir Magrão, Marcelo Valente, Sandro Lima e Rodrigo Dias).
O diretor musical, Rafael do Cavaco, explicou que a diretoria irá se reunir com a comissão julgadora e com Ernesto Teixeira, intérprete oficial da agremiação, para realizar a junção dos sambas, que têm letras e melodias parecidas.
“Os dois sambas têm a pegada de manifesto e protesto que nós queremos levar pra avenida. É uma junção de paulistas com cariocas, e que funcionou bem nesse modelo de audições internas que fizemos”.