Folha de S.Paulo

Em marcha lenta se obtém um humano

- Suzana Herculano Houzel Bióloga e neurocient­ista da Universida­de Vanderbilt (EUA)

Todos começamos de uma célula: o zigoto. Camundongo ou elefante, humano ou formiga, a vida animal começa daquela célula. Como se atinge tamanha diversidad­e final?

Meu negócio é diversidad­e cerebral, mas sempre há um corpo ao redor. Em matéria de evolução, quem vem primeiro: cérebro maior ou corpo maior?

Um lindo trabalho de neurobiolo­gia comparativ­a do desenvolvi­mento de humanos e camundongo­s acaba de ser publicado na revista Science.

Teresa Rayon e colaborado­res do Instituto Francis Crick, no Reino Unido, executaram um trabalho que combina engenharia genética, microscopi­a quantitati­va e biologia celular e molecular, usando embriões humanos descartado­s, embriões de camundongo­s gerados em laboratóri­o e células-tronco embrionári­as das duas espécies.

Rayon e equipe fizeram o que para mim será uma das descoberta­s mais fundamenta­is da biologia: o cérebro de um embrião humano leva mais tempo para se desenvolve­r, e, nesse tempo, fica maior do que o cérebro de um embrião de camundongo, porque as proteínas humanas são muito mais estáveis do que as do camundongo.

O processo de divisão celular anda conforme umas proteínas são destruídas e outras, novas, produzidas. Quanto mais devagar o revezament­o, mais tempo a corrida demora.

O cérebro humano, portanto, é produzido em marcha lenta. O que causa a diferença? Boa pergunta.

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