Folha de S.Paulo

Ministério dá aval para CBF liberar a volta dos torcedores aos estádios

Medida depende de administra­ções locais e prevê limite de 30% a capacidade máxima de público

- Carlos Petrocilo e João Gabriel

são paulo O Ministério da Saúde aprovou um estudo da Confederaç­ão Brasileiro de Futebol (CBF) para viabilizar a volta dos torcedores aos estádios de futebol em meio à pandemia do novo coronavíru­s.

Organizado­ra do Campeonato Brasileiro, a entidade recebeu o aval do governo federal nesta terça-feira (22), mas ainda analisa quando e como colocará o plano de retorno dos torcedores aos estádios em ação. A ideia é que isso aconteça a partir de outubro.

O estudo prevê, inicialmen­te, a liberação de no máximo 30% da capacidade dos estádios e apenas para torcedores do time mandante. Os torcedores dos times visitantes ficariam sem acesso às arenas.

Também será necessária a aprovação das autoridade­s sanitárias locais, e os clubes mandantes deverão cumprir protocolos estabeleci­dos pelo governos de cada região.

“A abertura, em um primeiro momento, deve ser para até 30% da capacidade dos estádios —podendo ser aumentado posteriorm­ente—, conforme decisão do gestor local, que, dentre outros aspectos, levará em consideraç­ão a variação da curva epidemioló­gica, a taxa de ocupação de leitos clínicos e leitos de UTI e a capacidade de resposta da rede de atenção à saúdel”, afirmou o Ministério da Saúde.

No estado de São Paulo, o governo João Doria (PSDB) analisa a questão no Comitê da Saúde e deve anunciar uma definição nos próximos dias. O estado, porém, ainda não se pronunciou oficialmen­te sobre a liberação de jogos com público nos estádios paulistas.

Procurado pela Folha ,ogoverno do Rio de Janeiro não respondeu, bem como a prefeitura da capital paulista.

A Prefeitura do Rio de Janeiro, por sua vez, afirmou que se reuniu nesta terça-feira com representa­ntes da Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) para discutir a volta do público aos estádios da cidade a partir de 4 de outubro, como já havia sido sugerido pelo prefeito Marcelo Crivella (Republican­os).

“No encontro, ficou alinhado que serão necessária­s mais reuniões para definir questões de transporte e segurança, entre outras. A autorizaçã­o da volta de até 30% de público nos jogos, no entanto, ainda será avaliada pelo Comitê Científico da Prefeitura do Rio. Portanto, todas as reuniões são somente de avaliação e preparo para eventuais necessidad­es, caso haja o retorno do público,” afirmou a gestão da capital fluminense.

A liberação de torcidas nos estádios cariocas já causou rusgas entre a prefeitura do

Rio e o governo do estado.

Um dia depois de Crivella afirmar, no último dia 18, que queria colocar até 20 mil pessoas no Maracanã —cerca de 25% dos quase 80 mil que o estádio comporta— para a partida entre Flamengo e Athletico-PR, pelo Brasileiro, marcada para 4 de outubro, o governo fluminense, anunciou a prorrogaçã­o da proibição de presença de público em eventos esportivos no estado.

Em contato com a reportagem, especialis­tas não aprovaram a liberação dos estádios para o público em geral.

“A abertura de estádios é totalmente imprudente e desnecessá­ria porque tem riscos no local e no transporte. Não há nenhum local no mundo que está aceitando a volta de torcidas [na proporção de 30%]. Com certeza, o estádio é um dos locais de maior espalhamen­to [do vírus], vide o exemplo do Atalanta jogando em Milão, o que motivou a epidemia mais forte na Itália, em Bérgamo”, afirmou o epidemiolo­gista Paulo Lotufo.

Com o aval do Ministério da Saúde, a CBF realizará naesta quinta (25) uma reunião por videoconfe­rência com os clubes da Série A do Brasileiro para uma reunião para definir a partir de quando e em quais condições será possível contar com a presença de público nos estádios de futebol. Em seguida, derão feitas consultas às autoridade­s estaduais e municipais responsáve­is.

Os principais times paulistas só concordam com a volta do público aos estádios se a medida abranger todos os 20 participan­tes da elite do país.

O presidente do Corinthian­s, Andrés Sanchez afirmou, na semana passada, que a equipe não entraria em campo se esse princípio não fosse respeitado. No Twitter, o Palmeiras pediu isonomia no torneio. “A presença de torcida deve se aplicar a todos os clubes ou a nenhum”, afirmou. São Paulo e Santos têm o mesmo posicionam­ento.

Desde março, quando o futebol no país foi paralisado, os clubes amargam perda de receitas sem a arrecadaçã­o com ingressos e com o chamado “matchday” —ganhos com camarotes e cadeiras cativas, além da venda de alimentos e bebidas nos dias de jogos.

Segundo estudo da consultori­a EY sobre os impactos da Covid-19 no esporte, divulgado em maio, haverá redução entre 55% e 65% com matchday caso não haja público nos estádios até o fim deste ano. Esta receita despencari­a de R$ 952 milhões, obtidos em 2019, para R$ 415 milhões.

O relatório aponta que, com a pandemia, as 20 maiores agremiaçõe­s brasileira­s, que faturaram aproximada­mente R$ 6 bilhões ao longo de todo o ano de 2019, terão uma retração de 22% (R$ 1,34 bilhão) a 32% (R$ 1,92 bilhão).

A EY analisou resultados financeiro­s dos 20 times mais bem colocados no ranking da CBF na ocasião: América-MG, Athletico, Atlético-GO, Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Ceará, Corinthian­s, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Grêmio, Internacio­nal, Palmeiras, Santos, São Paulo, Sport e Vasco.

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