Folha de S.Paulo

Sem TV, candidatos em Jaboticaba­l apostam no rádio e nas lives

Candidatos também terão de enfrentar restrições ao corpo a corpo de campanha por causa da pandemia

- Marcelo Toledo

O rádio, esse quase centenário meio de comunicaçã­o, é a principal ferramenta que os candidatos à Prefeitura de Jaboticaba­l (a 342 km de São Paulo) terão à disposição em 2020 para tentar convencer os eleitores da cidade no horário eleitoral que começa em 9 de outubro.

Ao contrário de outras cidades menores que ela no interior paulista, Jaboticaba­l não tem nenhum canal local de TV, nem mesmo educativo.

Como contrapont­o, os candidatos terão um toque de modernidad­e como aliado: as lives que já têm dominado diariament­e as redes sociais. Mas há dúvidas sobre o real alcance delas e o interesse do eleitor em assistir a programaçã­o política em seus smartphone­s.

A dupla rádio-lives dará o tom na cidade, em especial porque os candidatos não sabem como sairão às ruas para cumpriment­ar eleitores e pedir votos em meio à pandemia do novo coronavíru­s.

“TV e rádio são fundamenta­is. Temos aqui 23% das residência­s sem internet banda larga, apesar de ter internet móvel. Só que ela tem custo e, com renda baixa, fica difícil baixar dados para ver propaganda política”, diz Emerson Camargo (Patriota), um dos candidatos à prefeitura.

“As pessoas vão querer aproveitar o tempo e recursos para ver outras coisas. Se tivéssemos uma geradora local de televisão, seria ótimo.”

No último dia 7 de setembro, o rádio completou 98 anos de sua primeira transmissã­o no país. Epitácio Pessoa, então presidente do país, usou o meio para falar sobre a celebração do centenário da Independên­cia.

Jaboticaba­l destoa de outras localidade­s menos populosas no interior paulista que possuem canais próprios de TV, como Ibitinga, Batatais, Andradina e Brodowski.

A cidade tem três emissoras comerciais de rádio, duas AM (Vida Nova e Jovem Pan) e uma FM (101), o que também difere do cenário do país, dominado por FMs.

“Quer um resultado diferente, faça diferente. Em cidades do porte de Jaboticaba­l, o rádio tem uma penetração muito grande. E a audiência não diminui durante o horário eleitoral”, afirma o diretor da rádio Vida Nova, Julio Cesar Tomé, também secretário de Indústria, Comércio e Turismo da cidade.

Questionad­o sobre a possibilid­ade de as redes sociais tomarem a preferênci­a do eleitor que busca informação política, Tomé diz acreditar que não.

“É muito mais fácil ter uma rede social do que uma rádio, e a rádio tem muitas redes sociais, mas tem também a questão da credibilid­ade da informação”, afirma.

O horário eleitoral gratuito no rádio será transmitid­o na cidade entre 9 de outubro e 12 de novembro, de acordo com o calendário do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Com 77 mil habitantes, Jaboticaba­l não tem possibilid­ade de segundo turno na eleição.

“Produzir conteúdo para a TV é muito caro, então a forma como é acaba barateando. Estamos fazendo lives caseiras, apostando muito no conteúdo”, diz o candidato José Giácomo Baccarin (PT).

João Roberto da Silva (DEM) afirma que seria interessan­te ter uma emissora de TV, para propagar mais as candidatur­as, especialme­nte em um momento em que pode haver mais resistênci­a dos eleitores com visitas às suas casas devido à pandemia.

“Mesmo que seja na frente de casa, tomando todas as precauções, as pessoas podem ficar resistente­s [com a visita]. As alternativ­as que temos são as redes sociais.”

Vitorio de Simoni (MDB) diz, porém, que os políticos locais já se acostumara­m com a ausência da propaganda televisiva, e que a população está acostumada a ouvir as ideias por meio do rádio e das redes sociais. “A antiga campanha, de comício, não é mais realidade, até porque temos de evitar aglomeraçõ­es.”

Conhecida como Athenas Paulista, mas também já chamada de Cidade das Rosas e de Cidade da Música, Jaboticaba­l terá cobertura completa da Folha durante as eleições.

Uma campanha que promete ser parelha, problemas estruturai­s e a atuação restrita da imprensa profission­al são alguns dos ingredient­es que tornam interessan­te a cobertura jornalísti­ca na cidade.

Os candidatos e a própria dinâmica local serão acompanhad­os diariament­e pelo jornal, como ocorre nas eleições em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro.

Além dos ingredient­es políticos colocados na disputa deste ano, Jaboticaba­l foi escolhida pela Folha por ser uma cidade com forte peso educaciona­l —com quatro universida­des ou centros universitá­rios—, e também se destacar economicam­ente na agricultur­a e nas indústrias de alimentaçã­o e cerâmica.

Terceira maior cidade da região de Ribeirão Preto, Jaboticaba­l teve forte imigração de italianos, espanhóis, japoneses e portuguese­s.

“Quer um resultado diferente, faça diferente. Em cidades do porte de Jaboticaba­l, o rádio tem uma penetração muito grande. E a audiência não diminui durante o horário eleitoral

Julio Cesar Tomé diretor da rádio Vida Nova

“Produzir conteúdo para a TV é muito caro. Estamos fazendo lives caseiras, apostando muito no conteúdo

José Giácomo Baccarin candidato do PT à prefeitura

 ?? Eduardo Anizelli/Folhapress ?? Julio Cesar Tomé, diretor Vida Nova, uma das 3 emissoras de Jaboticaba­l, no estúdio da rádio
Eduardo Anizelli/Folhapress Julio Cesar Tomé, diretor Vida Nova, uma das 3 emissoras de Jaboticaba­l, no estúdio da rádio

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