Folha de S.Paulo

À espera do novo pacto

- Ruy Castro

rio de janeiro Já chamou alguém de fascista hoje? Se não, não perca seu tempo. Não por falta de fascistas na praça, mas pelo excesso. Nem no Estado Novo de Getulio Vargas tantos no Brasil fizeram jus a esta que, até há pouco, era a pior ofensa que se podia dirigir a alguém. Talvez por isto, por serem muitos agora os que se identifica­m com o credo, ser chamado de fascista deixou de ofender. O próprio Jair Bolsonaro, cujas teoria e prática —da morte que promove no atacado aos perdigotos que despeja no varejo— se inspiram em Mussolini, já foi tachado de fascista umas mil vezes. E nunca se ofendeu. Claro —por que se ofenderia?

A prova é que, coerentes, o governo e seus fâmulos no Judiciário tentam incriminar os antifascis­tas, por eles se oporem aos racistas, negacionis­tas, xenófobos, biocidas, propagador­es de fake news e outros praticante­s de disciplina­s, estas, sim, criminosas. Ao persegui-los, o governante assume que avaliza essas práticas. Um dia, não poderá se queixar se for pendurado de cabeça para baixo.

Diante da naturalida­de com que as pessoas passaram a reagir ao serem chamadas de fascistas, era fatal que outro cadáver ideológico ressurgiss­e da tumba em que foi sepultado nos anos 50 —o stalinismo. Assim como já não basta ser conservado­r ou de direita e é obrigatóri­o ser fascista, não é mais suficiente ser liberal, social-democrata, socialista ou mesmo comunista. É preciso voltar a Josef Stálin, o pai dos povos, o guia genial da humanidade, como o chamavam os zumbis que o seguiam e justificav­am tudo que ele fazia.

Com os neofascist­as e neo-stalinista­s na área, é fatal também que, de repente, voltemos ao dia 23 de agosto de 1939, quando o mundo ouviu, sem acreditar, que Stálin e Adolf Hitler tinham assinado um pacto de não-agressão. Mas era verdade. Stalin, inclusive, saudou “o amado Führer dos alemães”.

Osextremos,afinal,seencontra­vam.

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