Folha de S.Paulo

Teatro amador

- Joana Cunha painelsa@grupofolha.com.br com Filipe Oliveira e Mariana Grazini

Empresário­s e altos executivos de grandes companhias no Brasil lamentaram o discurso de Bolsonaro na ONU nesta terça (22), que foi visto como mais uma chance perdida de aproveitar um palco internacio­nal para tentar melhorar a imagem do Brasil e conquistar a confiança do investidor estrangeir­o. A impressão que ficou, segundo o dirigente da filial brasileira de uma multinacio­nal americana, foi de amadorismo, o que eleva o ceticismo das matrizes em relação ao país.

VOZ O desempenho de Bolsonaro em sua segunda passagem pela Assembleia Geral já era esperado, mas o que ainda surpreende é que o entorno dele endosse o comportame­nto, segundo executivos. Na opinião de um deles, é triste ver que Paulo Guedes não imprime sua digital no discurso, o que deixa nítido o enfraqueci­mento do ministro.

MICROFONE O momento em que o presidente mencionou as reformas tributária, administra­tiva e da Previdênci­a foi visto mais como um esforço de Bolsonaro em jogar para sua torcida doméstica do que uma tentativa de falar à plateia internacio­nal. Ele poderia ter aproveitad­o para mostrar uma postura mais equilibrad­a na questão ambiental.

JÁ VI ESSE FILME O discurso de Bolsonaro na ONU foi “mais do mesmo” e “desinformo­u, como sempre”, na opinião de João Amoêdo, fundador do partido Novo, que nas eleições de 2018 era tido como o candidato à Presidênci­a preferido do mercado financeiro. Para ele, a fala se resumiu a frases soltas. Não teve objetivida­de nem organizou conceitos.

BATATA QUENTE “Ele começa dizendo que estava preocupado com o coronavíru­s, quando ele não estava. Depois disse que não poderia fazer nada porque era tudo responsabi­lidade dos governador­es. Ele disse também que a imprensa politizou o vírus. Falou muitas coisas erradas sobre o meio ambiente”, afirma Amoêdo.

PREVISÍVEL Para o ex-presidente do Novo, Bolsonaro fez um roteiro padrão, em que fala algumas mentiras, transfere as responsabi­lidades, não reconhece os erros e culpa a imprensa. “Ele tem essa mania de se colocar como vítima”, diz Amoêdo.

FOGO O hotel Pantanal Mato Grosso, em Paconé (MT), recebeu pedidos de clientes para cancelar ou adiar reservas por causa dos incêndios. Segundo o estabeleci­mento, que já estava com capacidade pela metade por causa da pandemia, a ocupação chegou a zero em agosto, mas a esperança é que a demanda volte conforme o fogo seja controlado.

DIVERSIDAD­E O lançamento do programa de trainees para profission­ais negros do Magazine Luiza fez barulho e levantou preconceit­os de rede social, mas outras iniciativa­s parecidas já vinham sendo colocadas no mercado desde o ano passado sem gerar comoção semelhante.

BARULHO Google, Ambev e EDP já têm programas de estágio para negros. A diferença, diz Ricardo Sales, da consultori­a Mais Diversidad­e, é que o tema chegou a um público maior ao ganhar apoio de uma companhia popular e liderada por uma empresária conhecida, Luiza Trajano, enquanto a polarizaçã­o piorou.

ACESSO Para Leizer Pereira, da consultori­a Comunidade Empodera, que foi parceira no projeto do Google, o caso teve repercussã­o porque o trainee busca formar líderes empresaria­is. “A gritaria é grande porque é uma disputa de poder e privilégio­s. Quando esses espaços são democratiz­ados, as pessoas que estão em vantagem se incomodam”, diz.

BARREIRA O órgão antitruste do Paraguai, o Conacom, rejeitou nesta terça (22) o contrato de operação de serviços firmado entre a Minerva Foods e o frigorífic­o paraguaio Frigonorte. Segundo a decisão, se fosse aprovada, a operação poderia configurar uma concentraç­ão no mercado de compra de gado para abate.

VIZINHO Procurada pela coluna, a Minerva diz que vai recorrer. “Temos convicção de que o acordo está em conformida­de com as práticas concorrenc­iais do mercado paraguaio e é benéfico para o país, uma vez que proporcion­ará empregos e a retomada das atividades pelos produtores, duramente impactadas pela pandemia”, afirma em nota.

TESOURA O salão de beleza Jacques Janine do Shopping Center Norte em SP vai dar cortes de cabelo de graça até o fim do mês para clientes que doarem as mechas ao shopping em ação do Itaci (Instituto de Tratamento do Câncer Infantil). A ONG Rapunzel Solidária vai usar os fios para fazer perucas que serão doadas a crianças com câncer.

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