Folha de S.Paulo

Governo vai atrás de apoio do centrão para enviar nova CPMF

A deputados Guedes defende tributo como forma de bancar desoneraçã­o da folha

- Julio Wiziack, Julia Chaib e Bernardo Caram

brasília A proposta de um imposto sobre transações digitais elaborada pelo time do ministro Paulo Guedes (Economia) recebeu o aval do presidente Jair Bolsonaro. Agora, o governo busca o apoio do centrão para apresentá-la ao Congresso Nacional.

O novo tributo, nos moldes da antiga CPMF, pretende levantar R$ 120 bilhões por ano. Os recursos vão custear o programa de desoneraçã­o da folha de pagamentos.

Pessoas que participar­am das discussões na semana passada afirmam que o presidente delegou ao deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, a obtenção dos votos antes de a proposta ser formalment­e enviada.

Nesta terça-feira (22), Barros marcou almoço em sua casa, em Brasília. Lá marcaram presença Guedes e deputados do centrão —grupo formado por partidos como PP, PSD e Republican­os— que estão aderindo à base do governo.

Um dos temas discutidos foi a criação do tributo.

A ideia de Guedes é estabelece­r alíquota de 0,2% sobre o valor de qualquer transação digital. O montante arrecadado será usado para cobrir a desoneraçã­o da folha para quem ganha até um salário mínimo (R$ 1.045).

Acima desse patamar, haverá descontos. A contribuiç­ão previdenci­ária paga pelas empresas para esses funcionári­os, que hoje é de 20%, passaria a 10%. A diferença seria coberta pela receita gerada pelo novo tributo.

Também está na proposta a ampliação da isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física de R$ 1.900 para R$ 3.000.

No almoço, Guedes disse que enviará nos próximos dias o texto da proposta para os líderes da base do governo. Dessa forma, eles podem dar início a um processo de convencime­nto com os demais deputados.

A ideia, ainda segundo assessores presidenci­ais, é que o governo, depois disso, apresente oficialmen­te a proposta como contribuiç­ão à reforma tributária, que tramita na Câmara via PEC (proposta de emenda Constituci­onal). Outra versão diferente da reforma corre no Senado.

Outra opção é que o novo imposto seja encaminhad­o separadame­nte ao Congresso. Assim, teria uma tramitação independen­te e paralela.

De qualquer forma, Barros recebeu da equipe política do Planalto autorizaçã­o para negociar uma validade de seis anos para a vigência do imposto. Com prazo de validade, o governo diz acreditar que será possível convencer o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a encampar a proposta.

Nos bastidores, Barros repete o que já se tornou um mantra no Planalto: sem esse imposto, não será possível desonerar a folha de pagamentos.

Barros tem também outro desafio. Para conseguir levar adiante a proposta, terá de manter os vetos presidenci­ais à desoneraçã­o de 17 setores da economia que foram incluídos pelo Congresso na votação de uma medida provisória.

Maia já se posicionou contrariam­ente à criação de um imposto nos moldes da extinta CPMF. No passado, a contribuiç­ão incidiu sobre transações financeira­s, com alíquota de 0,38%.

Se a articulaçã­o de Barros funcionar, o governo espera enviar a proposta do novo tributo formalment­e nas próximas duas semanas para que seja possível incorporá-la ao relatório da reforma tributária, a cargo do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

A expectativ­a do governo é que a votação da reforma ocorra até meados de outubro.

Isolado da discussão política com o Congresso, Guedes passou a ter papel de esclareced­or da proposta. O ministro agora depende do núcleo político do governo para que uma proposta impopular, como a criação de um imposto semelhante à CPMF, tenha chance de avançar.

Na Câmara, Maia já anunciou que tratará da agenda econômica apenas com o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). O deputado rompeu publicamen­te com Guedes.

Maia é contra uma nova CPMF e não pretende pautar a proposta. Como presidente da Câmara, ele poderia barrar a votação até o fim do mandato, que se encerra no início de 2021.

No entanto, Barros afirmou para interlocut­ores que a equipe econômica está concluindo um estudo “bastante amplo” para provar que “é mais justo [o novo imposto] do que a tributação sobre a folha”.

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