Folha de S.Paulo

Brasileiro­s aumentam remessa de dinheiro para paraíso fiscal

- Larissa Garcia

brasília O volume de recursos enviado a paraísos fiscais por brasileiro­s aumenta ano a ano. Segundo dados do Banco Central, as Ilhas Cayman, destino preferido dos investidor­es, têm 23% do estoque de recursos que saíram do Brasil.

Ao todo, eram US$ 85,7 bilhões no fim de 2019, 27% a mais que em 2018.

Em segundo lugar estão os Países Baixos, com 20,7%, ou US$ 79,6 bilhões, aumento de 56,6% no mesmo período. A Holanda saiu da lista de paraísos fiscais elencados pela Receita, mas ainda faz parte do rol de países que possuem regime fiscal privilegia­do (baixos impostos sobre a renda), o que atrai investidor­es.

Em terceiro estão as Ilhas Virgens Britânicas (15%), seguidas das Bahamas (11,2%) e de Luxemburgo (6,4%). Só depois aparecem os EUA, com 5,7%. Segundo o especialis­ta em direito tributário e professor da FGV Gustavo Fossati, a maior parte dessas operações é legal.

“Se ele [o proprietár­io dos recursos] informa à Receita e ao BC, não há problema. Muitos, no entanto, não declaram por falta de informação.”

Ele disse que esses países oferecem vantagens tributária­s e atraem recursos. “Além disso, alguns oferecem sigilo das informaçõe­s do investidor.”

Os paraísos fiscais são determinad­os pela Receita em instrução normativa. Esse documento é atualizado regularmen­te e considera países que tributam a renda com alíquotas inferiores a 20%. “Em alguns, a taxa é próxima de zero, como é o caso das Ilhas Cayman”, contou Fossati.

Apenas no primeiro semestre, as Ilhas Virgens Britânicas receberam US$ 397 milhões em investimen­tos brasileiro­s. Nas Ilhas Cayman, foram US$ 234 milhões no período.

De acordo com censo do BC, no qual os próprios investidor­es declaram seus patrimônio­s fora do país, US$ 385 bilhões foram enviados a outros países em 2019. Os cinco primeiros países da lista acumulam US$ 290,7 bilhões de recursos brasileiro­s, o equivalent­e a 75,5% do total.

“Ainda que não haja irregulari­dades, caracteriz­a fuga de capital”, ponderou o professor.

Na tentativa de trazer de volta esse capital ao país, o governo promoveu programa de repatriaçã­o em 2016. O Estado ofereceu anistia ao crime de evasão de divisas (quando o investidor não declara seu patrimônio no exterior) para quem tinha dinheiro irregular fora.

Na ocasião, cerca de R$ 32 bilhões foram repatriado­s, segundo o BC. Esse montante voltou ao Brasil porque parte dos contribuin­tes usou dinheiro que tinha fora do país para pagar o Imposto de Renda e a multa necessário­s para regulariza­r os recursos.

Balanço da Receita Federal registrou R$ 50,9 bilhões que ingressara­m nos cofres do governo com o programa, dado diferente do divulgado pela autoridade monetária.

Embora muitos dos valores encontrado­s seja regular, o regime tributário e de sigilo favorece a ocultação de recursos originados por vias ilícitas, como tráfico ou corrupção.

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