Folha de S.Paulo

Desmate afeta agro e investimen­to no país, diz Arminio

- Renato Machado

BRASÍLIA O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga disse nesta terça-feira (22) que o Brasil está chegando a um ponto “irreversív­el” em relação ao desmatamen­to da Amazônia, o que vai afetar o investimen­to estrangeir­o no país e o agronegóci­o.

Fraga disse também que o Brasil tem merecido a “imagem bastante negativa” por causa de sua política ambiental. Afirmou ainda que o impacto das mudanças climáticas pode ter efeito social ainda mais grave que a pandemia do novo coronavíru­s.

As declaraçõe­s foram dadas no segundo dia de audiência organizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), sob coordenaçã­o do ministro Luís Roberto Barroso, para discutir o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, além de outras questões ambientais.

O evento se dá no âmbito da ADPF (Arguição de Descumprim­ento de Preceito Fundamenta­l) 708, ingressada por partidos de esquerda.

No primeiro dia, participar­am o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ministros, como Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucio­nal), Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia e Inovação), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Tereza Cristina (Agricultur­a), além de diretores de órgãos ambientais, de organismos multilater­ais e representa­ntes da sociedade civil.

“O desmatamen­to e outros crimes ambientais, além de agravarem o problema global, trazem enorme risco para o ecossistem­a do agronegóci­o, nosso setor mais bem-sucedido, e também para a oferta de energia no nosso país. Prejudica também cada vez mais o acesso a mercados a nossos produtos”, disse o expresiden­te do Banco Central.

“E, por fim, em face da crescente ênfase por parte das melhores empresas do mundo, do trio chamado em inglês ESG, traduzindo meio ambiente, social e governança, essa crescente ênfase reduz a atrativida­de do Brasil como destino de investimen­tos.”

Fraga também criticou o que chamou de “obscuranti­smo” que o governo vem adotando em relação a temas ambientais. “O mesmo obscuranti­smo que nos prejudica no combate à pandemia nos afeta também nos temas ambientais”, afirmou.

“A persistir o aumento da temperatur­a do planeta, as consequênc­ias serão devastador­as. O trem já partiu, e todo cuidado é pouco. Estimase que o impacto econômico e social ao longo do tempo será maior que o da pandemia. Imagino até bem superior”, disse o ex-presidente do BC.

O professor universitá­rio Ricardo Abramovay afirmou que o Brasil vai se tornar um pária se mantiver sua política ambiental, uma vez que União Europeia e outros países como Índia e China estão focando soluções para reduzir suas emissões de gases nocivos.

Abramovay ainda afirmou que uma possível vitória de Joe Biden nas eleições presidenci­ais norte-americanas vai colocar a “descarboni­zação da economia” no centro do cenário político da maior potência econômica mundial.

“Quarenta anos atrás o Brasil ainda poderia ter ambição de ser relevante na produção nacional de automóveis, televisore­s, microchips. Hoje esse espaço foi ocupado”, disse.

“Mas o Brasil pode ter a ambição de ocupar um espaço de destaque mundial, na exploração social da sua biodiversi­dade”, completou.

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