Folha de S.Paulo

Em Manaus, 5% dos servidores de escolas estaduais foram contaminad­os

Amazonas foi o primeiro estado do país a autorizar retomada na rede estadual, em 10 de agosto

- Isabela Palhares secretário de Educação do Amazonas Matheus Moreira

são paulo No primeiro mês de aulas presenciai­s nas escolas estaduais de Manaus, 5% dos servidores que atuaram nas unidades tiveram teste positivo para o novo coronavíru­s e foram afastados. O governo não informou quantos tiveram complicaçõ­es ou sintomas graves da doença.

O governo do Amazonas foi o primeiro do país a autorizar a volta às aulas nas escolas estaduais, com o retorno em 10 de agosto apenas para os alunos do ensino médio. Segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do estado, até 11 de agosto 361 dos 6.626 profission­ais —5,4% do total— que atuaram nas escolas apresentar­am anticorpos IgM, que indica infecção na fase ativa, ou seja, foram infectados de 8 a 14 dias antes do testes.

O número de infectados após a reabertura das escolas pode ser ainda maior, já que outros 1.616 apresentar­am IgG, que identifica o anticorpo de fase tardia da doença, que aparece depois de pelo menos 15 dias de infecção. Só retornaram às atividades presenciai­s os servidores que não são do grupo de risco.

“É um percentual relativame­nte baixo perto do que a gente esperava. Para nós, esse número comprova que a escola é um ambiente controlado e que pode ser monitorado”, diz Luis Fabian Barbosa, secretário de Educação do Amazonas.

Apesar de o resultado ser considerad­o positivo pelo secretário, o planejamen­to inicial para o retorno das atividades presenciai­s para as demais etapas da educação foi adiado. O governo planejava retomar as aulas para o ensino fundamenta­l (do 1º ao 9º ano) em 24 de agosto, mas adiou o reinício e ainda não há nova data prevista.

Ainda que 5% dos servidores das escolas tenham tido teste positivo, a secretaria não suspendeu as aulas para nenhum estudante. Segundo a pasta, não houve registro de contaminaç­ão de nenhum aluno. No entanto, estão sendo testados apenas os servidores.

Nos adolescent­es, só é feito o teste caso eles tenham sintomas e procurem alguma unidade de saúde. Inquérito

Luis Fabian Barbosa

sorológico feito na cidade de São Paulo identifico­u que entre 66% e 70% dos estudantes de 4 a 14 anos, que tinham anticorpos para Covid-19 não apresentar­am sintomas. Na população adulta, a taxa de assintomát­icos é de 38,2%.

Segundo Barbosa, o protocolo seguido foi o afastament­o imediato dos 361 servidores por 14 dias. Para os estudantes que tiveram contato com eles, a única precaução foi a de interrupçã­o das aulas presenciai­s por 24 horas para desinfecçã­o dos espaços. “Passado esse período, as atividades podem seguir normalment­e”, diz nota da secretaria.

Questionad­o sobre a possibilid­ade de os alunos terem sido infectados e serem assintomát­icos, colocando em risco suas famílias, o secretário afirmou ser “uma resposta que ninguém tem como dar”.

“Avaliamos que a decisão foi acertada, que o risco de transmissã­o, quando as regras sanitárias e de distanciam­ento social são respeitada­s, é muito baixo. Muitos estados têm nos procurado porque saímos à frente nesse processo e estamos mostrando que é seguro.”

O número de novos casos de Covid em Manaus aumentou nas últimas semanas. Em 10 de agosto, a cidade registrou 226 novos casos. Na segunda (21), o número de novos casos foi de 305 —um aumento de 35% em relação ao dia de reabertura das escolas.

Segundo o monitor da Folha, a cidade tem velocidade considerad­a estável.

Para a Asprom (sindicato dos professore­s da rede pública de Manaus), a proporção de infectados é inaceitáve­l e a volta às aulas foi precipitad­a. Parte dos docentes está em greve desde 10 de agosto para que a reabertura das escolas seja suspensa.

“É chocante que considerem que esse número é baixo. Estamos com 5% dos professore­s infectados e isso porque são apenas aqueles que não são do grupo de risco. Sem falar que é uma irresponsa­bilidade não saber qual o impacto dessas infecções nas famílias dos estudantes”, diz Helma Sampaio, coordenado­ra do sindicato.

Para Barbosa, a volta às aulas foi importante para evitar um prejuízo maior na educação dos estudantes ainda que não tenha conseguido alcançar os que estão em maior vulnerabil­idade. Segundo ele, dos quase 100 mil estudantes de ensino médio nas escolas estaduais de Manaus, 75% estão frequentan­do as aulas.

Os outros 25% são exatamente aqueles que não fizeram nenhuma das atividades remotas durante o período de suspensão de aulas. “O prejuízo desse período foi enorme. Na nossa rede, 40% dos alunos não fizeram atividades a distância e só 15% deles voltaram à escola. Temos que ir atrás desses outros 25% agora”, diz.

“É um percentual relativame­nte baixo perto do que a gente esperava. Para nós, esse número comprova que a escola é um ambiente controlado e que pode ser monitorado

Metade das pessoas na capital do AM tem anticorpos pra Covid

são paulo Um novo estudo publicado na segunda (21) indica que Manaus atingiu a chamada imunidade de rebanho, levando à queda na quantidade de novos casos confirmado­s de coronavíru­s na cidade.

De acordo com os pesquisado­res, o pico de pessoas imunizadas na cidade foi em junho, com 51,8% da população apresentan­do anticorpos. Corrigidos os falsos-negativos, até 66% da população manauara teria sido infectada.

Mais de 130 mil pessoas foram infectadas e quase 4.000 perderam a vida durante a explosão de casos e ao longo dos últimos seis meses. O estudo foi realizado por pesquisado­res brasileiro­s em parceira com cientistas de Harvard (EUA), Imperial College (Reino Unido) e Universida­de de Oxford (Reino Unido), além de institutos como o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Para confirmar a infecção, as amostras de sangue analisadas foram testadas por meio de sorologia em diferentes datas, de maneira que os pesquisado­res pudessem contornar os falsos negativos.

Ao observar a presença de anticorpos ao longo do tempo, os cientistas constatara­m que a doença apresenta maior gravidade e maior quantidade de anticorpos entre o 20º e 33º dia após a infecção, chegando a sensibilid­ade sorologica —quando o teste detecta o vírus— de 91,8%.

Na prática, isso quer dizer que pelo menos 8% dos casos não desenvolve­m anticorpos detectávei­s nem mesmo na fase mais aguda da doença.

Foram investigad­as mais de 6.300 amostras de sangue colhidas por hemocentro­s pela Hemoan (Fundação Hospitalar de Hematologi­a e Hemoterapi­a do Amazonas).

Apesar das descoberta­s, não é possível associar a queda na quantidade de casos em Manaus apenas a imunidade de rebanho. Dados de celulares indicam que a partir de março, manauaras aumentaram o distanciam­ento social.

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Tacio Melo/Secom Escola Estadual Jacimar da Silva Gama, em Manaus, voltou a receber os alunos em 10 de agosto

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