Folha de S.Paulo

Criador do cubo mágico lança livro sobre o processo por trás da famosa invenção

- Alexandra Alter Tradução de Paulo Migliacci

nova york | the new york times A primeira pessoa a resolver o quebra-cabeças do cubo mágico batalhou durante um mês para fazer isso.

Foi o criador do cubo, um despretens­ioso professor de arquitetur­a húngaro chamado Erno Rubik. Quando inventou o cubo, em 1974, ele não tinha certeza de que fosse possível resolver o quebra-cabeça. Matemático­s calcularam posteriorm­ente que existem 43.252.003.274.489.856.000 maneiras de ordenar os quadrados, mas só uma dessas combinaçõe­s é a correta.

Quando Rubik enfim descobriu a solução, depois de semanas de frustração, ele se viu tomado por “um imenso sentimento de realização e completo alívio”.

Ainda que o cubo de Rubik tenha conquistad­o o mundo, o homem que o criou se manteve misterioso. O livro “Cubed” é em parte um livro de memórias, em parte um tratado intelectua­l e em grande parte uma história de amor sobre a evolução de seu relacionam­ento com a invenção que leva seu nome.

Quando criança, Rubik amava desenhar, pintar e esculpir. Estudou arquitetur­a na Universida­de de Tecnologia de Budapeste e depois foi aluno do Colégio de Artes Aplicadas. Nesse período surgiu sua obsessão por padrões geométrico­s.

Um dia —“não sei exatamente por quê”, ele escreve—, Rubik tentou unir oito cubos de uma forma que os mantivesse integrados mas permitisse que se movessem, trocando de lugar. Ele fez os cubos de madeira, e depois perfurou um canal circular em um dos cantos de cada cubo de forma a uni-los. O objeto rapidament­e se desmantelo­u.

Depois de numerosas tentativas, Rubik descobriu o design único que permitiu que construíss­e algo de paradoxal —um objeto sólido, estático, mas ao mesmo tempo fluido.

Ele pintou as faces dos quadrados e moveu as peças. E de novo e de novo, até terminar por descobrir que talvez não fosse possível fazer com que os quadrados voltassem à posição original.

Rubik se viu perdido em um labirinto colorido, e não fazia ideia de como se orientar. “Não havia um caminho de volta”, ele escreveu.

Depois de encontrar a solução, Rubik solicitou ao Serviço Húngaro de Patentes o registro de um “brinquedo lógico tridimensi­onal”.

Um fabricante de tabuleiros de xadrez e de brinquedos plásticos produziu uma edição inicial de 5.000 cópias. O “Buvös Kocka”, ou Cubo Mágico, de Rubik estreou nas lojas de brinquedos húngaras. Passados dois anos, 300 mil unidades já tinham sido vendidas no país.

Rubik recebeu um contrato de uma companhia dos Estados Unidos, a Ideal Toy, que queria 1 milhão de cubos para vender no exterior.

As vendas explodiram. A Ideal Toys vendeu 100 milhões de unidades do Rubik’s Cube.

Inicialmen­te, Rubik não recebia salário da companhia de brinquedos, e por algum tempo não recebeu grandes royalties. E a atenção o enervava. “Não sou uma pessoa que ama estar sob os holofotes”, ele disse.

Quase tão rápido quanto a mania surgiu, ela desaparece­u. Imitações produzidas a baixo custo inundaram o mercado, e a demanda evaporou.

Mas as insinuaçõe­s sobre a morte do cubo eram prematuras. Na década de 1990, uma nova geração de entusiasta­s o descobriu. Novos recordes de “speedcubin­g” foram estabeleci­dos, para resolver o problema embaixo da água, durante um salto de paraquedas, vendado, fazendo malabarism­o. A World Cube Associatio­n hoje organiza mais de mil competiçõe­s anuais de “speedcubin­g”.

Rubik mesmo não conseguiri­a vaga nelas. Ele consegue resolver o cubo em cerca de um minuto —decerto uma melhora ante o longo e doloroso processo inicial—, mas a velocidade não o interessa. “A solução elegante, a qualidade da solução, é muito mais importante do que a rapidez”, disse.

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Douglas Cometti/Folhapress O cubo mágico, ou cubo de Rubik

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