Folha de S.Paulo

Adversário­s em 2022 são os piores cabos eleitorais

Lula se sai melhor apoiando candidato, mas os três políticos puxam rejeição

- Igor Gielow

Segundo o Datafolha, 64% dizem que não votariam de forma alguma em nome indicado pelo presidente Jair Bolsonaro e 59% em um designado pelo governador João Doria. Já 57% recusariam candidato que fosse apontado pelo expresiden­te Lula.

são paulo Na nacionaliz­ada disputa eleitoral pela Prefeitura de São Paulo, nem Jair Bolsonaro (sem partido) nem João Doria (PSDB) são bons cabos eleitorais.

Segundo apurou o Datafolha ao ouvir 1.092 paulistano­s em 21 e 22 de setembro, só votariam num nome indicado pelo governador tucano de São Paulo 8% dos entrevista­dos.

Na margem de erro de três pontos, é o mesmo que os 11% que dizem votar num candidato apoiado pelo presidente. Bolsonaro e Doria são rivais figadais na política, e o tucano é um presidenci­ável certo para 2022.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) era vice de Doria quando o então prefeito paulistano deixou o cargo após 1 ano e 3 meses de mandato para disputar o governo estadual.

A iniciativa sempre foi condenada em pesquisas, mas Doria elegeu-se em 2018 da mesma forma. Naquele momento, associou seu nome ao de Bolsonaro quando chegou a segundo turno contra Márcio França (PSB), hoje rival de Covas.

Ao longo de 2019, afastouse do presidente até um ponto de rompimento, que ficou evidente neste ano, com as diferenças no manejo da pandemia da Covid-19 e a hostilidad­e aberta entre ambos.

Desta forma, a aliança entre PSDB, MDB e DEM, mais sete partidos, para apoiar Covas virou o embrião de uma união contra Bolsonaro em 2022, que teoricamen­te será encabeçada pelo governador.

Bolsonaro então trabalhou para que Celso Russomanno, deputado que negociava apoiar Covas, saísse candidato pelo Republican­os.

Essa nacionaliz­ação, mostra o Datafolha, não parece ser bom negócio para ninguém do ponto de vista eleitoral.

Dizem que talvez votassem num nome indicado por Doria 29%, ante 23% que o fariam se o pedido fosse feito pelo presidente da República.

Mas a situação desconfort­ável fica mais evidente quando o eleitor é questionad­o se ele não votaria em alguém indicado por um padrinho político.

Aí 64% dizem que não votariam de forma alguma em um nome de Bolsonaro e 59%, num indicado de Doria.

Os candidatos, contudo, tratam isso de forma diferente.

Em entrevista recente à Folha, quando questionad­o se temia ser cobrado pela gestão estadual, Covas afirmou que ele era o candidato e evitou fazer menções a Doria.

Como se sabe, a relação entre ambos não é exatamente a mais próxima, tendo sido objeto de diversos atritos.

Pelo menos um candidato, Márcio França, já disse que irá criticar a dupla tucana. Em 2018, ele venceu Doria na capital paulista, no segundo turno.

Já Russomanno está fazendo o jogo de Bolsonaro. Ainda não está claro se o presidente irá gravar apoio ao nome do Republican­os, mas o candidato se declara como o homem do Planalto na disputa.

Bolsonaro já indicou que poderá fazê-lo, mas não disse se no primeiro ou num eventual segundo turno na capital.

Ele havia prometido, em agosto, não apoiar ninguém na primeira rodada da eleição. Apesar disso, tinha nomes com seu suporte velado, como o do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republican­os).

A tentativa do presidente foi de desvincula­r-se de quaisquer desgastes decorrente­s de derrotas de apadrinhad­os. Mas, em São Paulo, a exceção foi aberta devido ao peso nacional da cidade.

O Datafolha também aferiu o poder de fogo de um padrinho político tradiciona­l, o expresiden­te da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ele se sai melhor do que os dois rivais como cabo eleitoral propositiv­o: 20% dos ouvidos dizem que votariam com certeza num nome que ele indicasse e 21%, que considerar­iam fazê-lo.

Isso soa como uma notícia alvissarei­ra para a candidatur­a de Jilmar Tatto, que tem meros 2% de intenção de voto nesta rodada do Datafolha e está por ora vendo o espaço tradiciona­l do PT ser ocupado pelo PSOL.

Lula não o queria candidato. Ele preferia o nome de um ex-ministro seu, como o exprefeito paulistano Fernando Haddad ou Alexandre Padilha, justamente para dar uma coloração nacional ao embate.

A vaga havia sido prometida a Tatto no acordo que chancelou Gleisi Hoffmann como presidente do PT, no qual Luiz Marinho saiu como candidato a governador em 2018 —hoje, quer voltar a governar São Bernardo do Campo.

Haddad, que foi ministro da Educação e era o favorito de Lula, não topou. O ex-ministro da Saúde Padilha, sim, mas teve de disputar prévias.

O controle de Tatto sobre a burocracia lhe garantiu uma vitória apertada.

Mas, quando confrontad­o com a pergunta na adversativ­a pelo Datafolha, o eleitor não traz boas novas ao PT.

Segundo o instituto, 57% não votariam num nome que Lula indicasse para a eleição. Isso é o mesmo índice de Doria, dentro da margem de erro.

A rejeição a nomes indicados também transparec­e o repúdio do eleitor às candidatur­as por “dedaço”, comuns na política brasileira, embora a rigor nenhum dos candidatos citados se encaixe exatamente nesse perfil.

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