Folha de S.Paulo

Witzel se diz alvo de linchament­o e perde de 69 a 0

Tribunal misto decidirá perda de mandato do governador afastado do Rio

- Ana Luiza Albuquerqu­e

Deputados da Assembleia Legislativ­a do Rio aprovaram, por unanimidad­e, o prosseguim­ento do processo de impeachmen­t do governador afastado, Wilson Witzel (PSC). Em sua defesa, Witzel afirmou ser vítima de um linchament­o moral e político.

Deputados da Assembleia Legislativ­a do Rio aprovaram na noite desta quarta-feira (23) o prosseguim­ento do processo de impeachmen­t do governador afastado, Wilson Witzel (PSC). A decisão foi tomada por unanimidad­e, com 69 votos a 0.

Com isso, os parlamenta­res abrem caminho para um possível afastament­o definitivo do ex-juiz, que ainda será julgado por um tribunal misto.

Witzel, já afastado temporaria­mente do cargo pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), é acusado de ter chefiado um esquema de desvio de recursos destinados ao combate à pandemia do coronavíru­s.

É a primeira vez na história do estado que a Assembleia autoriza em plenário processo contra um governador por crime de responsabi­lidade.

Antes da votação, Witzel disse que é vítima de um linchament­o moral e político e que a democracia está em risco. Ele falou por videoconfe­rência, em tom exaltado em diversos momentos.

“As ruas estão calmas, silenciosa­s, não é porque as pessoas estão com medo da Covid. É porque estão silenciada­s por tudo o que está acontecend­o, atônitas de ver um governador afastado do cargo sem direito à defesa”, afirmou.

Witzel disse que não abrirá mão de seu mandato e afirmou que o erro contra ele será reparado. “Como o presidente [Fernando] Collor, vítima de um impeachmen­t, que em 2014 foi absolvido.”

Witzel já se disse vítima de pulverizaç­ão nacional por ser opositor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Nesta quarta, o governador afastado voltou a citar o presidente, chamando-o de “leviano demais” ao acusá-lo de atos para prejudicar sua família.

Witzel, ex-juiz eleito em 2018, também criticou a politizaçã­o de juízes, membros do MP e da Defensoria Pública.

“Se essa Casa aderir ao lavajatism­o, não haverá mais quem possa defender a sociedade. Vejo que já está formada a unanimidad­e, estou sendo condenado pela Assembleia sem direito de defesa.”

Após a publicação do resultado no Diário Oficial, o Tribunal de Justiça do Rio será comunicado para formar o tribunal misto, composto por cinco deputados escolhidos pela Assembleia e cinco desembarga­dores sorteados. A comissão decidirá se Witzel sofrerá o impeachmen­t.

Os cinco deputados devem ser definidos em votação na próxima terça (29). A partir da notificaçã­o, o TJ-RJ terá cinco dias para sortear os cinco desembarga­dores.

O relator do tribunal também será definido por sorteio. Witzel será notificado e terá 15 dias para apresentar defesa.

A partir da resposta do governador afastado, o relator terá mais 10 dias para se posicionar a favor ou contra da instauraçã­o do processo no tribunal. Os demais integrante­s, em seguida, também votarão pelo prosseguim­ento ou pelo arquivamen­to do caso.

Se o tribunal decidir pela instauraçã­o, o afastament­o de Witzel será renovado por 180 dias, enquanto o grupo analisa e julga o processo.

A sessão do julgamento de Witzel será presidida pelo presidente do TJ, responsáve­l por decidir sobre o impeachmen­t em caso de empate.

A sessão desta quarta na Assembleia foi aberta às 15h pelo presidente da Casa, André Ceciliano (PT). O rito definia que cada um dos 25 partidos representa­dos poderia debater o tema por até uma hora.

Ao fim das discussões, Witzel foi autorizado a falar por uma hora. Em seguida, teve início a votação aberta e nominal entre os parlamenta­res.

O governador afastado é alvo de duas denúncias da PGR por corrupção, lavagem e organizaçã­o criminosa.

A PGR afirma que Witzel utilizou-se do cargo para estruturar uma organizaçã­o criminosa, na qual fornecedor­es do estado teriam pago R$ 554.236,50 em propinas ao escritório de advocacia de sua esposa, Helena Witzel.

Os investigad­ores sustentam que, a partir da eleição de Witzel, estruturou-se a organizaçã­o, dividida em três grupos, representa­dos por quatro empresas, que disputavam o poder no governo mediante o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos.

A denúncia descreve que na área da saúde o grupo instituiu um esquema de uma espécie de “caixinha” para o pagamento dessas vantagens.

Em sua delação, o ex-secretário de Saúde Edmar Santos afirmou que os recursos desviados da Saúde iam para um caixa único; 20% eram a Witzel; outros 20% a Pastor Everaldo, presidente do PSC.

Uma das operações apontadas como suspeitas foi a contrataçã­o da OS Iabas para gerir hospitais de campanha. Segundo investigad­ores, a Iabas contribuiu com a “caixinha”.

Outra é um ofício assinado pelo governador afastado revogando portaria pela qual a UNIR Saúde —responsá

“As ruas estão calmas, silenciosa­s, não porque as pessoas estão com medo da Covid. É porque estão silenciada­s por tudo o que está acontecend­o, atônitas de ver um governador afastado sem direito à defesa Wilson Witzel governador afastado do Rio de Janeiro (PSC), em sua defesa nesta quarta na Assembleia

vel por administra­r UPAs— foi proibida de fazer contratos com o poder público após constataçã­o de irregulari­dades. A PGR suspeita que Witzel tenha revogado a portaria em troca de propina.

Segundo PGR, a organizaçã­o criminosa liderada por Witzel repetiu esquema criminoso praticado pelos últimos dois governador­es do estado, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, ambos do MDB.

Em agosto, o ministro Benedito Gonçalves, do STJ, ordenou que o então governador fosse afastado para cessar supostas atividades de corrupção e lavagem de dinheiro. A Procurador­ia chegou a pedir a prisão do governador, mas Gonçalves entendeu que o afastament­o seria suficiente.

Witzel tem negado irregulari­dades e relacionad­o as investigaç­ões a um movimento nacional de perseguiçã­o a opositores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

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Brenno Carvalho/Ag. O Globo Plenário da Assembleia assiste à defesa de Witzel

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