Folha de S.Paulo

Áreas críticas de fogo na Amazônia estão em fazendas

Levantamen­to mostra que municípios com mais desmate também são os com mais queimadas

- Ana Carolina Amaral

Propriedad­es rurais de médio e grande porte respondem por 72% dos focos de calor ocorridos em 2019 nas quatro maiores áreas críticas —os chamados “hotspots”— da Amazônia. O dado é de projeto da Ambiental Media e do Pulitzer Center.

são paulo Propriedad­es rurais de médio e grande porte respondem por 72% dos focos de calor ocorridos em 2019 nas quatro maiores áreas críticas —os “hotspots”— da Amazônia. A conclusão é do projeto Cortina de Fumaça, lançado nesta quarta (23) pela Ambiental Media em parceria com o Pulitzer Center, através do Rainforest Journalism Fund.

O trabalho cruzou dados oficiais públicos de desmatamen­to e queimadas, monitorado­s pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que reúne declaraçõe­s de proprietár­ios rurais sobre a área de seus imóveis.

Os quatro maiores “hotspots” do desmatamen­to —Altamira (PA), São Félix do Xingu (PA), Porto Velho (RO) e Lábrea (AM)— foram responsáve­is por 17,5% do desmate na Amazônia Legal ocorrido entre agosto de 2018 e julho de 2019. Eles também encabeçam a lista dos municípios com mais focos de calor no ano de 2019, segundo o Banco de Dados de Queimadas do Inpe.

A abordagem dos municípios no topo dos rankings do desmatamen­to e de queimadas mostra uma concentraç­ão dessas atividades em grandes propriedad­es, diferentem­ente do que apontou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Assembleia Geral da ONU na terça-feira (22), ao culpar índios e caboclos pelas queimadas na Amazônia.

Quando considerad­a toda a Amazônia Legal, as parcelas de responsabi­lidade pelas queimadas ficam mais distribuíd­as: 50% das queimadas acontecera­m em fazendas médias e grandes no primeiro semestre de 2020 e apenas 10% em pequenas propriedad­es, segundo nota técnica do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

Assentamen­tos rurais e terras indígenas respondem, respectiva­mente, por 11% e 12% das queimadas nesse período, enquanto outros 8% dos focos de calor ocorrem em terras públicas não destinadas, o que sinaliza grilagem. “Esses números demonstram como o fogo é ainda amplamente utilizado no manejo de pastos e áreas agrícolas, independen­temente do tamanho do imóvel ou do lote”, diz a nota do Ipam.

O cruzamento de dados do Inpe também mostra, através de mapas de desmatamen­to e queimadas, a sobreposiç­ão da ocorrência de focos de calor nas mesmas áreas que sofreram desmate.

Os mapas confirmam a relação das queimadas com o ciclo de desmatamen­to, em que o fogo é usado para queimar a vegetação derrubada, liberando o terreno desmatado.

Segundo nota técnica do Ipam, a proporção do fogo ligado a desmatamen­to mais que dobrou no último ano, chegando a responder por 34% das causas de focos de calor, em relação aos anos de 2016 e 2017, quando era 15% do total.

Ainda em 2019, as atividades agropecuár­ias respondera­m por 36% dos focos de calor registrado­s. Já os incêndios florestais —que no bioma amazônico são causados pela expansão do fogo vindo do desmatamen­to ou da agropecuár­ia— respondera­m por 30% da área queimada no período.

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Laura Kurtzberg/Ambiental Media Mapa mostra tamanho das fazendas e localizaçã­o e densidade do fogo

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