Folha de S.Paulo

Paella de senadores tem abraços e união de mesas

- Iara Lemos e Pedro Ladeira

O vice-líder do governo no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF), recebeu um grupo de senadores na noite da última terça (22) para um jantar de confratern­ização. O evento se deu em meio à pandemia da Covid-19.

O jantar tinha cerca de 50 convidados. Por volta das 21h30, no entanto, havia cerca de 20 pessoas, entre congressis­tas e acompanhan­tes. Foi servida uma paella.

Logo que chegaram os parlamenta­res aproximara­m as cadeiras e uniram as mesas, que estavam colocadas de acordo com as regras de distanciam­ento social. Teve senador que tirou a máscara do rosto próximo dos colegas. Houve até abraços.

O evento, realizado no salão de um clube de Brasília, estava marcado para iniciar às 20h. No horário, porém, a sessão no plenário da Casa ainda não havia terminado, o que ocorreu 15 minutos depois.

Esta é a primeira semana em que congressis­tas estão em Brasília desde o início das sessões remotas por causa da Covid-19. Após seis meses, senadores voltaram à capital para atividades presenciai­s.

Como medida de segurança, eles estrearam um sistema drive-thru de votação. De dentro dos carros, senadores evitaram aglomeraçõ­es em uma comissão. No salão onde ocorria o jantar, contudo, o distanciam­ento não foi seguido.

O primeiro a chegar ao local, por volta das 20h05, foi o vicepresid­ente do Senado, Antonio Anastasia (PSD-MG). Na sequência, Marcos do Val (Podemos-ES) entrou no salão.

Eles abriram o espaço, que ainda não tinha nem a presença do anfitrião. Izalci chegou com meia hora de atraso. Logo depois foi a vez do senador Jean Paul Prates (PT-RN).

Alguns minutos antes, Izalci havia dito que o jantar nem deveria acontecer, porque parte dos convidados ficou com receio de comparecer depois que a Folha publicou reportagem sobre o evento.

“Acho que vocês [Folha] conseguira­m derrubar meu jantar. Acho que ninguám vai vir”, afirmou.

A maior parte dos convidados foi para o jantar no carro oficial do Senado. Foi o caso do senador Ciro Nogueira (PP-PI). Ele é um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A lista de confirmaçõ­es começou a ser elaborada na noite de segunda (21). A ideia inicial de Izalci era reunir alguns parlamenta­res na sua casa para servir uma paella, prato típico da culinária espanhola.

Ele é conhecido por convidar os colegas para sua residência. Lá, costumava, antes da pandemia, realizar almoços, jantares e até jogos de futebol entre os colegas.

O prato típico espanhol foi tão atrativo que a confratern­ização cresceu e precisou mudar de endereço. Na terça, o senador reservou o salão de um clube para o evento, que teve música ao vivo.

“É mais perigoso no plenário apertado do que no jantar com todo aquele espaço no salão”, disse o senador, pouco antes do evento.

Entre as bebidas, Izalci providenci­ou vinhos, refrigeran­tes e água. Ele não soube dizer o custo da confratern­ização. Quatro garçons foram escalados para trabalhar no jantar.

A Folha já mostrou que, embora a pandemia não tenha terminado nem exista vacina para a Covid-19, autoridade­s retomaram festas e cerimônias em Brasília. No país, são mais de 4,6 milhões de casos e 138 mil mortes em decorrênci­a do novo coronavíru­s.

Há duas semanas, a posse de Luiz Fux na presidênci­a do STF (Supremo Tribunal Federal) resultou em pelo menos oito autoridade­s com resultado positivo para a Covid-19, inclusive o próprio Fux.

A cerimônia no último dia 10 foi presencial, no plenário da corte. Em seguida, houve um coquetel para os convidados.

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Pedro Ladeira/Folhapress Senadores e convidados se abraçam em jantar de confratern­ização promovido por Izalci Lucas (PSDB-DF) em clube de Brasília

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