Nova York procura saída para déficit bilionário que agrava a desigualdade
são paulo Quando 2020 começou, o estado de Nova York e sua principal cidade, Nova York, onde vivem dois terços da população, concentravam-se em três prioridades: aumentar ou não impostos para cobrir rombos bilionários, discutir a legalização da maconha e como reduzir a população carcerária à espera de julgamentos.
Poucos meses depois, com o estado atônito ao se tornar o epicentro mundial da pandemia do coronavírus, a polêmica era se a cidade de Nova York deveria enterrar ou não seu excesso de mortos em parques públicos.
Como solução, optou-se pela Hart Island, próxima ao distrito do Bronx, onde valas comuns começaram a ser abertas em abril. Cerca de 24 mil pessoas morreram na cidade —33 mil no estado.
Imã para cerca de 50 milhões de turistas todos os anos e um dos locais mais caros do mundo para viver, Nova York está entre os pontos mais afetados pela Covid-19, e seus impactos tendem a ser duradouros —o estado prevê perdas de receitas de US$ 62 bilhões (R$ 343,8 bilhões) de 2020 a 2024.
Entre as alternativas que legisladores procuravam em janeiro para déficit previsto de US$ 6 bilhões (R$ 33 bilhões) estava o corte de quase US$ 1 bilhão (pouco mais de 1%) nos gastos com o Medicaid, programa de saúde pública para baixa renda.
Na cidade de Nova York, o Medicaid atende 6 milhões de pessoas e, no estado, respondia por mais de um terço do déficit. Como demonstrado, mesmo sem os cortes, o programa é insuficiente para atender os mais pobres, cujas situação de vulnerabilidade e distância que estão dos milionários de Manhattan havia décadas não se mostravam tão evidentes.
Estão longe do fim os impactos da Covid-19 sobre os mais pobres, assim como nos milhões de jovens que pagam aluguel em Nova York e trabalham no setor de serviços.
Recentemente, o Independent Budget Office, agência que controla o orçamento da cidade, estimou em US$ 9,7 bilhões (R$ 53,8 bilhões) a perda de arrecadação só neste ano. O corte nos empregos deve chegar a 475 mil.
A queda de receita tributária com restaurantes, museus, shows da Broadway e a proibição da entrada de turistas de vários países em Nova York terão impacto também sobre outras cidades.
Antes da Covid-19, o governador democrata Andrew Cuomo resistia à ideia de membros de seu partido de elevar a taxação sobre os mais ricos, opção que voltou à mesa —assim como a de dispensar milhares de funcionários públicos.
O estado também considera autorizar a exploração de mais cassinos em seu território; mesma ideia que ocorre à cidade de Nova York, onde inexiste essa atividade.
Embora as receitas desses negócios venham caindo nos últimos anos, a estimativa é arrecadar, no curto ou médio prazos, alguns bilhões de dólares.
Isso no caso de haver interessados —e de as pessoas poderem voltar a se juntar para jogar.