Disputa por estátuas na Carolina do Sul evidencia onda contra ícones racistas
bauru (sp) Quando Chadwick Boseman morreu vítima de um câncer no fim de agosto, multiplicaram-se as homenagens ao ator, famoso por ter interpretado o rei T’Challa em “Pantera Negra”. O filme se tornou um marco por apresentar um elenco principal quase totalmente formado por negros.
A morte de Boseman, porém, teve um significado diferente na cidade de Anderson, na Carolina do Sul, onde ele nasceu e cresceu. Moradores organizaram ao menos três petições para erigir uma estátua em sua homenagem. Juntas, as campanhas somam mais de 232 mil assinaturas —quase nove vezes a população do município.
A ideia é substituir o Monumento Confederado localizado em uma praça central da cidade — na construção, um texto diz que, um dia, “o mundo decidirá” que os soldados que morreram defendendo que negros continuassem sendo escravizados nos EUA “estavam com a razão”.
Uma lei da Carolina do Sul só permite a remoção de monumentos aos confederados se a proposta for aprovada por pelo menos dois terços dos legisladores estaduais.
Os criadores das petições pedem que a regra seja revogada para que a estátua de Boseman ocupe o pedestal.
O que acontece na Carolina do Sul é uma fração do movimento que se espalhou pelos EUA e pelo mundo afora para repensar a existência de monumentos históricos em homenagem a figuras com passado controverso.
A discussão alcançou a campanha dos dois candidatos à Presidência dos EUA.
De um lado, Donald Trump adotou um discurso duro em relação aos atos contra o racismo e a violência policial que se espalharam pelo país após o assassinato de George Floyd. De outro, Joe Biden tem demonstrado apoio aos manifestantes e escolheu Kamala Harris, uma mulher negra, para ser sua vice.
Nenhum dos dois apresentou propostas específicas sobre a controversa questão dos monumentos, mas há diferenças claras em suas formas de abordagem do tema.
Em discurso no Dia da Independência, Trump se referiu ao movimento que defende a retirada das estátuas como uma “revolução cultural de esquerda” com o objetivo de “apagar a história do país”. Também assinou uma ordem executiva para proteger monumentos federais.
Já Biden se posicionou contra atos de vandalismo em manifestações, mas disse que monumentos confederados devem ficar em museus e não expostos em praças públicas. O ex-vice de Barack Obama, primeiro presidente negro da história dos EUA, promete tratar como prioridade a agenda dedicada a lidar com “os custos trágicos do racismo estrutural”.
Para Denilde Holzhacker, coordenadora do Núcleo de Estudos Americanos da ESPM, Biden deve conduzir, se eleito, um programa mais proativo em relação à comunidade negra e a outros grupos que sofrem com a desigualdade. Já se Trump for reeleito, a tendência é que o país continue muito polarizado em relação às pautas raciais.