Com dados alarmantes, Nevada retrata epidemia da violência doméstica
são paulo Se a série dos anos 1990 “Sex and the City” se passasse em Las Vegas em vez de na cidade de Nova York, uma das quatro mulheres protagonistas teria sido vítima de alguma forma de abuso doméstico, com grandes chances de outra das personagens do quarteto ter passado pelo mesmo.
O estado de Nevada é o segundo em casos de violência sexual, física ou perseguição de mulheres cujo autor é o parceiro —43,8% das moradoras já foram vítimas desses abusos. A média nacional é 37,3%, segundo estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) de 2017, com dados de 2010 a 2012. Kentucky lidera, com 45,3%.
Com uma taxa tão alta, o abuso dentro de casa é tratado como epidemia pela Coalizão Nacional contra a Violência Doméstica (NCADV, na sigla em inglês). Segundo a organização, a cada 20 minutos um americano é fisicamente abusado por seu parceiro —somados casos de homens e mulheres.
Essa violência, que atinge principalmente indígenas americanas e negras (47,5% e 45,1% já foram vítimas de seus parceiros, respectivamente), geralmente vem acompanhada de um comportamento controlador e pode resultar em trauma psicológico e assassinato.
Os casos de feminicídio põem Nevada entre os líderes nacionais. Por muitos anos, segundo o NCADV, o estado liderou a lista, caindo para a quarta posição no mais recente relatório do Violence Policy Center, com dados de 2017, com 2,03 vítimas a cada 100 mil mulheres.
Eram, em sua maioria, brancas, na casa dos 30 anos, e todas conheciam o assassino. Em nenhum caso cujas circunstâncias puderam ser identificadas houve crime cometido pelas vítimas.
Nacionalmente, a taxa de feminicídios na série histórica vinha em queda desde 1996, atingindo seu nível mais baixo em 2014 e voltou a subir nos três anos seguintes.
A chance, porém, de todos esses dados serem só uma porção da realidade é grande. Nevada está na posição 23 em denúncias da linha direta para reportar abusos.
Em 2015, foram 1.791 contatos, por telefone ou chat. O maior volume veio de Las Vegas (69%), e a ampla maioria das denúncias foi referente a abusos emocionais ou verbais (95%), seguidos de abusos físicos (71%). A subnotificação é crônica.
No contexto eleitoral, o assunto é pouco comentado diretamente pelos candidatos presidenciais, apesar de denúncias de assédio permearem as biografias tanto de Donald Trump quanto de Joe Biden.
Mas se Trump passa ao largo do tema na campanha, Biden apresenta propostas, como o projeto de expandir a rede de segurança de vítimas e acabar com a fila de exames de corpo de delito ligados a estupros que aguardam análise técnica.
Estima-se que centenas de milhares de exames estejam armazenados em delegacias e laboratórios, o que gera forte lobby de organizações pela finalização dos testes.