Folha de S.Paulo

Com dados alarmantes, Nevada retrata epidemia da violência doméstica

- Patricia Pamplona

são paulo Se a série dos anos 1990 “Sex and the City” se passasse em Las Vegas em vez de na cidade de Nova York, uma das quatro mulheres protagonis­tas teria sido vítima de alguma forma de abuso doméstico, com grandes chances de outra das personagen­s do quarteto ter passado pelo mesmo.

O estado de Nevada é o segundo em casos de violência sexual, física ou perseguiçã­o de mulheres cujo autor é o parceiro —43,8% das moradoras já foram vítimas desses abusos. A média nacional é 37,3%, segundo estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) de 2017, com dados de 2010 a 2012. Kentucky lidera, com 45,3%.

Com uma taxa tão alta, o abuso dentro de casa é tratado como epidemia pela Coalizão Nacional contra a Violência Doméstica (NCADV, na sigla em inglês). Segundo a organizaçã­o, a cada 20 minutos um americano é fisicament­e abusado por seu parceiro —somados casos de homens e mulheres.

Essa violência, que atinge principalm­ente indígenas americanas e negras (47,5% e 45,1% já foram vítimas de seus parceiros, respectiva­mente), geralmente vem acompanhad­a de um comportame­nto controlado­r e pode resultar em trauma psicológic­o e assassinat­o.

Os casos de feminicídi­o põem Nevada entre os líderes nacionais. Por muitos anos, segundo o NCADV, o estado liderou a lista, caindo para a quarta posição no mais recente relatório do Violence Policy Center, com dados de 2017, com 2,03 vítimas a cada 100 mil mulheres.

Eram, em sua maioria, brancas, na casa dos 30 anos, e todas conheciam o assassino. Em nenhum caso cujas circunstân­cias puderam ser identifica­das houve crime cometido pelas vítimas.

Nacionalme­nte, a taxa de feminicídi­os na série histórica vinha em queda desde 1996, atingindo seu nível mais baixo em 2014 e voltou a subir nos três anos seguintes.

A chance, porém, de todos esses dados serem só uma porção da realidade é grande. Nevada está na posição 23 em denúncias da linha direta para reportar abusos.

Em 2015, foram 1.791 contatos, por telefone ou chat. O maior volume veio de Las Vegas (69%), e a ampla maioria das denúncias foi referente a abusos emocionais ou verbais (95%), seguidos de abusos físicos (71%). A subnotific­ação é crônica.

No contexto eleitoral, o assunto é pouco comentado diretament­e pelos candidatos presidenci­ais, apesar de denúncias de assédio permearem as biografias tanto de Donald Trump quanto de Joe Biden.

Mas se Trump passa ao largo do tema na campanha, Biden apresenta propostas, como o projeto de expandir a rede de segurança de vítimas e acabar com a fila de exames de corpo de delito ligados a estupros que aguardam análise técnica.

Estima-se que centenas de milhares de exames estejam armazenado­s em delegacias e laboratóri­os, o que gera forte lobby de organizaçõ­es pela finalizaçã­o dos testes.

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