Folha de S.Paulo

Justiça indicia só 1 dos 3 policiais envolvidos na morte de Breonna

- Rukmini Callimachi Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

LOUISVILLE (EUA) | THE NEW YORK TIMES A Justiça indiciou um ex-policial de Louisville nesta quarta (23) por exposição de cidadão a risco injustific­ado em uma operação antidrogas que levou à morte da jovem negra Breonna Taylor, em março. Nenhuma acusação foi anunciada contra outros dois policiais que dispararam durante a ação.

A tripla acusação é feita contra Brett Hankison, na época detetive, que atirou contra a porta de vidro do quintal e a janela do prédio de Breonna, ambos cobertos com persianas, violando regra da polícia que exige que os agentes tenham linha de visão.

Ele é o único dos três oficiais demitido da polícia, com uma carta de rescisão declarando que ele demonstrou “extrema indiferenç­a pelo valor da vida humana”.

A decisão foi tomada após mais de cem dias de protestos e de uma investigaç­ão de um mês sobre a morte de Breonna, profission­al de saúde de 26 anos baleada cinco vezes no corredor de seu apartament­o.

Como os policiais não atiraram primeiro —foi o namorado da jovem, que disse que os confundiu com intrusos—, juristas achavam improvável o indiciamen­to dos oficiais.

A mãe de Breonna processou a Prefeitura de Louisville por homicídio culposo e recebeu US$ 12 milhões (R$ 63 milhões) em um acordo.

Ela e seus advogados, no entanto, insistiram que só aceitariam acusações de homicídio contra os três policiais, demanda aprovada por milhares de manifestan­tes em Kentucky e em todo o país.

A opinião dos juristas é baseada na legislação do estado, que permite usar força letal em legítima defesa. John W. Stewart, ex-secretário-assistente de Justiça em Kentucky, disse acreditar que pelo menos dois oficiais estavam protegidos por essa lei.

“Como um afro-americano, que também foi vítima de má conduta policial, parado na rua e revistado, sei como as pessoas se sentem”, disse Stewart. “Já vivi isso, mas também fui promotor. Emoções não podem interferir aqui.”

Dois oficiais, o sargento Jon Mattingly e o detetive Myles Cosgrove, reagiram aos tiros na direção do namorado de Breonna, Kenneth Walker, segundos documentos internos.

No caos que se seguiu, Mattingly foi baleado, com ferimento na artéria femoral, e os outros o arrastaram para fora do apartament­o.

Em antecipaçã­o à decisão do júri, a Polícia de Louisville cancelou as férias de oficiais, e o chefe de polícia, Robert Schroeder, ordenou um estado de emergência de dez dias.

Um juiz local assinou uma ordem fechando o tribunal federal no centro da cidade, onde vitrines e prédios de escritório­s foram lacrados com tábuas devido aos protestos.

Barricadas e cercas metálicas bloquearam ruas próximas a um parque que havia sido o núcleo de atos. Outras restrições foram anunciadas.

No Twitter na terça (22), o prefeito Greg Fischer disse que, com essas medidas, “o objetivo é garantir espaço e oportunida­de para os possíveis manifestan­tes se reunirem e expressare­m seus direitos da Primeira Emenda”, além de “manter todos seguros”.

Logo após o anúncio da Justiça, manifestan­tes foram às ruas para expressar frustração. Centenas marcharam enquanto gritavam “nenhuma vida importa até que as vidas dos negros importem”.

Ainda que os atos tenham sido, em sua maioria, pacíficos, no bairro de Highlands, no limite do centro da cidade, vários ativistas jogaram garrafas de água em policiais, que respondera­m com bolas de pimenta. Seguiram-se brigas, e algumas janelas de lojas da área foram quebradas.

Na noite desta quarta, um agente foi bale adoem Lo uisville, segundo a polícia metropolit­a nada cidade, que não deu mais detalhes sobre o caso.

Multidões de diferentes tamanhos também se reuniram em Nova York, Washington, Atlanta e Chicago.

Os policiais que arrombaram a porta de Breonna logo após a meia-noite de 13 de março tinham um mandado de busca e apreensão. Eles tinham a aprovação do tribunal para entrar no local sem aviso prévio, o que Louisville depois proibiu. As ordens, porém, foram alteradas antes da ação, exigindo que batessem primeiro e se identifica­ssem.

O caso tem sido um grito de guerra. A frustração aumentou em Louisville com a lentidão da investigaç­ão. E foi agravada por uma administra­ção que se recusou a divulgar os registros básicos e cometeu erros em documentos divulgados.

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