Folha de S.Paulo

Noruega libera sistema gratuito que monitora florestas

- Phillippe Watanabe

são paulo Imagens de satélite que custaram dezenas milhões de reais aos cofres públicos estão agora disponívei­s gratuitame­nte. A empresa Planet, a partir de um acordo com o governo da Noruega, irá disponibil­izar suas imagens de alta definição para monitorame­nto de florestas tropicais, como a Amazônia.

O objetivo da parceria e da distribuiç­ão das imagens é ajudar no combate ao desmatamen­to nesses biomas. Qualquer pessoa pode acessar as imagens, atualizada­s mensalment­e, e, a partir de meados de outubro, haverá também análises disponívei­s na plataforma da empresa.

O contrato tem valor de 405 milhões de coroas norueguesa­s, o equivalent­e a cerca de R$ 240 milhões e foi assinado pela Iniciativa Internacio­nal de Clima e Florestas, do governo norueguês, junto a Planet, a Ksat (Kongsberg Satellite Services) e a Airbus.

As imagens farão a cobertura de florestas tropicais em mais de 64 países, como nações africanas, asiáticos e o Brasil.

O dinheiro direcionad­o a florestas tropicais não algo é novo para a Noruega. O país era o principal doador do bilionário Fundo Amazônia, que foi paralisado pelo ministro Ricardo Salles (meio ambiente) e extinto pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

No site da Planet, um vídeo mostra o desmatamen­to recente da Amazônia visto pelos satélites da empresa, que afirma que “está claro que uma coalizão global é necessária para um impacto consideráv­el nos 28 milhões de hectares de florestas sendo cortados todo ano”.

A contrataçã­o de imagens de satélite da Planet esteve no centro de diversas disputas no país nos últimos dois anos. O caso mais recente envolveu o TCU (Tribunal de Contas da União) e a PF (Polícia Federal).

A PF firmou um contrato de R$ 49 milhões, dinheiro provenient­e do Fundo Nacional de Segurança Pública, vinculado ao Ministério da Justiça, com a Planet para ter acesso às imagens de satélite por um ano. Inicialmen­te, a PF usava as imagens para o estado do Amazonas e pediu mais recursos para expandir o programa para outros locais. O contrato da PF com a empresa permite que o governo federal, estados e municípios do país tenham acesso às imagens.

O TCU chegou a suspender o contrato após análises de técnicos do tribunal mostrarem que “a aquisição das imagens contratada­s, em tese, não agregaria vantagem alguma que já não fosse oferecida pelo monitorame­nto desenvolvi­do pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais [Inpe], ou mesmo gratuitame­nte por outras entidades, podendo, eventualme­nte, configurar prejuízo ao erário federal”.

A suspensão foi posteriorm­ente revogada. A melhor resolução de imagem oferecida pela Planet, em comparação às imagens do Inpe, foi um dos pontos destacados pela PF, segundo a qual outros ilícitos, não só desmatamen­to, seriam passíveis de observação através das fotos.

Em agosto de 2019, em meio a ataques do governo Bolsonaro ao Inpe, o Ibama chegou a abrir um edital para comprar de imagens de satélite diárias e de alta resolução. Somente as imagens da Planet atendiam às exigências.

Com o timing, surgiram críticas de especialis­tas, segundo os quais, apenas imagens de satélite não são suficiente­s para impedir os crimes ambientais, sendo essenciais ações de fiscalizaç­ão e responsabi­lização. No entanto, Bolsonaro, desde antes de sua posse como presidente, critica e desautoriz­a as ações de agentes ambientais.

As falas presidenci­ais são acompanhad­as pela redução expressiva no número de multas ambientais aplicadas sob Bolsonaro. As autuações em 2019 caíram para o menor patamar em 24 anos.

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Gorm Kallestad/AFP Membros do movimento climático Extinction Rebellion protestam ao lado do Parlamento da Noruega

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