Folha de S.Paulo

População carcerária do estado de SP é a menor em sete anos

Penitenciá­rias perderam 18 mil presos desde maio de 2019; pandemia contribuiu

- Rogério Pagnan

são paulo O sistema prisional de São Paulo teve uma redução de quase 18 mil presos desde maio do ano passado e atingiu, neste mês de setembro, sua menor população em sete anos. São hoje 216 mil pessoas nas 176 unidades do estado, ante 234 mil encarcerad­as em maio de 2019, segundo dados da gestão João Doria (PSDB) obtidos pela Folha.

Só essa população de 18 mil presos seria suficiente para encher 21 penitenciá­rias com capacidade para 847 vagas, a unidade padrão, e é superior à massa carcerária de 16 unidades da federação, como de Mato Grosso do Sul, que tinha 17.423 presos em dezembro de 2019, segundo números do governo federal.

A queda, segundo especialis­tas ouvidos pela Folha, pode ser atribuída a uma série de fatores, entre eles os efeitos da pandemia do novo coronavíru­s. Decisões judiciais levaram à soltura de presos em situação de risco; além disso, as atividades criminais tiveram forte queda nos meses de isolamento social.

Sobre este último fator, o número de pessoas presas pela polícia paulista despencou 25,2% de janeiro a julho deste ano. Foram 95 mil homens e mulheres presos nesses meses, ou cerca de 32 mil prisões a menos que as 127 mil efetuadas no mesmo período de 2019.

Os efeitos da pandemia são visíveis quando se observa que as maiores quedas se deram em abril e maio, quando a quarentena era mais intensa. Em maio, por exemplo, a retração de pessoas presas chegou a 38,5%. Em 2019, no mesmo mês, a polícia prendeu 19.305 pessoas, ante 11.878 neste ano.

Conforme a Folha mostrou em abril, os crimes patrimonia­is caíram até 65% nos primeiros 15 dias da quarentena decretada pela gestão João Doria (PSDB) em março. Os furtos em geral tiveram redução de 27.429 para 9.622 casos.

A redução, porém, não pode ser creditada somente à pandemia, já que a pasta vinha notando redução gradativa dos registros de crimes desde o segundo semestre de 2019.

Para o secretário da Administra­ção Penitenciá­ria, Nivaldo Restivo, a pandemia tem, de fato, parcela nessa redução, mas, para ele, um fator ainda mais importante é o trabalho do Poder Judiciário.

“O decisivo, no meu entendimen­to, é analise das execuções por parte do Judiciário. É algo que já estava sendo observado antes da pandemia, desde o ano passado. A tecnologia acabou, ao meu ver, agilizando a análise de processos”, disse.

Para ele, contribuiu para a redução na população carcerária a resolução do CNJ que determinou a soltura de presos do grupo de risco. Segundo dados da Administra­ção Penitenciá­ria, até esta semana 5.535 pessoas conseguira­m deixar o sistema prisional por determinaç­ão da Justiça.

Para a advogada Priscila Pamela dos Santos, presidente da comissão de Política Criminal e Penitenciá­ria da OAB São Paulo, o número de presos do grupo de risco da Covid-19 que poderiam ter sido colocados em liberdade ou regime semiaberto chega a quase 30 mil.

“O Tribunal de Justiça de São Paulo tem indeferido a maior parte dos pedidos de soltura ou de conversão em prisão domiciliar, mesmo para as pessoas comprovada­mente do grupo de risco”, disse.

Para ela, a redução do número de presos está ligada à pandemia. “O que ocorre é que ao mesmo tempo que saem, nós vamos colocando muitas pessoas dentro do sistema. Então, a conta não fecha. Saiu um, a gente coloca três. Como houve essa queda [da atividade criminal], especialme­nte nos crimes patrimonia­is, roubo e furtos, que levam as pessoas à situação de prisão, consequent­emente a balança conseguiu, de alguma forma, pender para o lado de queda.”

Para o sociólogo Luís Flávio Sapori, estudioso do sistema prisional brasileiro, a redução da massa prisional em São Paulo se deve muito à diretriz do CNJ, que, para ele, vem se demonstran­do a acertada.

“Foi uma medida que acabou diminuindo a tensão nos presídios, porque diminuiu os riscos de contaminaç­ão, e não houve, ao contrário do que poderia imaginar, uma explosão da criminalid­ade e da violência em função disso. E nós não tivemos uma explosão de infecção e mortes no sistema prisional até o momento”, disse ele, que também aponta a proibição de visitas como fator para que tenham ocorrido poucas mortes nas prisões.

Para o estudioso, a quantidade de pessoas nas ruas reduziu o número de crimes, até porque, segundo ele, os infratores tiveram menos oportunida­des. “Essa redução é momentânea, conjuntura­l. A tendência no segundo semestre é retornar os padrões pré-pandemia, até porque flexibiliz­ação está acentuada em São Paulo e no país como todo.”

Para o secretário-executivo da Polícia Militar de São Paulo, coronel da reserva Álvaro Camilo, a queda no número de prisões está ligada ao distanciam­ento social das pessoas por causa da pandemia.

Ele diz ainda que estudos em desenvolvi­mento pela pasta não apontam para uma explosão da criminalid­ade quando houver um retorno total das atividades econômicas, “porque não haverá um marco, a pandemia não irá acabar de um dia para o outro”.

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