Folha de S.Paulo

Suspeita é de suicídio, diz PF sobre Elias Maluco

- Katna Baran

curitiba A Polícia Federal aponta como suicídio a principal hipótese de causa da morte do traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, cujo corpo foi encontrado nesta terça (22) em sua cela na Penitenciá­ria Federal de Catanduvas, oeste do Paraná.

O laudo preliminar do IML de Cascavel, para onde o corpo foi levado por volta de 0h, indica morte por enforcamen­to. O delegado da PF Daniel Martarelli da Costa, responsáve­l pela apuração, apontou que Elias teria se enforcado com o próprio lençol, que foi pendurado em uma das entradas de ar da cela.

Ele tinha 54 anos e estava preso desde 2002, mesmo ano da morte do jornalista Tim Lopes, da qual Elias foi apontado como mandante.

Os agentes penitenciá­rios encontrara­m o corpo por volta de 15h45, pouco antes do horário marcado para um encontro do traficante com um dos seus advogados, às 16h. Antes disso, às 11h30, ele recebeu normalment­e o almoço pela portinhola da cela, segundo relato deles à PF.

O último contato de Elias com outros presos foi durante o banho de sol, na segundafei­ra (21). Segundo o delegado, testemunha­s ouvidas no local contaram que, nos últimos dias, o traficante não demonstrou qualquer indício de que pudesse cometer suicídio.

Apesar da suspeita, Martarelli disse aguardar o resultado dos laudos periciais do local e do corpo para encerrar a apuração, o que pode demorar até 30 dias. Outras provas, como imagens de câmeras de segurança dos corredores da penitenciá­ria, depoimento­s de agentes e cartas apreendida­s no local ajudarão na conclusão da investigaç­ão.

As cartas, segundo o delegado, são direcionad­as a familiares do traficante. “Elas não tratam diretament­e de motivos [para o suicídio] nem ele coloca a culpa em ninguém. Em geral, trazem conversas pessoais com cada familiar e, em alguns momentos, ele cita que não tem mais vontade de viver ou coragem de encarar os familiares e, por conta disso, teria se matado.”

Chamou a atenção de Martarelli a organizaçã­o na cela de Elias. “A cama estava feita e os materiais que ele tinha, como livros e cartas, estavam todos organizado­s na bancada.”

O traficante foi condenado em quatro processos distintos, um deles pela morte do jornalista Tim Lopes, em 2002. Ele foi preso em setembro daquele ano, três meses após o assassinat­o, e a condenação, a 28 anos e seis meses de prisão, aconteceu em 2005.

O repórter da TV Globo foi capturado enquanto fazia reportagem sobre abuso de menores em um baile funk na favela do Cruzeiro, no bairro da Penha, na zona norte do Rio.

Elias ainda respondia por tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. A última condenação, de 2013, foi por ter comprado imóveis e carro de luxo com recursos do tráfico e registrado os bens em nome da mulher e da sogra. Todas as penas a que foi condenado somavam mais de 70 anos de prisão.

Em agosto de 2019, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, revogou prisão preventiva contra o traficante. O mandado era de junho de 2017, referente a uma acusação de associação com o tráfico de drogas em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Apesar da decisão, Elias permaneceu preso por conta de outras condenaçõe­s.

Já em janeiro de 2020, quase 18 anos depois do assassinat­o de Lopes, um grupo de advogados divulgou que queria desarquiva­r o inquérito.

Para os criminalis­tas, o traficante era inocente, já que estaria fora do Rio no dia do homicídio. Eles também acreditava­m que poderiam comprovar que as ossadas encontrada­s, na verdade, não eram do jornalista. Caso a hipótese fosse confirmada, pediriam a anulação do processo.

Com a publicação no Diário Oficial da União de ato do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em janeiro de 2019, os advogados foram autorizado­s a investigar por conta própria. A mudança, que atinge o Código de Processo Penal, levou os defensores a reinvestig­ar caso tido como já resolvido pela Justiça.

“Em geral, [as cartas] trazem conversas pessoais com cada familiar e ele cita que não tem mais vontade de viver ou coragem de encarar os familiares

Daniel Martarelli da Costa delegado da Polícia Federal

 ?? Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro-SSP-RJ/Divulgação ?? O traficante Elias Pereira da Silva, quando esteve preso no Rio
Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro-SSP-RJ/Divulgação O traficante Elias Pereira da Silva, quando esteve preso no Rio

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