‘Burrice existencial’
Aprender a arte de fazer boas perguntas é o melhor caminho para enxergar, compreender e solucionar os problemas das nossas vidas
Sempre ensino aos meus alunos que para fazer uma pesquisa o mais importante é saber formular a pergunta certa. Uma boa pergunta pode ser a solução para o problema que queremos resolver. Por mais simples que possa parecer, fazer a pergunta certa é uma arte complexa.
Por exemplo, quando perguntei na minha pesquisa: “O que falta para você ser mais feliz?”, homens e mulheres disseram: saúde, dinheiro, emprego, casa própria, viver em um país tranquilo e seguro com governantes competentes, honestos e empáticos etc. Todos se compararam e revelaram sentir inveja de alguém que supostamente tem tudo o que lhes falta.
Mas quando perguntei: “Em que momento do dia você se sente mais feliz?”, responderam: quando brinco com meus filhos, quando meu amor me abraça e diz que me ama, quando dou risadas com os amigos etc. Não invejaram nem se compararam com ninguém, pois focaram no que é significativo em suas vidas.
Com as duas perguntas, percebi a distância entre a expectativa idealizada e a experiência concreta de felicidade.
“Faça a pergunta certa!” é um capítulo do meu livro “A arte de pesquisar”. A epígrafe é de Einstein:
“Frequentemente, a formulação de um problema é mais essencial do que a sua solução”.
Tudo o que escrevi sobre a pergunta certa na pesquisa científica é útil para pensar sobre os obstáculos e desafios que precisamos enfrentar em nossas próprias vidas.
Já me disseram que tenho talento para construir boas questões de pesquisa. Disseram até que tenho uma boa dose de “inteligência emocional” para elaborar perguntas que ajudam a enxergar, compreender e solucionar os problemas dos outros.
No entanto, apesar de ter feito mais de vinte anos de análise, ainda não aprendi a fazer boas perguntas para a minha própria vida. Acho que tenho uma espécie de “burrice existencial” para elaborar perguntas certas que ajudariam a curar meus medos, sofrimentos e angústias.
Sabe o ditado: “Casa de ferreiro, espeto de pau”? Adaptei para: “Caverna de antropóloga, incapacidade para formular boas perguntas e resolver os próprios problemas”.
São mais de trinta anos como professora de “Métodos e técnicas de pesquisa”, mas ainda não encontrei a resposta para uma questão crucial: Como posso aprender a fazer as perguntas certas para ter uma vida mais livre e feliz?