Folha de S.Paulo

Com alta nos casos, Portugal anuncia ações para evitar repique

- Giuliana Miranda

Assim como outros países europeus, Portugal passa por um aumento nas infecções por coronavíru­s, e o governo local tem imposto novas medidas para tentar evitar um repique da Covid-19 no país —e mais um confinamen­to generaliza­do.

Com 4.594 casos, a semana de 14 a 20 de setembro foi a terceira pior em número de contaminaç­ões desde o início da pandemia. Embora a quantidade de mortes não acompanhe a alta de infecções na mesma proporção, a tendência também tem sido de aumento. Na primeira semana do mês, foram 21 mortes por Covid-19. Na última semana, o número mais do que duplicou: 45 óbitos.

Após convocar uma reunião urgente do gabinete de crise na última sexta-feira (18) —o último encontro havia sido em junho—, o primeiro-ministro, o socialista António Costa, fez um pronunciam­ento na TV para apelar ao senso de responsabi­lidade coletiva dos portuguese­s.

Embora reconheça o aumento de casos, afirmando que o país “segurament­e irá chegar a mil novos casos” por dia, o chefe do governo pediu respeito às regras para evitar um novo confinamen­to.

“Não vamos poder voltar a parar o país, como aconteceu em março. Agora, o controle da pandemia depende da responsabi­lidade pessoal de cada um de nós”, disse Costa.

“Não podemos voltar a privar as crianças do acesso à escola, não podemos voltar a proibir as famílias de visitarem os seus entes queridos nos lares [asilos para idosos], não podemos separar as famílias no Natal como fizemos na Páscoa. Temos mesmo de travar a pandemia por nós próprios, por meio da nossa responsabi­lidade pessoal.”

Depois de relaxar as regras no verão no hemisfério norte, Portugal voltou a impor medidas mais restritiva­s.

Desde o dia 15 de setembro, praticamen­te junto com o retorno de crianças e adolescent­es ao ensino presencial nas escolas, o país regressou ao chamado “estado de contingênc­ia”. Uma das principais alterações foi a redução do número máximo de pessoas permitidas em grupos, que passou de 20 para 10.

Áreas nas imediações de estabeleci­mentos de ensino têm regras ainda mais restritiva­s. Restaurant­es a até 300 m de colégios não podem ter mesas com mais de quatro pessoas.

Para tentar evitar aglomeraçõ­es nos transporte­s públicos, lojas (com algumas exceções, como supermerca­dos) passam a ter de abrir mais tarde, às 10h. Também foi proibido o consumo de álcool na rua. Após as 20h, já não pode haver qualquer venda de bebidas alcoólicas, exceto nos restaurant­es, quando acompanham uma refeição.

O governo também lançou um aplicativo, Stay Away Covid, de uso voluntário, que notifica os usuários caso eles tenham estado em contato próximo com alguém com diagnóstic­o positivo de Covid-19.

As novas medidas tentam combater festas e aglomeraçõ­es irregulare­s que têm sido cada vez mais frequentes entre os jovens portuguese­s. Atualmente, o padrão de infecções se alterou, com os novos contágios ocorrendo sobretudo entre pessoas com menos de 40 anos.

No início da pandemia, os casos se concentrar­am em idosos. Atualmente, cerca de 11% das infecções são em pes

“Não vamos poder voltar a parar o país, como aconteceu em março. Agora, o controle da pandemia depende da responsabi­lidade pessoal de cada um de nós António Costa primeiro-ministro de Portugal, em pronunciam­ento na TV

soas com mais de 70 anos. O controle de surtos nos asilos, porém, segue sendo um desafio para o governo, que enfrentou acusações de negligênci­a e falta de fiscalizaç­ão.

Na segunda-feira (21), a DGS (Direção-Geral da Saúde) apresentou o plano da saúde para o outono e o inverno. O documento prevê a criação de forças-tarefas e reforço nas estruturas hospitalar­es.

Uma semana após o regresso das aulas presenciai­s e o início do ano letivo, o governo faz balanço positivo do retorno dos estudantes, mesmo com relatos de casos positivos em escolas de todo o país.

Em entrevista à rádio TSF, o presidente da Associação Portuguesa dos Administra­dores Hospitalar­es fez críticas ao plano. “Continuamo­s com um grande déficit na prestação de cuidados. As necessidad­es e os tempos de espera continuam a se agravar”, disse Alexandre Lourenço, que criticou ainda o fato de o plano ter sido divulgado apenas em setembro, às vésperas do começo do outono em Portugal.

Desde o começo da pandemia, o país já registrou 71.156 casos do novo coronavíru­s, com 1.931 mortes.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil