Folha de S.Paulo

Menos mortes

Redução da letalidade policial em São Paulo requer persistênc­ia nas ações e maior controle externo

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Sobre queda da letalidade policial em São Paulo.

O número de pessoas mortas por policiais militares em São Paulo teve redução significat­iva em agosto, de 33% em relação aos casos registrado­s em igual período no ano passado. Foi o terceiro mês seguido de queda da letalidade policial.

As estatístic­as de São Paulo ainda oferecem um retrato intoleráve­l da brutalidad­e dos agentes, entretanto. As 599 mortes ocorridas de janeiro a agosto representa­m total 7% superior ao registrado no mesmo intervalo no ano passado.

Apesar da melhoria recente, o saldo do ano reflete o aumento acentuado das mortes ocorrido nos primeiros cinco meses, a despeito de um declínio dos crimes contra o patrimônio, como roubos e furtos, durante a pandemia do coronavíru­s.

A flutuação dos números sugere que uma redução consistent­e da letalidade policial depende de esforço coordenado das autoridade­s envolvidas com a segurança pública, de reformas institucio­nais e de um plano executado com persistênc­ia.

Medidas tomadas pela Polícia Militar parecem ter colaborado para os bons resultados alcançados nos últimos meses, como a adoção de protocolos mais rigorosos para situações de confronto, a substituiç­ão de armas de fogo por alternativ­as menos letais, como as de eletrochoq­ue, e a criação de comissões para examinar operações que terminam com mortos e feridos.

A cúpula da polícia aponta também medidas de fiscalizaç­ão que se tornaram mais frequentes, levando a uma presença maior de oficiais nos locais de ocorrência­s.

Houve ainda um aumento no número de policiais presos em flagrante neste ano, incluindo vários casos de agentes que mataram civis sem que houvesse confronto ou outra justificat­iva para atirar.

É possível fazer mais, com uma estratégia que tenha como objetivos o aumento da confiança da população na polícia, o aprimorame­nto profission­al dos agentes do Estado e a responsabi­lização das mortes causadas por excessos.

Concentrar na Corregedor­ia da Polícia Militar as investigaç­ões dos casos em que há suspeita de desvios, afastando-as dos batalhões, poderia contribuir para reduzir a impunidade e fomentar mudanças na cultura da corporação.

Também seriam bem-vindos o fortalecim­ento da Ouvidoria da polícia e um envolvimen­to maior do Ministério Público, que recebeu da Constituiç­ão de 1988 a atribuição de exercer o controle externo da atividade policial e nem sempre atua com o rigor necessário.

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