Folha de S.Paulo

Brasil é 3º pior país da América Latina em direitos políticos para as mulheres

- Iara Lemos

O Brasil é o terceiro pior país da América Latina quando o assunto são direitos políticos femininos e paridade política entre homens e mulheres, diz estudo elaborado por ONU Mulheres e Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento).

Batizado de Atenea, o levantamen­to divulgado nesta quinta (24) foi feito em parceria com a IDEA Internacio­nal.

Foram mapeados 40 indicadore­s em oito itens ligados ao tema no Brasil, na Argentina, na Bolívia, na Colômbia, no Chile, na Guatemala, em Honduras, no México, no Panamá, no Peru e no Uruguai.

O Brasil só ficou à frente de Chile e Panamá. O México lidera a pesquisa com o melhor indicativo, seguido da Bolívia.

Entre os itens analisados estão a presença das mulheres em cargos do Poder Executivo

e na administra­ção pública, participaç­ão em partidos políticos e o cumpriment­o de cotas e paridade na política. Neste último, o Brasil obteve a pior avaliação entre os oito tópicos analisados.

A soma dos itens resultou no IPP (Índice de Paridade Política). Ele varia de 0 a 100 e atribui valores mais altos aos países mais bem avaliados.

Segundo o estudo, embora a legislação de cotas para mulheres na política tenha sido adotada desde 1995, ela é considerad­a frágil no Brasil.

O baixo impacto é atribuído à falta de mecanismos institucio­nais que garantam sua efetividad­e e incidência nas condições de competitiv­idade das candidatur­as femininas.

Na análise de Ana Carolina Querino, gerente de Programas da ONU Mulheres Brasil, a inexistênc­ia de cotas para mulheres em cargos do Executivo ajuda a puxar esse índice para baixo. “As medidas são insuficien­tes e garantem pouco retorno”, afirma.

A expectativ­a é que o avanço de candidatur­as femininas ganhe impulso após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ter definido que ao menos 30% dos recursos do fundo eleitoral devem ser aplicados no financiame­nto de candidatas.

A partir de 2018, a corte determinou que a aplicação de ao menos 30% do fundo público de financiame­nto em candidatur­as femininas é condição obrigatóri­a para a liberação dos recursos eleitorais.

A falta de sanção por descumprim­ento (zero pontos), bem como a sua aplicação apenas para Câmaras Municipais, e não para prefeitura­s, no caso das eleições deste ano, tornam a medida ineficient­e, segundo o estudo.

A meta das entidades responsáve­is pela pesquisa é que, no caso de indicadore­s de presença (cargos ou candidatur­as), as mulheres ocupem 50% dos espaços de decisão pública. O período estimado para a conquista é de 30 anos.

De acordo com os dados, a participaç­ão de mulheres na política é considerad­a fundamenta­l para a construção de democracia­s consistent­es.

“O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer e, para isso, é fundamenta­l que ocorram mudanças institucio­nais”, afirma a representa­nte da ONU Mulheres no Brasil, Anastasia Divinskaya.

O estudo apresenta recomendaç­ões para mudanças que contribuam para uma superação das desigualda­des.

A equipe responsáve­l pelo estudo afirma ainda que a violência contra mulheres na política é outro fator que precisa ser considerad­o como “cada vez mais comum”.

O tema, contudo, embora relevante, ainda não foi tipificado no Brasil. Não houve também no país a implementa­ção de legislação específica para combater o assédio a mulheres na política. O estudo também não traz dimensões de raça, cor e etnia.

 ?? Michel Jesus - 5.mar.20/Câmara ?? Sessão na Câmara que celebrou o Dia da Conquista do Voto Feminino
Michel Jesus - 5.mar.20/Câmara Sessão na Câmara que celebrou o Dia da Conquista do Voto Feminino

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil