Folha de S.Paulo

Líderes em SP minimizam prejuízo trazido por padrinhos

Contra desgaste de Bolsonaro e Doria, Russomano e Covas exaltam parcerias

- Carolina Linhares e Joelmir Tavares

Para driblar o eventual prejuízo eleitoral trazido por seus padrinhos políticos, as campanhas de Celso Russomanno (Republican­os) e Bruno Covas (PSDB) pretendem mirar além das figuras de Jair Bolsonaro (sem partido) e João Doria (PSDB), enfatizand­o que, para a cidade de São Paulo, é importante ter boa relação com o governo federal e o governo estadual.

Russomanno e Covas são os dois primeiros na pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta (24) sobre a disputa à Prefeitura de São Paulo —com 29% e 20%, respectiva­mente.

Segundo o levantamen­to, 64% dos entrevista­dos dizem que não votariam de jeito nenhum em candidato apoiado por Bolsonaro, enquanto 11% votariam com certeza e 23% talvez votariam. O apoio do presidente é justamente ao que se agarra Russomanno na tentativa de não repetir o desempenho de 2012 e 2016, quando largou em primeiro e terminou em terceiro.

O governador Doria tampouco é bom padrinho: 59% não votariam em candidato apoiado por ele, sendo que 8% votariam e 29% talvez votariam. O resultado contradiz o discurso da campanha de Covas, de que o paulistano superou a rejeição a Doria por ele ter descumprid­o a promessa de ser prefeito por quatro anos após se eleger em 2016.

Entre tucanos e republican­os, porém, a postura é de minimizar os reveses trazidos pelos padrinhos e exaltar a liderança na pesquisa. Depois de Russomanno e Covas, aparecem empatados em terceiro Guilherme Boulos (PSOL), com 9%, e Márcio França (PSB), com 8%.

“Bruno parte de um excelente patamar e lidera na [pesquisa] espontânea. A parceria do governador com o prefeito é valorizada pelo eleitor”, afirma Wilson Pedroso, coordenado­r da campanha de Covas.

Entre os exemplos de articulaçã­o, os tucanos listam a Operação Delegada (espécie de bico oficial de PMs), integração no transporte, obras de piscinões e obras viárias.

Apesar do que indica a pesquisa, membros da equipe dizem que o eleitor saberá separar Doria e Covas e que a eleição diz respeito só ao prefeito. Covas já declarou que não irá esconder nenhum de seus apoiadores —Doria deve aparecer na propaganda na TV.

Por outro lado, aliados também pretendem controlar a exposição e a ingerência de Doria na campanha.

Os tucanos seguem na linha de que a eleição não será nacionaliz­ada e tratará de problemas locais. O objetivo, na propaganda, é comparar a gestão de Covas com as anteriores.

“Acredito que a campanha não será federaliza­da. As pessoas querem saber se a rua está conservada, se a saúde está funcionand­o”, diz Ricardo Tripoli (PSDB), secretário executivo na prefeitura.

A confirmaçã­o, no último momento, da candidatur­a de Russomanno apoiada por Bolsonaro, porém, transformo­u 2020 em aqueciment­o para 2022. O Planalto respondeu à aliança em torno de Covas, costurada por Doria e vista como ensaio da candidatur­a presidenci­al do governador.

No entorno de Russomanno, o tom nacional da eleição não é rechaçado, mas prevalece o entendimen­to de que o apoio de Bolsonaro será benéfico. O tamanho da oposição ao presidente foi considerad­o dentro das expectativ­as, e os aliados pinçam o fato de que mais de 30% dos entrevista­dos não o rejeitam. A aposta é de que Russomanno mais ganha do que perde.

Outra questão levantada é o fato de que não se sabe como Bolsonaro vai declarar apoio. De qualquer forma, o presidente vem fazendo acenos explícitos a Russomanno.

A campanha de Russomanno trata de exaltar a necessidad­e de parceria entre a prefeitura e o governo federal para garantir realizaçõe­s.

Russomanno já listou, por exemplo, o compromiss­o com a inauguraçã­o de um colégio militar na cidade —obra que teve o pontapé inicial dado por Bolsonaro em fevereiro.

“Bolsonaro não atrapalha. Mas há um trabalho em torno da cidade, dos problemas. Há um sentimento de que Russomanno pode mudar a cidade com o apoio do governo federal”, diz o deputado estadual Campos Machado (PTB), partido do vice, Marcos da Costa.

Tendo o ex-presidente Lula (PT) como fiador, Jilmar Tatto (PT) está em situação um pouco melhor em termos de padrinho, embora pontue 2%. O Datafolha mostra que 57% não votariam em nome indicado pelo petista, mas 20% votariam e 20% talvez votariam.

O fato de Tatto ser desconheci­do para 64% dos eleitores, o que lhe dá margem para crescer, foi comemorado entre os petistas, assim como o fato de Lula ser um cabo eleitoral mais forte. O PT adotará o discurso da nacionaliz­ação.

Na mesma linha, a campanha de Boulos enxerga impacto nacional na eleição paulistana e, embora não conte com Lula como cabo eleitoral, acaba se benefician­do do potencial do ex-presidente.

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