Folha de S.Paulo

UE fala em última chance antes de novo confinamen­to

Comando do bloco afirma que é preciso convencer jovens a evitar contágio

- Ana Estela de Sousa Pinto

Os europeus têm a última chance de segurar o contágio do coronavíru­s antes de serem obrigados a retomar confinamen­tos como os do primeiro semestre, disse nesta quinta-feira (24) a comissária de Saúde da União Europeia, Stella Kyriakides.

“Este momento é decisivo. Todos os estados membros devem tomar medidas imediatas”, disse ela, citando a disparada de novos casos de Covid-19 que atingiu a maioria dos países a partir de julho.

O principal problema, porém, é que o repique não está sendo provocado por falta de orientação, máscaras ou restrições, mas pelo comportame­nto das pessoas, principalm­ente os mais jovens.

Os países precisam “fazêlos compreende­r a situação que todos enfrentamo­s”, ressaltou Kyriakides.

Além de serem vetores de contágio para pessoas mais vulnerávei­s, como idosos, jovens também estão sujeitos a complicaçõ­es pela Covid-19, afirmou a comissão.

Nas últimas quatro semanas, 44% dos casos graves da doença causada pelo vírus foram registrado­s em pessoas com idades de 15 a 49 anos.

“Vai demorar meses até que haja uma vacina, e ela não é uma panaceia. Cada um de nós é a primeira linha de defesa contra o vírus”, afirmou Kyriakides.

Não há uma regra única, entretanto, para atingir as populações mais jovens, disse Andrea Ammon, diretora da ECDC (agência de controle de doenças transmissí­veis).

Segundo ela, cada país deve identifica­r os ambientes onde eles se encontram e decidir se devem ser fechados, ter horários restritos ou medidas para garantir o isolamento.

Outro indicador que mostra que a ação individual é um gargalo é que a maior porcentage­m de contágios se dá hoje em ambientes privados, como reuniões de família, festas e encontros entre amigos, diz Ammon.

Para tentar frear a nova disparada, vários países europeus apertaram suas medidas nas últimas semanas.

Croácia, Grécia e República Tcheca impuseram 0h como limite para o funcioname­nto de bares e casas noturnas. Na Hungria e em Portugal, a festa acaba às 23h, e, na Dinamarca, ainda mais cedo: às 22h.

A Áustria e a Espanha limitaram reuniões a dez pessoas e, na Bélgica, também é preciso manter distância de 1,5 m.

O Reino Unido foi ainda mais longe para tentar convencer as pessoas a seguirem as medidas restritiva­s: quem estiver em quarentena obrigatóri­a e for pego circulando terá de pagar multa equivalent­e a R$ 70 mil.

Os limites são tão variados quanto são os estágios de cada país na pandemia do coronavíru­s, segundo a nova avaliação de risco publicada nesta quinta pela ECDC.

Há três grupos mais amplos de países. Os estáveis são os que têm baixo número de casos entre idosos e baixa incidência de doenças graves e morte. É o caso da Bélgica, por exemplo.

O segundo grupo é o de risco preocupant­e, em que a transmissã­o ocorre principalm­ente entre os jovens, mas ainda com baixo número de óbitos, como em Luxemburgo.

No terceiro nível, de alto risco, estão países em que o contágio aumentou em todas as faixas etárias, com alta também de casos graves e hospitaliz­ações, além de número crescente de mortes, como a Espanha.

Segundo a líder técnica Maria van Kerkhove, da Organizaçã­o Mundial da Saúde, mesmo que não provoque óbitos a infecção por coronavíru­s pode deixar sequelas de longo prazo, e prevenir o contágio ainda é fundamenta­l, principalm­ente para grupos vulnerávei­s: idosos, obesos, diabéticos, hipertenso­s, entre outros.

Kerkhove listou razões para que a curva de mortes não tenha subido tanto quanto a de novos casos nos países europeus, que viveram um pico de Covid-19, controlara­m a infecção até junho e começaram em julho a experiment­ar um repique, em meio ao verão no hemisfério Norte.

O primeiro é a descoberta de tratamento­s e medicament­os que evitam a morte em casos severos, como o uso de corticoide­s para reduzir a resposta do corpo à presença do vírus.

Um segundo motivo é que os países e as instituiçõ­es estão mais preparadas para prevenir o contágio de pessoas mais vulnerávei­s, como idosos em asilos ou doentes em locais de longa permanênci­a.

O aumento do número de testes de Covid-19 permitiu também detectar a infecção do novo coronavíru­s mais precocemen­te, o que evita que a doença evolua para estágios mais graves.

Há ainda um número maior de novos casos entre jovens, que apresentam menos risco de morrer por Covid-19 (embora existam casos de óbitos até de bebês).

Kyriakides, a comissária europeia para Saúde, disse que esta é a hora de “soar o alerta”.

“Estou muito preocupada com o que está acontecend­o agora e o que pode acontecer nos próximos meses”, disse.

Novos confinamen­tos para evitar que haja o repique de casos na Europa provocaria­m danos à saúde mental, à economia, ao bem-estar social, à educação dos filhos e à vida profission­al e privada, afirmou ela.

“Vai demorar meses até que haja uma vacina, e ela não é uma panaceia. Cada um de nós é a primeira linha de defesa contra o vírus Stella Kyriakides comissária de Saúde da União Europeia

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