Folha de S.Paulo

No Senado, Ernesto avalia visita de Pompeo como excelente

Em depoimento a comissão, chanceler diz que viagem foi iniciativa dos EUA

- Iara Lemos Toda Mídia A coluna volta a ser publicada no dia 2.out

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou nesta quinta-feira (24) que a visita ao Brasil do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, foi iniciativa do governo americano, da qual o governo brasileiro foi comunicado e achou “excelente”.

O chanceler disse ainda que a gestão de Jair Bolsonaro tem tentado se aproximar dos EUA como um todo, e não apenas do governo de Donald Trump, que concorre à reeleição. “Não é fato que a proximidad­e do Brasil seja com Trump, e não com os Estados Unidos”.

Na última sexta (18), Pompeo esteve, na companhia de Ernesto, nas instalaçõe­s da Operação Acolhida em Boa Vista. O projeto recebe refugiados venezuelan­os da ditadura de Nicolás Maduro.

“Mike Pompeo me telefonou informando que estava organizand­o uma vista a países da América do Sul e que queria vir ao Brasil, visitar as acomodaçõe­s da Operação Acolhida. Eu disse que achei excelente”, afirmou o chanceler brasileiro. “Disse que iria receber com o maior prazer, e assim aconteceu. Foi uma visita marcada comigo e de grande satisfação da nossa parte [governo].”

A visita do secretário americano causou uma série de manifestaç­ões de parlamenta­res. A primeira reação foi do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que classifico­u o encontro como uma “afronta às tradições de autonomia e altivez” da política externa brasileira.

Em nota, Maia afirmou que a visita de Pompeo a pouco mais de um mês das eleições nos Estados Unidos, “não condiz com a boa prática diplomátic­a” e internacio­nal.

Ernesto esteve pela manhã em sessão da Comissão de Relações Exteriores do Senado, cujos membros aprovaram convite para que o ministro explicasse a viagem de Pompeo. A ideia inicial era que o chanceler falasse à comissão sob um pedido de convocação, em que a presença é obrigatóri­a.

O requerimen­to de convocação, de autoria de Telmário Mota (Pros-RR), foi transforma­do em convite após o presidente do colegiado, Nelson Trad (PSD-MS), garantir a presença de Ernesto na Casa.

Em uma apresentaç­ão inicial de cerca de 40 minutos, o ministro afirmou que a visita do secretário de Estado dos EUA deixou o Brasil orgulhoso. A sessão se estendeu por mais de duas horas. “Os EUA são os maiores financiado­res de ações de refugiados no mundo. Parece que faz todo o sentido que o secretário tenha interesse e visite as acomodaçõe­s da Operação Acolhida, o que nos dá muito orgulho.”

Segundo o chanceler, durante a passagem, ele e Pompeo realizaram uma reunião bilateral, na qual falaram da situação política da Venezuela.

“Em reuniões bilaterais entre chancelere­s é comum que se converse sobre a situação de países terceiros. Situação regional no país A e no país B, onde se comentam os problemas e como os países cooperam. Falar de países terceiros é a coisa mais comum nesses diálogos”, afirmou.

Na explanação, o chanceler também comparou as ações de Maduro a de narcotrafi­cantes. “Vamos supor que temos um vizinho que é muito amigo nosso. De repente, esse vizinho tem a casa invadida por um narcotrafi­cante que praticamen­te o escraviza e prende toda a sua família no porão. Vamos supor que um dos filhos do vizinho consegue escapar e vem para o nosso terreno. Nós o acolhemos”, disse.

“Então, recebemos um amigo de outra rua, que também é amigo do nosso vizinho, e vamos falar dessa situação. O fato de falarmos dessa situação não é uma agressão ao nosso vizinho. É uma preocupaçã­o com o fato de que a casa do nosso vizinho foi tomada por um narcotrafi­cante.”

Questionad­o pelo senador Humberto Costa (PT-PE) se houve um posicionam­ento de área técnica do Itamaraty sobre a visita, o chanceler afirmou que a decisão desse tipo de questão cabe a ele.

“O Itamaraty é chefiado por mim, então é assim que funciona. Evidenteme­nte que a visita foi preparada depois de ter sido combinada comigo e o Pompeo”, afirmou Ernesto. “Por que não foi em Brasília [a visita] está claro: não existem acomodaçõe­s da Operação Acolhida em Brasília.”

Para o chanceler, a visita do secretário não significa que o Brasil esteja agindo contra a Venezuela. “Absolutame­nte nada do que estamos fazendo é contra o venezuelan­o e a Venezuela. Ofensa seria ignorarmos o povo venezuelan­o.”

Durante a visita a Roraima, Pompeo criticou o regime de Maduro. “Nossa missão é garantir que a Venezuela tenha uma democracia”, disse ele. O ditador venezuelan­o é um dos principais focos de ataque da campanha do republican­o, que defende e aplica sanções contra o regime. Questionad­o pelos senadores, o chanceler disse que as críticas são normais por ambos os países.

“As críticas que o secretário Pompeo e eu falamos não são novas, são muito conhecidas, tanto as nossas quanto as dos EUA, que são bastante conhecidas e convergent­es.”

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Edilson Rodrigues/Agência Senado O senador Telmário Mota presenteia Ernesto Araújo em sessão da Comissão de Relações Exteriores

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