Folha de S.Paulo

‘Essa gestão do clube não foi exitosa, por isso nós teremos mudanças claras’

- JULIO CASARES

Por que o sr. será um bom presidente?

Primeiro porque temos uma história de vida e uma trajetória na iniciativa privada como gestor. Meu conteúdo profission­al e a minha prática de gestão na iniciativa privada nos credenciam, junto com a minha história no São Paulo.

Um dos pilares que vocês apresentam é o da profission­alização, mas o sr. também fala em ter o abnegado participan­do do clube. Como conciliar as duas coisas?

O nosso compromiss­o é com a profission­alização. Claro que haverá um diretor-executivo de futebol, o mesmo na base. São pessoas que cumprirão metas, como em qualquer empresa. Se não cumprirem a meta, serão questionad­os. Se o questionam­ento for se avolumando, serão trocados. É assim em qualquer empresa. Quando entra o abnegado? Por meio de câmaras setoriais. Elas vão ajudar que esse executivo tenha um conforto para que possa exercer o seu plano de gestão. Além disso, as normas de compliance vão impedir que regras muito claras se confundam.

Há planos para diversific­ar a diretoria dando, por exemplo, mais espaço às mulheres?

É fundamenta­l a inclusão da mulher dentro da gestão e do espírito da gestão. Nós temos dois apoios públicos de mulheres são-paulinas, a Maurren Maggi, medalhista olímpica, e a ex-tenista Vanessa Menga. A mulher tem uma sensibilid­ade diferente de nós homens. Ela toma conta de uma criança, cuida da gestão de uma casa e ainda trabalha fora como executiva. O homem, se você dá muita tarefa, ele se perde.

O clube passou a contar com a venda de atletas revelados em Cotia para equilibrar as contas. O torcedor verá esses jovens atuando mais pelo São Paulo?

Hoje, no futebol brasileiro, os clubes vendem os jogadores muito precocemen­te porque precisam fechar a conta. Com o São Paulo não é diferente. O que nós precisamos para inverter esse círculo é cuidar dessa dívida [de R$ 538 milhões] que o São Paulo tem, que é grande. Um jogador como o David Neres, que jogou poucos jogos no time principal, é uma pena. Mas não dá para virar uma chave nesse momento e dizer que a partir de agora ele vai ficar dois anos.

Em 2015 o clube ficou sem patrocinad­or master por um período. O senhor faz alguma autocrític­a do seu período à frente do marketing?

O que acontece em clubes de futebol, e não é por má intenção, é que as pessoas não dão continuida­de a um planejamen­to. Uma das coisas que quero implementa­r é um plano diretor de cada área. O marketing vai ter um plano diretor para dez anos. O meu mandato é de três, e ao próximo presidente é recomendáv­el que ele siga esse planejamen­to. O São Paulo, na minha gestão, fez um licenciame­nto com a Warner. Esse contrato não foi renovado e voltamos à estaca zero. Não deu continuida­de e por razões que também não entendo.

Como modernizar o Morumbi e trazer mais receita por meio dele?

O São Paulo parou no tempo na questão do estádio. Eu quero colocar um gerente com uma visão de shopping center. E uma outra coisa: o São Paulo tem um estádio particular, quitado e muito grande. Os demais estádios, que são modernos, têm uma dívida a cumprir.

O senhor não se coloca como situação e nem como oposição, mas rompeu com o Leco. O que pode ser aproveitad­o da atual administra­ção?

Essa gestão do clube não foi exitosa, por isso nós teremos mudanças claras. É preciso virar a cultura, ter um choque de gestão, austeridad­e financeira, realinhame­nto da dívida. O meu coordenado­r de campanha é o ex-presidente José Eduardo Mesquita Pimenta, que concorreu contra o Leco. Tenho o Olten Ayres [de Abreu], para o Conselho Deliberati­vo, que é de uma oposição raiz, e eu mais alinhado à situação desde a época do Marcelo Portugal Gouvêa. Nós temos diretores que estão com o presidente Leco e estão apoiando a chapa. Então não dá para falar de oposição ou situação. E isso é bom, porque o torcedor quer alguém que resolva.

Como fazer choque de gestão com dois ídolos como Raí e Lugano na atual gestão?

Eu respeito muito os profission­ais que lá estão, desde a comissão técnica até os dirigentes. Entretanto, nós temos uma filosofia. Se eles puderem observar essa filosofia e em dezembro, no momento oportuno, olharem esse plano e estiverem nesse espírito, eu não anulo ninguém. Entretanto, a expectativ­a é que haja uma mudança.

O que acha do trabalho do Fernando Diniz?

Ele é um técnico de convicções, um técnico trabalhado­r. O São Paulo está muito bem pontuado [no Campeonato Brasileiro]. É cedo ainda, por isso eu não dou opinião sobre jogador, técnico ou dirigente, porque eu seria injusto. Os caras estão trabalhand­o. Eu defendo sempre a permanênci­a e a longevidad­e de um sistema. Gosto muito da filosofia dele, mas claro, vai depender muito do que vai acontecer.

Você já falou do seu desejo de trazer o Muricy Ramalho de volta para o clube...

Depois da vitória [na eleição], eu vou ligar primeiro para o Muricy. Nunca conversei com ele. Hoje o Muricy é uma pessoa que tem seus compromiss­os, mas sempre enxerguei ele como um coordenado­r de futebol, uma pessoa muito próxima do técnico, da comissão técnica e da diretoria. Isso vai ser conversado no tempo adequado, até porque tenho que respeitar as pessoas que lá estão.

Você fez parte das duas últimas gestões do São Paulo e em ambas houve ruptura. O Aidar foi o pior presidente da história do São Paulo?

A gestão do Aidar foi uma gestão muito ruim. Ele foi campeão brasileiro em 1986 como presidente do clube. A perspectiv­a era de que pudesse ser outra vez um bom presidente. Mas, infelizmen­te, foi uma gestão turbulenta, que não chegou ao seu final. É até difícil avaliá-la. Eu não sei julgar qual a pior. Acho que a avaliação fica para a história. O Juvenal deixou grandes conquistas, o Marcelo Portugal também. O Leco não teve a mesma sorte na área no futebol, é uma pena, porque ele é um são-paulino que queria muito esse resultado.

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