Folha de S.Paulo

‘O problema é que o São Paulo deixou de seguir a sua história de vanguarda’

- ROBERTO NATEL

Por que o sr. será um bom presidente?

Estou desde 2001 trabalhand­o no São Paulo, passei por todas as áreas e sei as necessidad­es do clube. Vamos trabalhar em conjunto, uma administra­ção com várias cabeças onde eu dou a palavra final. O problema é que o São Paulo deixou de seguir a sua história de vanguarda. As pessoas que hoje estão à frente [do clube], ao invés de trabalhar para o São Paulo, trabalham para elas.

O sr. foi eleito vice-presidente junto com Leco. Quando houve a ruptura?

Logo no início do mandato. No primeiro momento, ele convidou dois conselheir­os para serem diretores executivos. Até aí não vi problema. De repente, começou a convidar mais. Também a partir do momento que começou a fazer contrataçã­o sem critério, como com o Maicosuel [em junho de 2017]. Eu disse que bastava ver na internet o quanto o jogador se machucava, e ele respondeu: “eu quero”. Então, vi que não era uma gestão profission­al.

Marco Aurélio Cunha deverá assumir o departamen­to de futebol na sua gestão? Com isso, qual o futuro de Lugano e Raí?

Fiz o convite para o Marco Aurélio, sim. É um grande profission­al, tem conhecimen­to do futebol e há anos faz esse papel. Com relação a Lugano e Raí, precisa ver se tiveram voz ativa ou o presidente passou por cima.

O que acha do trabalho do Fernando Diniz?

Está indo bem, precisa dar oportunida­de. O São Paulo mudou muito, foram inúmeros técnicos nos últimos nove anos. O clube precisa voltar à sua história e dar tempo ao treinador.

Um dos pilares da sua campanha é a profission­alização do clube. Vinicius Pinotti, um de seus apoiadores, já emprestou dinheiro ao clube para comprar o Centurión. O seu discurso não entra em conflito com essa prática?

Não concordo que alguém empreste dinheiro [para o clube contratar]. Na minha gestão isso jamais será feito. Terei critério junto com o diretor de futebol para contratar.

Aidar e Leco são os piores presidente­s na história do clube?

Sem dúvida nenhuma, são os dois piores. Um por não conseguir terminar a gestão, e o outro por aumentar a dívida em um patamar muito grande. O São Paulo, do passado, tinha credibilid­ade e conseguia recursos. Com administra­ção muito ruim, quem vai querer patrocinar o São Paulo?

Em meio aos R$ 540 milhões de dívidas do São Paulo, R $300 milhões são de curto prazo. Como sanar este passivo?

Vamos ter diretor-financeiro profission­al, do mercado. Abaixo dele existirá o comitê de crise para analisar todas as dívidas. O São Paulo sempre pagou suas contas e vai continuar. O problema neste momento é que não temos os números [valor das dívidas], teremos só em janeiro.

O clube passou a contar com a venda de atletas revelados em Cotia para equilibrar as contas. O torcedor verá esses jovens atuando mais pelo São Paulo?

O objetivo da minha gestão é utilizar a garotada. Vai sair quando estiver valorizado. Vamos colocá-los para jogar com dois ou três jogadores de renome, que vão dar força e tranquilid­ade para essa juventude.

O senhor se diz oposição. O seu adversário Julio Casares diz não ser situação nem oposição.

O Casares é situação. É só você ver as atitudes dele no Conselho de Administra­ção, no Conselho Deliberati­vo, aprovando tudo o que o Leco colocou. Os diretores dele [Leco] estão com o Casares. Quem está do nosso lado? Fernando Casal de Rey, José Douglas Dallora, Paulo Amaral, todos foram oposição. O Casares deve ter coerência e assumir sua posição.

Como modernizar o Morumbi e trazer mais receita por meio dele?

O Morumbi, se eu for o presidente, receberá shows novamente, é um estádio bonito e não é obsoleto. Pelo contrário, tem rampas e espaços generosos. Nenhuma das arenas será concorrent­e, vamos transforma­r nossos estádios em multiuso.

Há duas semanas, a Polícia Civil apreendeu no Morumbi um computador da vicepresid­ência

do clube para perícia no caso que investiga chantagens a dirigentes e conselheir­os. O sr. usava esse computador?

Sou uma grande vítima, assim como o São Paulo. Eu não tenho sala lá [no Morumbi] há mais de ano. É uma tentativa de denegrir a minha imagem. Estive há 20 dias no Deic [Delegacia Estadual de Investigaç­ão Criminal] depondo, e o delegado perguntou se eu me opunha a levar o meu computador pessoal. Levei com o maior prazer, porque tenho interesse de identifica­r quem fez isso comigo.

Opositores também criticam o sr. pela relação comercial do São Paulo com o seu posto de gasolina. Pode esclarecer isso?

Quando fizeram essa denúncia peguei todas as notas, documentos e entreguei para o conselho deliberati­vo. Disse que se tivesse algo errado, eles tinham a obrigação de me expulsar. O São Paulo tinha nove carros e gastava, por ano, R$ 70 mil. Um belo dia um diretor-administra­tivo disse que estava com problema no posto onde abastecia os carros do clube. Eu não quis [abastecer no meu posto], mas ele insistiu. Com 11 carros gastou R$ 40 mil no ano seguinte. Então, tinha problema [no outro posto].

Há planos para diversific­ar a diretoria dando, por exemplo, mais espaço às mulheres?

Sempre escutei muito a parte social e via a dificuldad­es delas. O nosso resgate tricolor terá no mínimo de 15 a 20 mulheres como candidatas ao conselho. Uma delas será a Angelina, a mulher do Juvenal Juvêncio. Uma das mais ativas do São Paulo. Vamos, sim, colocar mais mulheres na diretoria, na parte social, de relacionam­entos.

O sr. já foi contra formar equipes profission­ais de outras modalidade­s. O clube tem times de vôlei (em parceria com a prefeitura de Barueri), basquete e futebol feminino. Vai manter esses projetos?

No conselho de administra­ção eu votei contra o basquete, porque não existia patrocínio. Como o São Paulo hoje tem o basquete, minha gestão focará em buscar o patrocínio. Vamos investir em outras modalidade­s, mas com responsabi­lidade.

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