‘O problema é que o São Paulo deixou de seguir a sua história de vanguarda’
Por que o sr. será um bom presidente?
Estou desde 2001 trabalhando no São Paulo, passei por todas as áreas e sei as necessidades do clube. Vamos trabalhar em conjunto, uma administração com várias cabeças onde eu dou a palavra final. O problema é que o São Paulo deixou de seguir a sua história de vanguarda. As pessoas que hoje estão à frente [do clube], ao invés de trabalhar para o São Paulo, trabalham para elas.
O sr. foi eleito vice-presidente junto com Leco. Quando houve a ruptura?
Logo no início do mandato. No primeiro momento, ele convidou dois conselheiros para serem diretores executivos. Até aí não vi problema. De repente, começou a convidar mais. Também a partir do momento que começou a fazer contratação sem critério, como com o Maicosuel [em junho de 2017]. Eu disse que bastava ver na internet o quanto o jogador se machucava, e ele respondeu: “eu quero”. Então, vi que não era uma gestão profissional.
Marco Aurélio Cunha deverá assumir o departamento de futebol na sua gestão? Com isso, qual o futuro de Lugano e Raí?
Fiz o convite para o Marco Aurélio, sim. É um grande profissional, tem conhecimento do futebol e há anos faz esse papel. Com relação a Lugano e Raí, precisa ver se tiveram voz ativa ou o presidente passou por cima.
O que acha do trabalho do Fernando Diniz?
Está indo bem, precisa dar oportunidade. O São Paulo mudou muito, foram inúmeros técnicos nos últimos nove anos. O clube precisa voltar à sua história e dar tempo ao treinador.
Um dos pilares da sua campanha é a profissionalização do clube. Vinicius Pinotti, um de seus apoiadores, já emprestou dinheiro ao clube para comprar o Centurión. O seu discurso não entra em conflito com essa prática?
Não concordo que alguém empreste dinheiro [para o clube contratar]. Na minha gestão isso jamais será feito. Terei critério junto com o diretor de futebol para contratar.
Aidar e Leco são os piores presidentes na história do clube?
Sem dúvida nenhuma, são os dois piores. Um por não conseguir terminar a gestão, e o outro por aumentar a dívida em um patamar muito grande. O São Paulo, do passado, tinha credibilidade e conseguia recursos. Com administração muito ruim, quem vai querer patrocinar o São Paulo?
Em meio aos R$ 540 milhões de dívidas do São Paulo, R $300 milhões são de curto prazo. Como sanar este passivo?
Vamos ter diretor-financeiro profissional, do mercado. Abaixo dele existirá o comitê de crise para analisar todas as dívidas. O São Paulo sempre pagou suas contas e vai continuar. O problema neste momento é que não temos os números [valor das dívidas], teremos só em janeiro.
O clube passou a contar com a venda de atletas revelados em Cotia para equilibrar as contas. O torcedor verá esses jovens atuando mais pelo São Paulo?
O objetivo da minha gestão é utilizar a garotada. Vai sair quando estiver valorizado. Vamos colocá-los para jogar com dois ou três jogadores de renome, que vão dar força e tranquilidade para essa juventude.
O senhor se diz oposição. O seu adversário Julio Casares diz não ser situação nem oposição.
O Casares é situação. É só você ver as atitudes dele no Conselho de Administração, no Conselho Deliberativo, aprovando tudo o que o Leco colocou. Os diretores dele [Leco] estão com o Casares. Quem está do nosso lado? Fernando Casal de Rey, José Douglas Dallora, Paulo Amaral, todos foram oposição. O Casares deve ter coerência e assumir sua posição.
Como modernizar o Morumbi e trazer mais receita por meio dele?
O Morumbi, se eu for o presidente, receberá shows novamente, é um estádio bonito e não é obsoleto. Pelo contrário, tem rampas e espaços generosos. Nenhuma das arenas será concorrente, vamos transformar nossos estádios em multiuso.
Há duas semanas, a Polícia Civil apreendeu no Morumbi um computador da vicepresidência
do clube para perícia no caso que investiga chantagens a dirigentes e conselheiros. O sr. usava esse computador?
Sou uma grande vítima, assim como o São Paulo. Eu não tenho sala lá [no Morumbi] há mais de ano. É uma tentativa de denegrir a minha imagem. Estive há 20 dias no Deic [Delegacia Estadual de Investigação Criminal] depondo, e o delegado perguntou se eu me opunha a levar o meu computador pessoal. Levei com o maior prazer, porque tenho interesse de identificar quem fez isso comigo.
Opositores também criticam o sr. pela relação comercial do São Paulo com o seu posto de gasolina. Pode esclarecer isso?
Quando fizeram essa denúncia peguei todas as notas, documentos e entreguei para o conselho deliberativo. Disse que se tivesse algo errado, eles tinham a obrigação de me expulsar. O São Paulo tinha nove carros e gastava, por ano, R$ 70 mil. Um belo dia um diretor-administrativo disse que estava com problema no posto onde abastecia os carros do clube. Eu não quis [abastecer no meu posto], mas ele insistiu. Com 11 carros gastou R$ 40 mil no ano seguinte. Então, tinha problema [no outro posto].
Há planos para diversificar a diretoria dando, por exemplo, mais espaço às mulheres?
Sempre escutei muito a parte social e via a dificuldades delas. O nosso resgate tricolor terá no mínimo de 15 a 20 mulheres como candidatas ao conselho. Uma delas será a Angelina, a mulher do Juvenal Juvêncio. Uma das mais ativas do São Paulo. Vamos, sim, colocar mais mulheres na diretoria, na parte social, de relacionamentos.
O sr. já foi contra formar equipes profissionais de outras modalidades. O clube tem times de vôlei (em parceria com a prefeitura de Barueri), basquete e futebol feminino. Vai manter esses projetos?
No conselho de administração eu votei contra o basquete, porque não existia patrocínio. Como o São Paulo hoje tem o basquete, minha gestão focará em buscar o patrocínio. Vamos investir em outras modalidades, mas com responsabilidade.