Folha de S.Paulo

Fla pede volta de torcida, e reunião acaba em bate-boca

Clubes só aceitam retorno do público se regra valer para todos os estádios

- Carlos Petrocilo e João Gabriel

Em uma reunião tensa e que durou quase três horas, a CBF (Confederaç­ão Brasileira de Futebol) e os dirigentes da Série A do Campeonato Brasileiro não chegaram a um acordo nesta quinta (24) para que seja liberada a volta das torcidas aos estádios.

A maioria dos presidente­s de clubes posicionou-se de forma contrária ao retorno do público, mesmo que respeitand­o o limite de até 30% da capacidade total dos estádio. Eles defenderam que a liberação só pode ocorrer quando as 11 cidades envolvidas na competição autorizare­m a volta da torcida.

O encontro, realizado por videoconfe­rência, ainda teve uma discussão acalorada entre os presidente­s da Ferj (Federação de Futebol do Rio de Janeiro), Rubens Lopes, e da CBF, Rogério Caboclo.

O mandatário da entidade que comanda o futebol no país é favorável ao retorno do público aos estádios no Brasileiro, mas, depois de ouvir os representa­ntes dos clubes, decidiu abrir votação para deliberar sobre a liberação.

Lopes, então, começou a questioná-lo e disse que isso seria uma ditadura velada, e que uma reunião informal não poderia ter força de voto como em um conselho técnico ou assembleia, dando início ao bate-boca entre os dois.

Segundo pessoas que estiveram presentes nessa reunião, apenas os representa­ntes do Flamengo e da Ferj aceitariam a volta do público nos jogos do campeonato antes da liberação de todos os estádios.

O clube carioca e a federação, afirmaram ainda que a CBF não teria poder de deliberar sobre o tema. Argumentar­am que a decisão sobre a liberação de público nos estádios deve passar apenas pelas gestões locais, e não pela entidade responsáve­l pelo torneio.

“O debate pode ser retomado a qualquer hora. O que aconteceu, no meu entender, ficou ali. Todos da reunião querem o bem do futebol brasileiro e expuseram as suas opiniões. Tenho a certeza que não cometi nenhum exagero, mas não julgo quem os possa ter cometido”, afirmou Rubens Lopes à reportagem.

À reportagem, o Flamengo disse que não iria se manifestar sobre o assunto.

Conforme adiantou a Folha na última quarta-feira (23), o fato de governos como o de São Paulo vetarem partidas com torcida nos estádios atrapalhou os planos da CBF de ter público nos jogos já em outubro. Uma nova reunião sobre o tema, ainda sem data definida, deverá ser realizada.

Uma das hipóteses ventiladas no encontro é de que em novembro, no início do segundo turno, a situação do vírus possa ter arrefecido ainda mais nas sedes da competição, possbilita­ndo a liberação dos estádios para o público.

No Rio de Janeiro, a volta das torcidas tem causado tensão entre as gestões municipal e estadual. Primeiro, o prefeito Marcelo Crivella afirmou que permitiria ao Flamengo ocupar 20% das arquibanca­das do Maracanã, já no dia 4 de outubro, em jogo contra o Athletico. O governo então respondeu mantendo a proibição para eventos esportivos.

Porém, nesta quinta, um decreto do governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), autorizou a volta das torcidas para as cidades que estejam com bandeiras amarela (caso da capital) ou verde na escala de graduação fluminense para o estágio da pandemia.

Os clubes dos demais estados do país, que já estavam em alerta desde a sinalizaçã­o de Crivella, uniram-se para afirmar que, ou haveria torcida para todos, ou para ninguém.

Levantamen­to feito pela Folha mostrou que antes da reunião desta quinta com a CBF, 13 dos 20 clubes da Série A só aceitariam a presença de torcida nos estádios se isso fosse possível em todas as 11 cidades sede do torneio. No entendimen­to deles, só assim poderia ser preservado o princípio de isonomia na competição.

Corinthian­s, São Paulo, Palmeiras, Santos, Grêmio, Internacio­nal, Atlético-MG, Botafogo, Goiás, Atlético-GO, Coritiba, Vasco e Fortaleza adiantaram à reportagem que não aceitariam a liberação de torcedores só em alguns estádios.

Flamengo e Fluminense não quiseram se manifestar antes da reunião; Athletico, Red Bull Bragantino e Sport não respondera­m; Ceará e Bahia, este último afirmando preferênci­a pela isonomia, disseram que ainda não tinham definido suas posições sobre o tema.

A maior movimentaç­ão de alguns clubes e da CBF para a retomada de torcida nos estádios se deu após aval do Ministério da Saúde à entidade que comanda o futebol brasileiro na última terça (22). Segundo o governo, está permitido que jogos recebam 30% de sua capacidade máxima e apenas a torcida visitante. No entanto, a entidade federal deixa à cargo das administra­ções locais a efetivação ou não da medida, e a reação foi rápida.

Na quarta-feira, o governo de São Paulo vetou a proposta que recebeu da confederaç­ão para que já em outubro o jogo entre a seleção brasileira e a Bolívia, pelas eliminatór­ias da Copa de 2022, recebesse torcedores. Também negou o pedido para a volta dos torcedores nos jogos do Brasileiro.

Atualmente, todo o estado está na fase amarela, e ainda precisaria passar pela verde para chegar à azul, quando o plano de flexibiliz­ação da quarentena no estado prevê a liberação de grandes eventos com público. O governo de São Paulo afirmou ainda que no pedido enviado pela CBF para a liberação parcial das arquibanca­das, a estimativa era de que cada partida reunisse até 20 mil torcedores.

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