Folha de S.Paulo

‘Enola Holmes’ traz guinadas inesperada­s e trama feminista

Filme mostra a irmã de Sherlock Holmes adepta do conceito de direitos iguais

- Teté Ribeiro

***** Direção: Direção Harry Bradbeer. Elenco: Mille Bobby Brown, Sam Claflin e Henry Cavill. Disponível na Netflix.

De todas as tentativas de modernizar o eterno Sherlock Holmes, criação do escritor britânico Arthur Conan Doyle, talvez chegue agora ao streaming uma das mais ousadas.

Baseada nos livros da americana Nancy Springer, o filme da Netflix tem o nome da personagem principal, “Enola Holmes”, a irmã mais nova do famoso detetive, que também tem instintos aguçadíssi­mos.

A atriz britânica Millie Bobby Brown, a Eleven de “Stranger Things”, interpreta a esperta protagonis­ta. A trama se adequa perfeitame­nte à tela e dá sinais de que pode ser o pontapé inicial de uma nova franquia para o streaming.

Dirigido por Harry Bradbeer (vencedor de dois prêmios Emmy por “Fleabag”), “Enola Holmes” começa atirando montes de informaçõe­s ao telespecta­dor, em ritmo acelerado. Aprendemos que ela é a caçula da família Holmes, seu pai morreu há muito tempo e os dois irmãos muito mais velhos não a conhecem direito.

A menina passou a vida ao lado da mãe, papel de Helena Bonham Carter, que idolatra. Ela é obcecada por jogos de palavras e passou essa paixão para a filha. Foi também a inventora do nome da garota, Enola, que é “alone”, ou sozinha em inglês, ao contrário.

O roteiro é cheio de reviravolt­as, guinadas inesperada­s e alguns sustos. Mesmo sendo feito tendo o público jovem como alvo, o longa (e bota longa nisso, tem mais de duas horas) é atraente para qualquer espectador. É também adequado para os tempos atuais.

Enola conta que passou a infância fazendo “coisas diferentes” com sua mãe, como ler todos os livros da vasta biblioteca da família ou praticar esportes violentos ao redor da casa em que moravam.

A jovem senhorita Holmes é adepta do conceito de direitos iguais e gosta de fazer tudo do seu jeito. Mãe e filha viveram felizes por anos, isoladas do mundo e isentas de pressões sociais, mas tudo isso muda de repente —no aniversári­o de 16 anos de Enola, a mãe desaparece.

Quando sabem do sumiço, seus irmãos voltam à casa da família, Henry Cavill (o Superman de “O Homem de Aço”, de 2013) na pele de um cordial Sherlock Holmes e Sam Claflin (de “Jogos Vorazes”) como o tenso Mycroft. Os dois têm a intenção de mandar Enola para um colégio interno a fim de que ela se torne uma futura mulher ideal. Mas, convencida que sua mãe deixou pistas sobre o seu paradeiro, ela zarpa para o que será sua primeira missão como detetive.

A jornada temerária de Enola a leva de Londres ao interior da Inglaterra, com várias trocas inusitadas de figurino no trajeto (ela se diverte se disfarçand­o como outras pessoas) e muita ação. As artes marciais que ela praticava com a mãe acabam se provando úteis em muitas das situações.

Num momento, um encontro com um jovem lorde, vivido por Louis Partridge, introduz outro mistério para a menina desvendar, complicand­o ainda mais o seu percurso.

Seus irmãos estão no seu encalço enquanto Enola tenta seguir seu itinerário. Alusões a um enigma ainda mais cabel udo despontam, e afazem perceber que muitas pessoas não querem mudanças no mundo. Não é por acaso que tudo isso é desvendado por uma garota —“Enola Holmes” não usa sua heroína apenas par afazer uma cenoà evolução dos costumes, o seu enredo é totalmente feminista.

Mesmo com algumas passagens um pouco descuidada­s no meio da obra, “Enola Holmes” e sua cativante heroína entregam uma conclusão surpreende­nte, que abre caminho para futuras aventuras. Na viagem, exibe a personagem e seu mundo em transforma­ção na forma de entretenim­ento agradável e instrutivo, uma espiada em pessoas e lugares prestes a se tornarem mais evoluídos.

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