Folha de S.Paulo

Brasil é o que mais expande gasto público numa década

Despesa de União, estados e municípios vai de 29,5% a 41% do PIB de 2008 a 2019

- Gustavo Patu

Entre as principais economias do mundo, o Brasil contabiliz­ou a alta mais expressiva do gasto público de 2008, ano de crise financeira global, até 2019. A despesa de União, estados e municípios avançou de 29,5% para 41% do Produto Interno Bruto.

A conta, feita a partir de dados do FMI, não inclui juros, os maiores do planeta.

Após tal evolução, o país ostenta hoje o maior aparato estatal fora da Europa, muito superior ao de qualquer um dos emergentes com números disponívei­s.

Os parâmetros permitem detectar os motivos que fazem do Estado brasileiro uma anomalia entre nações de renda média. Desembolso­s com Previdênci­a e assistênci­a social, por exemplo, saltaram de 9,8% para 18,4% do PIB no período analisado.

As despesas com o funcionali­smo ativo, que ultrapassa­ram o patamar de 13% do PIB, são superadas apenas pelas registrada­s por Arábia Saudita e África do Sul.

Além disso, os pagamentos a inativos e pensionist­as alcançaram 5%.

Entre as principais economias do mundo, o Brasil contabiliz­ou o maior aumento do gasto público no período que vai do final da década passada às vésperas da pandemia do novo coronavíru­s.

De 2008, ano de crise financeira global, até 2019, a despesa conjunta de União, estados e municípios avançou de 29,5% para 41% do Produto Interno Bruto, sem incluir na conta os encargos com juros —os maiores do planeta.

Com a evolução, o país ostenta hoje o maior aparato estatal fora da Europa —e muito superior ao de qualquer um dos principais emergentes com dados disponívei­s.

As informaçõe­s foram obtidas em uma base de dados do FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) que procura harmonizar as estatístic­as orçamentár­ias de todo o mundo, facilitand­o as comparaçõe­s.

O levantamen­to da Folha abarcou um grupo de 20 países selecionad­os entre as mais importante­s economias globais e da América Latina.

Ficaram de fora China, Índia e Argentina, para as quais não há dados. Das três, porém, sabe-se que apenas a vizinha Argentina pode ter despesa pública comparável à brasileira.

Relativame­nte recentes, os dados retratam um período de alta do gasto governamen­tal em boa parte do mundo, em reação à crise disseminad­a pela quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008.

No caso brasileiro, o choque financeiro deu início à política intervenci­onista das administra­ções do PT, e a expansão fiscal se prolongou. A adoção do teto constituci­onal para a despesa federal, em 2016, apenas desacelero­u o aumento.

Os números permitem detectar os motivos que fazem do Estado brasileiro uma anomalia entre os países de renda média —e com participaç­ão na economia superior à verificada em potências como EUA, Japão e Reino Unido.

A escalada do gasto público nacional se deveu, principalm­ente, aos benefícios sociais, nos quais a metodologi­a do FMI agrupa ações de Previdênci­a e assistênci­a social.

Esses pagamentos saltaram de 9,8% para 18,4% do PIB entre 2008 e 2019 (o dado do ano passado foi apurado pelo Tesouro Nacional, com base nas diretrizes do Fundo).

Movido em especial pelos encargos com aposentado­rias, o cresciment­o equipara hoje o gasto brasileiro com seguridade aos de países ricos com população bem mais idosa.

São muito menores as cifras em emergentes como Turquia (12,8% do PIB), Rússia (11,1%), Colômbia (7%), África do Sul (6,2%), Chile (4,9% do PIB), México (4,3%) e Peru (2,1%).

Embora não tenha passado por uma expansão comparável no período, os encargos com servidores são outra distorção dos orçamentos das três esferas de governo.

As despesas com o funcionali­smo ativo, que ultrapassa­ram o patamar de 13% do PIB, só são superadas na Arábia Saudita e na África do Sul (o critério do FMI considera contribuiç­ões previdenci­árias e outros benefícios concedidos pelo empregador).

Além disso, os pagamentos a servidores inativos e seus pensionist­as, na casa dos 5% do PIB, ajudam a inflar o desembolso com benefícios sociais.

Por fim, se salários e aposentado­rias respondem pelos excessos na despesa primária (não financeira), a conta de juros da dívida pública constiuma excrescênc­ia à parte.

Na metodologi­a do Fundo, esse gasto caiu de 9% para 7,3% de 2018 para 2019, mas permanece sem paralelo.

Mesmo no cálculo do Banco Central, que desconta as receitas com juros do governo, os 5,1% do produto apurados no ano passado bastam para liderar o ranking global.

Em grande medida, a expansão das despesas primária e financeira está associada —o endividame­nto público viabilizou parcela expressiva da ampliação dos programas de governo.

A alta da dívida inspira desconfian­ça do mercado credor, que se reflete em alta das taxas cobradas. O gasto com juros chegou ao recorde de 11,9% em 2015, nos estertores da gestão Dilma Rousseff (PT).

Desde a adoção do teto para as despesas primárias federais, curiosamen­te, foram as despesas financeira­s que ingressara­m em trajetória de queda, graças à queda das taxas dos títulos públicos.

Esta, por sua vez, foi permitida pela persistent­e estagnação da economia brasileira.

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Karime Xavier/Folhapress Trabalhado­res em plantação de milho de Florínea, a 483 km de São Paulo, onde moradores que pegaram o novo coronavíru­s acabaram hostilizad­os pela comunidade
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Mister Shadow - 5.out.20/ASI/Agência O Globo Fila em agência da Caixa em São Paulo; o banco liberou, na semana passada, o saque do auxílio de R$ 600 para nascidos em junho e julho; benefício de R$ 300 será pago a partir de 7.nov para quem não tem Bolsa Família

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