Barroso afasta senador pego com dinheiro dentro da cueca
Bolsonaro busca se dissociar de Chico Rodrigues, mas diz que ex-vice-líder do governo tinha prestígio
Flagrado com dinheiro na cueca em operação contra desvio de recursos de combate à Covid-19, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) foi afastado do cargo pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF, e levou constrangimento ao presidente Jair Bolsonaro devido à sua proximidade com o Planalto. Vice-líder do governo, Rodrigues deixou o posto após ser alvo da Polícia Federal.
Em Roraima, na quarta (14), agentes o flagraram com R$ 33.150 escondidos na cueca, sendo R$ 15 mil em maços entre as nádegas.
Bolsonaro procurou se desvincular do senador que um dia descreveu como “quase uma união estável”. Disse que Rodrigues “gozava do prestígio, do carinho de quase todos”, mas que o episódio não tem a ver com suspeitas no governo.
Após a ação policial, Barroso determinou o afastamento de Rodrigues por 90 dias e enviou o caso para deliberação do Senado, a quem cabe manter ou reverter a decisão. Recusou sua prisão.
O senador afirmou que a verdade “virá à tona” e fez elogios a Bolsonaro.
Flagrado com dinheiro na cueca em operação contra desvio de recursos de combate à Covid-19, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) foi afastado do cargo pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), e levou constrangimento ao presidente Jair Bolsonaro devido à sua proximidade com o Planalto.
Vice-líder do governo no Senado, Rodrigues deixou o posto após ser alvo da operação da Polícia Federal em Roraima na quarta-feira (14), quando agentes o flagraram com R$ 33.150 escondidos na cueca, dos quais R$ 15 mil em maços de dinheiro entre as nádegas.
Bolsonaro tentou se desvincular do aliado dizendo que a investigação “foi um exemplo típico” de que “não tem corrupção no meu governo” e que sua gestão “combate a corrução, seja [contra] quem for”.
Na sua live semanal, disse que Rodrigues é “uma pessoa que gozava do prestígio, do carinho de quase todos”, mas que o caso não tem a ver com suspeitas no governo. “Quando eu falo que não tem corrupção no governo, repito, não tem. O que é o governo? São os ministros”, afirmou.
Bolsonaro disse também que “alguns querem dizer que o caso de Roraima tem a ver com meu governo porque ele é meu vice-líder”.
“Nunca vi ninguém falar nada contra ele. Aconteceu este caso? Lamento. Hoje ele foi afastado da vice-liderança. Agora, querer vincular o fato de ele ser vice-líder à corrupção do governo não tem nada a ver”, afirmou o presidente da República
Após a ação policial, Barroso, do STF, determinou o afastamento de Rodrigues por 90 dias e enviou o caso ao Senado, a quem cabe manter ou reverter a decisão.
O ministro apontou a “gravidade concreta” do caso, que, segundo ele, exige o afastamento do parlamentar com o objetivo de evitar que Rodrigues use o cargo para dificultar as investigações.
O senador afirmou que a verdade “virá à tona” e fez elogios a Bolsonaro.
Rodrigues se alinhou ao Planalto mesmo antes da aproximação de Bolsonaro com o centrão e, escolhido vice-líder do governo, já recebeu elogios públicos do atual presidente.
Ao se referir aos anos de convivência com ele no Congresso, Bolsonaro já chamou sua relação com Rodrigues de “quase uma união estável” e apresentá-lo como “velho colega da Câmara”.
Em abril de 2019, o senador contratou em seu gabinete Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Leo Índio, que é primo dos filhos do presidente e pessoa de confiança do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Na tarde desta quinta (15), a assessoria de Rodrigues disse que Leo pediu demissão —como assessor parlamentar, ele recebia R$ 26,9 mil por mês.
A PF propôs a prisão preventiva de Rodrigues, negada por Barroso. Ele determinou que o senador fique proibido de contato pessoal, telefônico, telemático ou de outra natureza com os demais investigados no inquérito.
“A gravidade concreta dos delitos investigados também indica a necessidade de garantia da ordem pública: o senador estaria se valendo de sua função parlamentar para desviar dinheiro destinado ao enfrentamento da maior pandemia dos últimos 100 anos, num momento de severa escassez de recursos públicos e em que o país já conta com mais de 150 mil mortos em decorrência da doença”, afirmou Barroso.
“Ao tentar esconder os maços de dinheiro, evitando sua localização e apreensão pelas autoridades policiais, o senador buscou frustrar a coleta de evidências imprescindíveis para a continuidade da investigação”, disse.
A PF informou a Barroso que deixou de reproduzir no relatório imagens de trechos da gravação da busca pessoal efetuada no parlamentar. “Considerando a forma como os valores foram escondidos pelo senador Chico Rodrigues bem no interior de suas vestes íntimas, deixo de reproduzir tais imagens neste relatório para não gerar maiores constrangimentos.”
Segundo o ministro do STF, o delegado “percebeu que havia um grande volume, em formato retangular, na parte traseira das vestes do senador Chico Rodrigues, que utilizava um short azul (tipo pijama) e uma camisa amarela”.
Ele suspeitou “estar o senador escondendo valores ou mesmo algum aparelho celular”. Questionado, Rodrigues “ficou bastante assustado e disse que não havia nada”.
Narra a decisão do ministro que, “num primeiro momento”, foi encontrado “no interior de sua cueca, próximo às suas nádegas”, maços de dinheiro que totalizaram R$ 15 mil. Depois, questionado pela terceira vez, “com bastante raiva” o senador “enfiou a mão em sua cueca e sacou outros maços de dinheiro”.
Segundo os investigadores, Rodrigues seguiu escondendo valores, e nova busca achou mais cédulas. De acordo com o relato da PF, ele chegou a tirar parcialmente a roupa, deixando à mostra e visíveis partes íntimas do seu corpo.
Deflagrada pela PF e pela Controladoria Geral da União, a Operação Desvid-19 coletava informações sobre o desvio de recursos públicos de emendas parlamentares para o combate à Covid-19 —recursos administrados pela Secretaria de Saúde de Roraima.
Rodrigues é um dos principais aliados de Bolsonaro no Legislativo e membro da tropa de choque do Planalto.
Desde a noite de quarta, aliados do presidente passaram a disparar mensagens a Rodrigues sugerindo que ele saísse da vice-liderança o quanto antes.
O coro foi engrossado pelo vice-presidente Hamilton Mourão. “Eu acho que seria bom ele voluntariamente [sair], até para ele poder se defender das acusações que tem de forma mais livre”, declarou na manhã desta quinta.
Desde a manhã desta quinta, Bolsonaro buscou se distanciar de Rodrigues e defender o trabalho dos policiais. À noite, a live foi uma continuação desse discurso.
“O que dói é você trabalhar que nem um desgraçado e uns idiotas aí te acusarem de corrupção”, disse o presidente, antes de reiterar que seu governo “está indo bem” e que, nele, “não tem corrupção”.
O episódio aconteceu uma semana após Bolsonaro dizer que acabou com a Lava Jato por não haver corrupção em sua administração. Na quarta, horas antes da divulgação do episódio do dinheiro oculto de Rodrigues, o presidente havia dito que daria “uma voadora no pescoço” de quem praticasse corrupção em seu governo.
Caso o afastamento seja aprovado em plenário do Senado, Rodrigues será substituído pelo primeiro suplente, Pedro Rodrigues (DEM-RR), que é seu filho.
Representantes dos partidos Rede e Cidadania no Senado disseram que vão ingressar com uma representação por quebra de decoro parlamentar.
“Quando falo que não tem corrupção no governo, repito, não tem. O que é o governo? São os ministros
Aconteceu este caso? Lamento. Agora, querer vincular o fato de ele ser vice-líder à corrupção do governo não tem nada a ver Jair Bolsonaro
A PF encontrou indícios de que Rodrigues teria participado de um esquema criminoso responsável por desviar valores destinados à saúde em Roraima para tratamento de pacientes com Covid-19.
A suspeita decorreu de investigação da PF em contratos relacionados à pandemia. Eles envolveriam a destinação de emendas parlamentares para empresas indicadas por congressistas.
As contratações teriam sido fraudadas, com indevida dispensa de licitação, direcionamento, “além de potencial desvio dos recursos públicos”.
Rodrigues integra a comissão do Senado responsável pela execução orçamentária e financeira das medidas relacionadas à Covid-19.
Segundo a PF, o esquema de Rodrigues seria com a empresa Quantum Empreendimentos em Saúde. Ela forneceu kits de testes rápidos da Covid-19 em Roraima e recebeu R$ 3,2 milhões de recursos públicos.
A investigação mostrou que relatórios da ControladoriaGeral da União apontaram sobrepreço de R$ 956, mil no contrato, considerando os preços médios praticados no Amazonas, na Paraíba e em Mato Grosso.
Mensagens entregues à polícia por um ex-funcionário da Secretaria de Saúde de Roraima mostram diálogos dele com o senador tratando do esquema.
Em uma das conversas, o senador tranquilizava o homem sobre sua permanência na pasta. Após ele dizer que precisaria de ajuda para manter sua função no órgão estadual, lembrando-lhe que trabalha “somente com suas emendas”, Rodrigues teria respondido que não haveria chances de ele sair do cargo.
“As mensagens e as exonerações sugerem forte influência do senador Chico Rodrigues na Secretaria de Saúde do estado de Roraima, diz o documento da polícia.