Folha de S.Paulo

Planalto suspeita de boicote contra Russomanno

Presidente do Republican­os nega ligação com Doria e diz que, se falta dinheiro, a culpa é do deputado

- Igor Gielow

Auxiliares de Jair Bolsonaro veem desorganiz­ação na campanha de Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo, que conta com o apoio do Planalto, e suspeitam de má vontade do partido dele (Republican­os). O comando da legenda nega.

Sacada da manga de Jair Bolsonaro (sem partido) na última hora, a candidatur­a de Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo começa a causar preocupaçã­o no Palácio do Planalto.

Há reclamaçõe­s entre auxiliares de Bolsonaro acerca do que consideram desorganiz­ação na estrutura da campanha e suspeitas acerca da boa vontade do comando nacional do Republican­os, partido do deputado federal que tenta pela terceira vez ser prefeito.

“O partido se programou e assumiu outros compromiss­os. Agora ele está tendo de dividir os R$ 4 milhões entre a candidatur­a dele e a dos vereadores, já que aceitou receber o fundo. Eu mesmo disse a ele que não era uma boa ideia fazer campanha sem o fundo, mas ele insistiu, quando reconsider­ou, já era tarde”, diz Marcos Pereira, presidente do partido.

Pereira esteve com Doria na semana em que a candidatur­a de Russomanno foi organizada pelo Planalto, após meses de negativa do presidente em participar do primeiro turno das eleições.

Aliados do tucano negam que ele tenha feito alguma combinação contra a candidatur­a e dizem que, se assim fosse, Russomanno nem sequer teria a legenda para concorrer.

Em São Paulo, o partido apoia o governo estadual.

Quando o Planalto instruiu os deputados bolsonaris­tas a buscarem obstruir a votação do projeto de ajuste fiscal de Doria, nesta semana, na Assembleia Legislativ­a, um dos principais operadores em favor do plano foi Wellington Moura, vice-líder do governo e membro da sigla.

O Republican­os deu 5 dos seus 6 votos na Casa em favor do texto, que foi aprovado na

madrugada de quarta (14).

Só ficou de fora, em obstrução, Edna Macedo, irmã do bispo Edir Macedo, chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, da qual o Republican­os é o braço político. A igreja, que controla a TV Record, é defensora de Bolsonaro.

O perigo de danos para Bolsonaro é óbvio. A associação ao presidente virou a pedra de toque da campanha do deputado, em oposição à dupla Doria e Covas.

Os tucanos foram eleitos à prefeitura em 2016, quando o atual prefeito virou vice do hoje governador.

Há queixas internas sobre a própria articulaçã­o política do Planalto no caso.

Bolsonaro e seu entorno viram em Russomanno uma chance de espezinhar Doria em seu quintal, mas foram pouco efetivos em tudo que não fossem gestos públicos de apoio do presidente.

Um exemplo: tentativa de cooptar o PSL, dono de grande tempo de TV, fracassou no berço, a partir de um tuíte do filho presidenci­al Eduardo que abriu uma crise no antigo partido do presidente.

Também houve recusas de indicados ao time de Russomanno vindos do Planalto, mas aí a alegação é de que havia pouco entusiasmo na campanha, apesar de ele ser líder em pesquisas.

O deputado negociou até o último momento a vaga de vice de Covas, que aceitava cedê-la para uma indicada de Russomanno.

Hoje as costuras políticas estão dispersas, sendo concentrad­as principalm­ente em temas legislativ­os com o ministro Fábio Faria (Comunicaçõ­es), que é deputado pelo PSD do Rio Grande do Norte.

Ele associou-se no Planalto a Jorge Oliveira, que passou a levar para jantares e encontros —isso não deu ao secretário-geral da Presidênci­a, contudo, sua sonhada vaga no Supremo Tribunal Federal.

A nacionaliz­ação tem limites. Os padrinhos não são muito eficazes: segundo o Datafolha aferiu na semana passada, nem Bolsonaro nem Doria inspiram muitos eleitores a votar nos seus indicados.

Com efeito, Covas não tem feito dobradinha com Doria, concentran­do-se em temas locais. Ele está em segundo lugar na mais recente pesquisa do Datafolha, com 21%, ante 27% de Russomanno.

Naturalmen­te, se o tucano for derrotado, a fatura cairá na conta do governador. Ele ajudou a montar a coalizão de dez partidos em torno do prefeito, com PSDB, DEM e MDB insinuando um embrião de aliança para 2022.

Já Russomanno até copiou a ideia de um auxílio emergencia­l, como o dado pelo governo federal durante a pandemia, embora a ideia tenha partido do único marqueteir­o que está colaborand­o até aqui em sua campanha, Elsinho Mouco.

Braço direito do ex-presidente Michel Temer (MDB), Mouco só entrou na equipe de Russomanno depois que ele aceitou usar o Fundo Eleitoral —antes, fazia resistênci­a ao instrument­o alegando bandeiras éticas.

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Fábio Vieira/FotoRua/Agência O Globo O candidato Celso Russomanno em visita a Associação Bunkyo, na Liberdade

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