Folha de S.Paulo

Esposa do vice de Covas o acusou de agressão e ameaça

Vereador Ricardo Nunes nega agressão e diz que registro policial foi feito em período em que mulher estava abalada

- Artur Rodrigues, Rogério Pagnan e Thiago Amâncio

Candidato a vice-prefeito na chapa de Bruno Covas (PSDB), o vereador Ricardo Nunes (MDB) foi acusado em 2011 de violência doméstica, ameaça e injúria pela esposa, Regina Carnovale, com quem continua casado. Nunes e ela negam as agressões.

Candidato a viceprefei­to na chapa de Bruno Covas (PSDB), o vereador Ricardo Nunes (MDB) foi acusado em 2011 de violência doméstica, ameaça e injúria pela esposa, com quem continua casado até hoje.

Regina Carnovale registrou um boletim de ocorrência contra o vereador em 18 de fevereiro de 2011, na 6ª Delegacia da Mulher, em Santo Amaro (zona sul da cidade).

O documento policial obtido pela Folha traz o relato de Regina. À época, ela disse aos policiais que havia vivido em união estável por 12 anos com o vice de Covas e que eles haviam se separado sete meses antes do registro “devido ao ciúmes excessivo” de Nunes.

“Inconforma­do com a separação, [Ricardo Nunes] não lhe dá paz, vem efetuando ligações proferindo ameaças, envia mensagens ameaçadora­s todos os dias e vai em sua casa, onde faz escândalos e a ofende com palavrões. Afirma a vítima que diante da conduta de Ricardo está com medo dele”, diz um dos trechos do boletim de ocorrência, assinado por Regina.

A reportagem também teve acesso a registros de publicaçõe­s nas contas de Regina em redes sociais feitas há cerca de cinco anos.

Os posts em seu nome relatam brigas por pensão alimentíci­a, chamam o vice de Covas de bandido e dizem que tem provas de que sofreu agressões —Regina afirma que a conta foi hackeada.

“Como um político pode ser bom para o povo se ele não consegue ser bom nem pra ex-mulher e filha no [casamento no] qual viveu por 17 anos, é exatamente isso, um lobo fingindo ser um cordeiro”, diz uma das publicaçõe­s.

“Acabei de receber voz de prisão do vereador Ricardo Nunes tudo porque fui cobrar a pensão da minha filha que tive com ele, que é de direito dela (...) um Bandido que não ajuda a própria filha enquanto banca tudo quanto é festa e finge ser um homem bom; esse é o politico que está no poder, nem a própria filha ajuda”, diz um outro post em rede social de Regina.

Nos comentário­s, o perfil de Regina responde a uma pessoa que pede para ela ter cuidado. “Amiga tenho provas de que ele sempre me bateu e sempre foi um crápula.”

Menos de mês após o registro policial, em 14 de março de 2011, foi o vereador que registrou queixa contra Regina. O boletim por lesão corporal afirma que na ocasião “em conversa referente à pensão, veio a autora [Regina] por agredir a vítima [Ricardo]”.

Nunes e Regina reataram o relacionam­ento. Hoje Regina usa Nunes em seu nome, publica fotos em família, com a filha, elogia o político e tem feito campanha ativamente nas redes sociais.

Em setembro passado, Regina fez uma postagem citando os 22 anos de relacionam­ento. “Venho hoje parabeniza­r o exemplo de pai, marido e homem que é você @vereador_ricardo_nunes parabéns nessa nova jornada, saiba que sempre estarei ao seu lado para o que der e vier.”

Consultas ao sistema do Tribunal de Justiça de São Paulo mostram que nenhuma das duas denúncias avançou e virou processo na Justiça.

Nunes é católico e membro da bancada religiosa da Câmara, com forte atuação contra a “ideologia de gênero”, como conservado­res costumam se referir a menções à diversidad­e sexual. “Eu sou pela sua família, gênero, não” , gritou em um carro de som.

A vaga de vice de Bruno Covas sempre foi uma escolha delicada, já que o prefeito tem um câncer no aparelho digestivo, embora venha reagindo bem ao tratamento.

Nunes venceu o páreo para a disputa, que chegou a ter entre os cotados a ex-prefeita Marta Suplicy e o atual líder nas pesquisas, Celso Russomanno (Republican­os).

Entre aliados de Covas, há o entendimen­to de que a escolha por Nunes se deu por pressão de Doria. O próprio prefeito estava inclinado a convidar seu secretário Ricardo Trípoli (PSDB), mas cedeu para evitar desgastes.

A campanha de Covas pensou em vender Nunes como vereador que comprou briga com banqueiros e obteve verba para a cidade —Nunes foi presidente de uma CPI sobre sonegação fiscal que recuperou mais de R$ 1 bilhão aos cofres públicos.

Como a Folha mostrou, Nunes tem forte ligação com creches e seus aliados faturam mais de R$ 1,4 milhão com aluguéis de unidades de uma das entidades próximas a ele.

Ao menos sete prédios de equipament­os de educação e assistênci­a foram alugados por empresas de servidores ou ex-servidores do núcleo duro de apoio político de Nunes, de acordo com dados de cadastro do IPTU e outros documentos.

A Folha encontrou aliados políticos dele em duas pontas: tanto gerindo entidades que mantêm creches parceiras da Prefeitura de São Paulo quanto locando imóveis para elas. A dona de uma das entidades se referiu ao vereador como “meu chefe”.

Vereador nega agressão, e mulher acusa hacker OUTRO LADO

Em nota enviada à reportagem, o vereador nega ter agredido a esposa e diz que o boletim de ocorrência foi feito em um período em que Regina estava abalada e falou coisas que não acontecera­m.

“Não fiz e jamais faria nenhum tipo de agressão contra minha esposa ou qualquer pessoa”, diz Nunes, que afirma que teve, “como qualquer casal, momentos difíceis.”

“No período ela estava emocionalm­ente abalada, e sem controle das ações e sentimento­s, o que a levou falar coisas que não acontecera­m. Ela, aqui do meu lado, diz que nunca foi agredida seja verbal ou fisicament­e por mim.”

“O momento de mágoas misturado pelo amor que temos um pelo outro acabou gerando um desentendi­mento, com ela exaltada, que me levou a fazer o BO [boletim de ocorrência].”

O vereador acrescenta que o boletim de ocorrência dependeria de uma representa­ção. Como isso não ocorreu, o caso foi arquivado.

“Eu fiz [o registro na polícia] no momento de calor numa fase muito difícil que estávamos passando, assim como muitos casais também passam. É um fato muito antigo, de 2011, mas que foi superado e que vivemos bem com muito amor e carinho. Amo a minha esposa.”

Regina também enviou uma nota à reportagem em que nega as agressões. “Sobre o boletim, eu estava em um momento difícil, muito sensível e acabei dizendo coisas que não são reais, tanto é que estamos juntos há mais de 20 anos, sendo que esse boletim foi feito em 2011, 9 anos atrás. Amo meu marido e vivemos com nossos filhos em perfeita harmonia”, diz ela.

Sobre as publicaçõe­s no perfil do Facebook, Ricardo Nunes diz que a página foi invadida por hackers em 2014 ou 2015, quando as postagens foram feitas —e apagadas logo em seguida.

“Já sobre os prints, a Regina diz que teve seu Facebook hackeado onde maldosamen­te fizeram publicaçõe­s com o intuito de afetar minha imagem. Na época, logo que percebemos, foi apagado.”

“É possível verificar a maldade e intenção de me prejudicar, pois os fatos ocorrem por meados de 2014/2015 e, mesmo após anos, a pessoa tem um print com o propósito de persistir na intenção de me difamar”, afirma. “Não foi a Regina que fez as publicaçõe­s. Foi um hacker.”

Regina também dá a mesma versão. “O Ricardo é um excelente marido e pai. Não é justo utilizarem um documento produzido de forma criminosa e que não tem nenhuma verdade.”

“Eu estava em um momento difícil, muito sensível e acabei dizendo coisas que não são reais, tanto é que estamos juntos há mais de 20 anos, sendo que esse boletim foi feito em 2011, 9 anos atrás. Amo meu marido e vivemos com nossos filhos em perfeita harmonia

Regina Nunes esposa de Ricardo Nunes, candidato a vice de Covas

 ?? Afonso Braga/Câmara Municipal de São Paulo ?? Ricardo Nunes (MDB), em sessão na Câmara
Afonso Braga/Câmara Municipal de São Paulo Ricardo Nunes (MDB), em sessão na Câmara

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil